Rússia renova ataques no leste da Ucrânia, e combates alcançam 'intensidade máxima'

Concentração de forças de Moscou na região busca estabelecer controle do território e vitória estratégica para Putin

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São Paulo

Os combates no leste da Ucrânia alcançaram "intensidade máxima" e o país caminha para uma fase "extremamente longa e difícil" da guerra, disse a vice-ministra da Defesa ucraniana, Hanna Maliar.

Ela se refere ao renovado esforço da Rússia para atacar e tomar algumas das principais cidades da região a fim de estabelecer, ao mesmo tempo, controle do território em que Moscou já apoiava grupos separatistas contrários a Kiev e uma vitória para Vladimir Putin.

Dois dos principais alvos são as cidades de Severodonetsk e Lisitchansk. Se tomadas pela Rússia, quase toda a província de Lugansk estaria sob controle russo —um dos objetivos-chave do Kremlin para a guerra chamada de "operação militar especial".

Imagens do lançamento de um míssil Iskander da Rússia contra a Ucrânia - Reprodução/Ministério da Defesa da Rússia - 26.mai.22/AFP

Segundo o governador de Lugansk, Serhii Gaidai, cerca de 15 mil civis ainda permanecem em Severodonetsk —que, antes da guerra, tinha cerca de 100 mil habitantes. A maioria se recusa a sair da cidade, e o próprio Gaidai disse, no início da semana, que era tarde demais para fugir dos ataques russos.

Já em Lisitchansk, o volume de mortos em decorrência da guerra levou a polícia a assumir os ritos funerários. Nesta quinta, segundo o governador, mais de 150 corpos foram enterrados em valas comuns. Os familiares que desejavam fazer cerimônias formais de sepultamento terão que esperar o fim da guerra.

Em Kharkiv, segunda maior cidade da Ucrânia, analistas militares dizem que houve uma inversão no fluxo dos combates. Há algumas semanas, eram as tropas ucranianas que forçavam as russas a recuar em direção à fronteira nordeste do país. Agora, as forças de Moscou conseguiram manter controle sobre uma faixa de território e impediram que os adversários cortem suas linhas de suprimento.

Nas áreas urbanas, os moradores se adaptaram ao sons das explosões. "Está barulhento aqui, mas pelo menos estou em casa", disse Marina Karabierova, 38, ao ouvir mais um estrondo durante entrevista à agência de notícias Reuters. "Pode acontecer a qualquer hora. É assim que a vida é aqui." Ela havia fugido para a Polônia e depois para a Alemanha no início da guerra, mas voltou a Kharkiv recentemente.

De acordo com o chanceler Dmitro Kuleba, algumas cidades e vilarejos, em especial no leste da Ucrânia, já não existem mais. "Foram reduzidos a ruínas pela artilharia russa, pelos sistemas múltiplos de lançamentos de foguete", disse, acrescentando que esse é precisamente o tipo de armas de que seu país necessita. Segundo Kuleba, a situação militar da Ucrânia no leste é ainda pior do que se diz.

O objetivo é tentar diminuir a enorme disparidade entre os arsenais russo e ucraniano. "A Rússia tem a vantagem, mas estamos fazendo tudo o que podemos", disse o general Oleksii Gromov, vice-chefe do principal departamento de operações do Estado-Maior da Ucrânia.

Parte dessa disparidade foi evidenciada por um balanço divulgado nesta quinta pelo Ministério da Defesa russo. Segundo a pasta, as forças de Moscou destruíram mais de 10 mil veículos blindados e equipamentos de guerra da Ucrânia desde o início da invasão.

"No geral, os seguintes alvos foram eliminados desde o início da operação militar especial: 179 aeronaves, 127 helicópteros, 1.019 veículos aéreos não tripulados, 323 sistemas de mísseis terra-ar, 3.266 tanques e outros veículos blindados de combate, 433 sistemas múltiplos de lançamento de foguetes, 1.682 canhões de artilharia de campo e morteiros e 3.190 veículos motorizados militares especiais", diz o ministério.

A Defesa russa também divulgou o vídeo do lançamento de um míssil Iskander-K contra o que seria um alvo militar da Ucrânia. O Iskander é um sistema de mísseis balísticos de curto alcance que as forças russas implantaram contra cidades ucranianas, depósitos de munição e outros alvos.​

Mais cedo, o presidente Volodimir Zelenski também admitiu a superioridade militar dos russos e reiterou os pedidos de apoio aos países ocidentais. "O inimigo é claramente superior em termos de equipamento e número de soldados. Precisamos da ajuda de nossos parceiros e, especialmente, de armas."

Kuleba foi mais direto e alfinetou a Alemanha, cuja posição tem sido de cautela em entregar armamento pesado a Kiev. "Apreciamos todos os esforços do governo alemão, mas não entendo por que é tão complicado." O premiê alemão, Olaf Scholz, tentou marcar, por sua vez, uma posição mais firme contra a Rússia. Em discurso no Fórum Econômico Mundial, em Davos, afirmou que Putin não alcançou seus objetivos estratégicos. "Putin não deve vencer sua guerra, e estou convencido de que ele não vencerá", disse Scholz. "A captura de toda a Ucrânia parece mais distante agora do que no início da guerra."

Embora não tenha mencionado diretamente uma possível vitória da Ucrânia, ele rejeitou a ideia de que o país deveria ceder parte do território para encerrar o conflito, uma das condições impostas pela Rússia para pôr fim à invasão. "Não haverá paz ditada [por Moscou]. A Ucrânia não aceitará, e nós também não."

A fala de Scholz, em certa medida, foi interpretada como um contraste com o que ele próprio teria dito a jornalistas. Segundo um editor do britânico Guardian, o alemão afirmou em uma conversa com repórteres que não acredita numa eventual vitória ucraniana.

O premiê também voltou a deixar fora do radar uma intervenção mais incisiva a favor da Ucrânia. "Não faremos nada que possa levar a Otan à guerra. Isso significaria um confronto direto entre potências nucleares", disse, referindo-se, na prática, ao que seria uma Terceira Guerra Mundial.

Com AFP e Reuters

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