Descrição de chapéu Guerra na Ucrânia Rússia

Nova vala comum com dezenas de corpos é encontrada perto de Kiev, diz autoridade local

Local fica em Buzova, desocupada pelos russos; em Dnipro, aeroporto fica destruído após bombardeio

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Buzova e Kiev | AFP e Reuters

Uma vala comum com dezenas de corpos de civis foi encontrada no sábado (9) em Buzova, vilarejo nos arredores de Kiev desocupado recentemente por tropas russas, disse uma autoridade local.

Taras Diditch, chefe da comunidade de Dmitrivka, que inclui Buzova e outros vilarejos vizinhos a oeste da capital ucraniana, afirmou à emissora ICTV que os cadáveres foram encontrados em um fosso perto de um posto de gasolina. Ainda não se sabe o número exato de corpos no local.

Pessoas puxam corda amarrado a pé de cadáver ao lado de policial atrás de fita de isolamento
Corpo é retirado de fosso em posto de gasolina em Buzova, perto de Kiev - Zohra Bensemra - 10.abr.22/Reuters

"Agora, estamos retornando à vida, mas durante a ocupação [...] muitos civis morreram", disse Diditch.

Um repórter da agência de notícias AFP esteve no local e relatou ter visto dois cadáveres com roupas de civis. Policiais e soldados estavam trabalhando com um caminhão pipa para sugar a água do fosso. Uma mulher se aproximou e reconheceu um dos corpos por meio dos sapatos da vítima. "Meu filho! Meu filho!"

Na semana passada, a mídia local relatou que cerca de 30 corpos foram encontrados espalhados por Buzova e redondezas. Cenas semelhantes têm sido registradas em outros vilarejos nos arredores da capital Kiev, à medida que tropas russas desocupam a região e se deslocam para as frentes de batalha no Donbass, o leste ucraniano controlado por separatistas pró-russos desde 2014.

Em Butcha, corpos foram encontrados na última semana com sinais de execução, gerando comoção internacional e aumentando a pressão por investigações de supostos crimes de guerra da Rússia. Mais de 1.200 corpos foram encontrados na região de Kiev, disse neste domingo (10) uma promotora ucraniana.

"Temos até agora 1.222 mortos só na região da capital", afirmou a procuradora-geral da Ucrânia, Irina Venediktova, em entrevista em inglês à emissora britânica Sky News.

O Kremlin nega alvejar civis e acusa o governo ucraniano de forjar as atrocidades a fim de obter apoio internacional. Diante do fracasso em sua campanha para tomar Kiev, a Rússia mudou de tática na guerra e passou a concentrar suas tropas no Donbass. Em Dnipro, no leste ucraniano, o aeroporto civil foi bombardeado neste domingo e ficou destruído, de acordo com o governador da região.

"Novo ataque contra o aeroporto de Dnipro. Não resta mais nada. O próprio aeroporto e as infraestruturas próximas foram destruídos. E os mísseis continuam voando", publicou no Telegram o governador regional, Valentin Reznitchenko, indicando que ainda estão determinando o número de vítimas.

O aeroporto de Dnipro já havia sido alvo de um bombardeio russo em 15 de março, após o qual a pista ficou destruída, e o terminal, danificado. Dnipro é uma cidade industrial de um milhão de habitantes, atravessada pelo rio Dnieper (Dnipro em ucraniano), que marca o limite das regiões leste do país.

O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse neste domingo esperar que o general russo Alexander Dvornikov, apontado para comandar a invasão da Ucrânia, irá orquestrar crimes e brutalidades contra civis do país vizinho. Sullivan não apresentou evidências para justificar a acusação.

O conselheiro da Casa Branca afirmou, em entrevista à CNN americana, que ataques a civis estão "na base do Kremlin". Na véspera, a emissora britânica BBC informou, citando uma autoridade ocidental que pediu anonimato, que a Rússia havia nomeado Dvornikov como chefe da ação militar contra a Ucrânia.

Assim, a declaração de Sullivan parece indicar que o governo americano confirma a nomeação do general. Dvornikov tem experiência de combate na Síria, país em guerra civil onde Moscou apoia o ditador Bashar al-Assad contra grupos rebeldes desde 2015, com sucesso.

Até aqui, nunca houve um comandante único designado pelo Kremlin para a guerra na Ucrânia, ao menos em público, o que pode explicar a diversidade de objetivos que marcou a fase inicial da operação.

Caso confirmada oficialmente, a indicação de Dvornikov mostra que o presidente Vladimir Putin está preocupado com uma solução mais coordenada para a nova etapa do conflito, que já foi anunciada como sendo a tomada das áreas totais das antigas províncias de Lugansk e Donetsk.

Relatório de inteligência do governo britânico divulgado neste domingo indica que a Rússia está recrutando militares aposentados há cerca de dez anos para reforçar sua campanha no país vizinho após sofrer muitas baixas. Ainda segundo o documento da Defesa do Reino Unido, o Kremlin também está buscando soldados da Transdnístria, enclave separatista de maioria russa étnica na Moldova.

Também neste domingo, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, conversou por telefone com o premiê alemão, Olaf Scholz. no Twitter, Zelenski disse ter discutido possíveis novas sanções contra a Rússia e enfatizado que "todos os perpetradores de crimes de guerra precisam ser identificados e punidos".

Até aqui, a Alemanha resiste a pressões de Kiev para suspender importações de petróleo e gás da Rússia, que fornece 25% do petróleo e 40% do gás consumidos por Berlim —eram 35% e 55% antes da guerra.

Em outro front de pressão, o chanceler ucraniano, Dmitro Kuleba, chamou de "erro estratégico" a oposição da França e da Alemanha à proposta feita em 2008 pelos EUA para que a Ucrânia entrasse na Otan, a aliança militar ocidental. "Não são Alemanha e França que estão pagando o preço por esse erro. Se fôssemos membros da Otan, esta guerra não teria acontecido", disse ele ao canal americano NBC.

A aproximação da Ucrânia, nos últimos anos, com instituições do Ocidente, como a Otan e a União Europeia, foi uma das justificativas apresentadas pelo Kremlin para invadir o país vizinho. Nas negociações por um cessar-fogo, o governo russo quer que Kiev se comprometa a não aderir a blocos militares no futuro, como contrapartida para encerrar a ação militar.

Também neste domingo, o papa Francisco pediu uma trégua de Páscoa na Ucrânia que leve a negociações e à paz. "Baixem as armas!", disse o pontífice ao final da missa do domingo de Ramos, acompanhada por milhares de fiéis na praça de São Pedro.

"Deixem uma trégua de Páscoa começar. Mas não para se rearmar e voltar ao combate, mas para alcançar a paz por meio de negociações reais", afirmou. Desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro, o papa tem se posicionado em solidariedade aos ucranianos e criticado as ações do presidente Vladimir Putin.

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