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Procuradoria age contra Constituição para influenciar eleição, diz prefeito afastado de Medellín

Daniel Quintero, acusado de fazer propaganda política para Gustavo Petro, tenta retomar cargo por meio de corte internacional

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Buenos Aires

Um vídeo em que o então prefeito de Medellín, Daniel Quintero, 41, aparece dentro de um carro dizendo "un cambio en primera", ou seja, uma mudança em primeira, foi interpretado pela procuradora Margarita Cabello como propaganda política a favor do candidato Gustavo Petro —uma insinuação de que o esquerdista pode vencer a eleição presidencial já no primeiro turno, marcado para o próximo dia 29.

Na Colômbia, prefeitos não podem participar de campanhas, e a denúncia de Cabello, ex-ministra da Justiça do atual líder do país, Iván Duque, terminou no afastamento temporário de Quintero, eleito para chefiar a prefeitura da cidade no período entre 2020 e 2023. A decisão causou turbulência no Departamento de Antioquia, onde a direita ligada ao ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) é forte.

Daniel Quintero, ao centro, discursa ao lado de sua esposa, Diana Osorio, no dia seguinte ao afastamento da Prefeitura de Medellín
Daniel Quintero, ao centro, discursa ao lado de sua esposa, Diana Osorio, no dia seguinte ao afastamento da Prefeitura de Medellín - Joaquin Sarmiento - 11.mai.22/AFP

Quintero, que pertence ao Pacto Histórico, coalizão de esquerda que lidera as pesquisas para o pleito, nega que a cena tivesse a intenção de promover a candidatura de Petro. A mensagem, afirma ele, apenas estimulava a mudança, um slogan presente em sua campanha à Prefeitura de Medellín, em 2019.

No dia seguinte ao afastamento, no último dia 10, enquanto Duque escolhia para o cargo um aliado, Juan Camilo Restrepo, Quintero foi às ruas mobilizar cidadãos que enxergam a ação como arbitrária. Do lado de fora da sede da prefeitura há cartazes com frases como "Daniel fica" e "devolvam a democracia a Medellín". Desde então, a cidade, a segunda mais importante do país, está em polvorosa.

Petro expressou apoio à campanha. Ele foi vítima de uma manobra parecida, em 2013, quando era prefeito de Bogotá e foi destituído após denúncia da Procuradoria do país. Decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos, porém, reverteu a determinação da Justiça colombiana. "Vamos seguir o mesmo caminho, já enviamos nosso pedido à corte e continuaremos com a mobilização", disse Quintero.



Por que a decisão de afastá-lo seria injusta? Porque usaram uma suposta frase dúbia, que não pode ser identificada como campanha a favor de Petro. Não descumprimos nenhuma lei ao passar uma mensagem de mudança. Esse tipo de linguagem é parte da nossa estratégia de comunicação nas redes sociais. Eu me considero um político midiático, diante de uma prefeitura midiática, então uso palavras de estímulo à mudança para dar credibilidade aos programas de governo. A Corte Constitucional não permite que prefeitos façam campanha eleitoral, mas também não permite que as Forças Armadas o façam, e estivemos vendo isso nas palavras de um general do Exército que se declarou abertamente contra o candidato Gustavo Petro. A decisão ocorreu devido a uma procuradoria que está agindo contra a Constituição e em favor do governo atual e do candidato que apoia, Federico "Fico" Gutiérrez.

Vê uma estratégia do governo por trás da decisão? Por que o senhor seria o alvo? É muito claro, porque Antioquia [departamento do qual Medellín é a capital] é uma praça importante vinculada ao uribismo e ao próprio Fico [ex-prefeito de Medellín]. Aqui há um eleitorado uribista que eles querem colocar contra os eleitores de Petro. Temos recebido ameaças de que não haverá respeito ao resultado da eleição.

Esses ataques eram dirigidos ao senhor, a Petro ou ao partido? São ataques contra a mudança. Quando eu estava em campanha, recebi da polícia um aviso de que tinham desmontado um plano de sicários para me assassinar. Eu era apenas um candidato à prefeitura. Desde que assumi há ameaças de ataques ao edifício da prefeitura, por não sermos da mesma linha política do partido do governo nacional. Nas últimas semanas, detectamos planos para atacar a comitiva de Petro caso ela passasse por aqui. A determinação é clara: impedir uma vitória nossa, o que é iminente.

O candidato à Presidência Gustavo Petro, líder nas pesquisas de intenção de voto, participa de comício ao lado de seguranças com escudos em Fusagasuga, na Colômbia
O candidato à Presidência Gustavo Petro, líder nas pesquisas de intenção de voto, participa de comício ao lado de seguranças com escudos em Fusagasuga, na Colômbia - Luisa Gonzalez - 11.mai.22/Reuters

E quem está por trás dessas ameaças? São interesses políticos ou privados? Estão vinculados. Há empresários que trabalham com o uribismo há tempos e que não toleram ter de lidar com um grupo diferente que provavelmente não lhes dará benefícios fora da lei, prática típica dos governos uribistas. Há grupos econômicos que perdem com a nossa chegada, com a minha chegada à prefeitura, com uma eventual presidência de Petro. São interesses econômicos que há muitos anos andam de mãos dadas com os interesses políticos no país. A eleição de Petro será uma mudança enorme para esses grupos.

O que ocorreu em Medellín pode ser replicado em nível nacional? Há uma grande chance de que um setor importante da sociedade não aceite os resultados, assim como o atual governo nacional, caso Petro vença. É isso que venho denunciando. Com as atuais decisões políticas da Justiça, a Colômbia está rasgando sua Constituição. Temos de continuar mobilizando e alertando a população.

Espera voltar à prefeitura para terminar o mandato? Sou o candidato eleito pela população de Medellín, portanto espero que, concluída a suspensão, eu volte. Ainda temos muito a fazer.

Há quem diga que o objetivo do senhor é se candidatar a presidente na próxima eleição. Primeiro vou voltar ao posto para o qual fui eleito, e a ideia é continuar defendendo minhas ideias para a Colômbia.


Daniel Quintero Calle, 41

Eleito prefeito de Medellín em 2019, é graduado em engenharia eletrônica, tem especialização em finanças e MBA em negócios pela Universidade de Boston. Foi ministro de Tecnologias da Informação e das Comunicações (2016-2017) no governo de Juan Manuel Santos e diretor-executivo da Innpulsa Colombia, agência do governo de promoção do empreendedorismo e da inovação.

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