Rússia acusa Ucrânia de ataque aéreo e prevê impacto em negociações de paz

Kiev nega ofensiva contra depósito de combustível em Belgorod

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São Paulo

A Rússia acusou a Ucrânia, nesta sexta-feira (1º), de conduzir um ataque aéreo contra um depósito de combustível em Belgorod, cidade russa próxima à fronteira, a menos de 80 quilômetros da ucraniana Kharkiv. O ataque chama atenção porque, se confirmada a autoria ucraniana, seria a primeira investida aérea a uma cidade em solo russo desde o início da guerra, que se estende há 37 dias.

A Ucrânia, no entanto, nega ter atacado a cidade russa.

Imagens divulgadas pela Rússia mostram depósito de combustível em Belgorod incendiado após suposto ataque da Ucrânia - Ministério de Emergências da Rússia - 1°.abr.22/Reuters

Moscou afirma que o ataque foi feito a partir de helicópteros ucranianos contra a cidade, que tem funcionado como um centro logístico nos esforço de guerra russos, causando um incêndio de grandes proporções, que feriu duas pessoas. Imagens do ataque, verificadas pela agência de notícias Reuters, mostram o que parecem ser mísseis sendo disparados de baixa altitude, seguidos por uma explosão.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que o incidente pode comprometer as negociações de paz. "É claro que isso [o ataque] não pode ser visto como algo que cria condições confortáveis para a continuidade das conversas", disse ele, que afirmou ainda que o país vai reforçar a segurança nas fronteiras para que "não passe pela cabeça de ninguém atacar" a Rússia.

O secretário de Segurança da Ucrânia, Oleksi Danilov, negou as acusações de envolvimento do país. "Por alguma razão eles dizem que o fizemos, mas de acordo com nossas informações, isso não corresponde à realidade", disse.​

O Ministério da Defesa, porém, não confirmou nem negou envolvimento, deixando aberta a possibilidade de autoria ucraniana. "A Ucrânia está atualmente conduzindo uma operação defensiva contra a agressão russa no território da Ucrânia, [mas] isso não significa que a Ucrânia seja responsável por todas as catástrofes no território da Rússia", disse o porta-voz do ministério, Oleksandr Motuzianik.

A acusação, que pode abrir um novo flanco no conflito, vem no mesmo dia em que a Ucrânia conseguiu recuperar territórios ao redor de Kiev, onde soldados russos têm deixado cidades destruídas e abandonado inclusive tanques de guerra.

No vilarejo de Dmitrivka, a oeste da capital, repórteres da Reuters presenciaram corpos de ao menos oito soldados russos no chão e fumaça subindo de tanques destruídos. As forças ucranianas também retomaram Butcha, disse o prefeito da cidade nesta sexta. Em Irpin, subúrbio no noroeste de Kiev que foi um dos principais campos de batalha por semanas, também está sob sólido controle ucraniano.

Os governos regionais de Kiev e Tchernihiv afirmaram que tropas russas estão se retirando de áreas nessas províncias, parte delas voltando para casa pelas fronteiras com a Belarus e a própria Rússia.

A Rússia afirma que a retirada de forças perto de Kiev é um gesto de boa vontade nas negociações de paz. A Ucrânia e seus aliados dizem que as tropas russas foram forçadas a se reagrupar depois de sofrerem fortes perdas devido à resistência ucraniana.

As negociações levaram a uma troca de prisioneiros nesta sexta-feira, disse o governo ucraniano, com a libertação de 86 soldados ucranianos. Kiev não disse quantos soldados russos foram libertados.

No sudoeste do país, defesas antiaéreas impediram uma tentativa de ataque à infraestrutura da cidade portuária de Odessa, no Mar Negro, segundo militares ucranianos —a informação não foi confirmada de forma independente.

O governador da região, Maksym Marchenko, disse que três mísseis atingiram um bairro residencial, deixando vítimas. Ele afirmou que a artilharia foi disparada de um sistema de mísseis baseado na Crimeia, península ucraniana anexada pela Rússia em 2014.

Tudo isso ocorre no mesmo dia em que presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, fez um novo alerta contra a movimentação de tropas da Rússia e avisou sobre "poderosos ataques" no sul do país, incluindo a cidade sitiada de Mariupol, onde uma nova tentativa de retirada de grande número de civis, marcada para esta sexta, foi mais uma vez frustrada.

A equipe da Cruz Vermelha que se dirigia para o local, com o objetivo de possibilitar a passagem segura das pessoas, teve de recuar para Zaporíjia porque as "condições tornaram impossível" a continuidade da missão. Mariupol foi reduzida a escombros. Segundo autoridades locais, ao menos 5.000 pessoas morreram durante as semanas de ataques russos, e as dezenas de milhares que ainda vivem na cidade sofrem com severa falta de comida, água, energia elétrica e medicamentos.

Soldados da Ucrânia cercam tanque russo incendiado nos arredores de Kiev - Ronaldo Schemidt - 31.mar.22/AFP

Do lado russo, antes do relato do ataque em Belgorod, o chanceler Serguei Lavrov reforçou o que considera um avanço nas negociações com o país vizinho. Em entrevista a jornalistas na Índia, afirmou que Moscou está preparando uma resposta às demandas apresentadas pelos negociadores ucranianos e disse que Kiev mostrou "muito mais compreensão" em relação a pontos críticos do conflito, como o status da Crimeia e do Donbass e sua possível neutralidade.

Ainda no campo diplomático, líderes da União Europeia e da China se reuniram nesta sexta para discutir os rumos da guerra. Bruxelas tenta pressionar Pequim para obter garantias de que o regime de Xi Jinping não vai fornecer armas à Rússia —país com quem a China formalizou uma "amizade sem limites".

O primeiro-ministro da China, Li Keqiang, afirmou aos europeus que o país vai trabalhar pela paz na Ucrânia, mas "à sua própria maneira". A China é aliada da Rússia e vem estreitando laços em questões como energia, comércio e segurança com Moscou.

Do outro lado, ouviu do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que "qualquer tentativa de contornar as sanções ou fornecer ajuda à Rússia prolongaria a guerra". "Pedimos à China que ajude a acabar com a guerra na Ucrânia. A China não pode fechar os olhos para a violação da lei internacional pela Rússia", disse.

Com AFP e Reuters

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