Descrição de chapéu África

Bélgica devolve máscara histórica tirada da República Democrática do Congo

Rei Philippe reconhece racismo no regime colonial que dominou país da África, mas não pede desculpas e recebe críticas

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Kinshasa

O rei Philippe, da Bélgica, que iniciou nesta quarta (8) uma visita de seis dias à República Democrática do Congo, devolveu ao país localizado na região central da África uma máscara tradicional do povo Suku que, até então, era exibida no Museu da África, baseado na cidade belga de Tervuren.

Philippe disse que o gesto permitirá aos congoleses descobrir um "trabalho excepcional" que os pertence. "E marca o início simbólico da colaboração cultural entre Bélgica e República Democrática do Congo."

Pessoas tiram fotos da máscara devolvida pelo rei da Bélgica para a República Democrática do Congo, em Kinshasa, capital do país africano - Arsene Mpiana - 8.jun.22/AFP

O país ficou sob domínio belga por décadas. Primeiro por meio do Estado Livre do Congo, propriedade privada do rei Leopoldo 2º, tio-bisavô de Philippe, de 1885 a 1908. Depois, a região foi colônia da Bélgica, de 1909 a 1960. Segundo historiadores, 10 milhões de africanos morreram no reinado de Leopoldo.

O rei Philippe se tornou, há dois anos, o primeiro monarca a expressar publicamente arrependimento pela violência cometida contra a população da atual RDC. À época, citou os "atos de violência e crueldade que ainda pesam em nossa memória coletiva". Ele assumiu o trono em 2013, após o rei Albert 2º abdicar.

A máscara devolvida deve agora ficar exposta no Museu Nacional, localizado na capital do país, Kinshasa. O rei estava acompanhado de sua esposa, Mathilde, e do premiê belga, Alexander De Croo.

Philippe voltou a demonstrar arrependimento pela colonização, nesta que é a sua primeira visita à ex-colônia desde que chegou ao trono. "Embora muitos belgas tenham amado o Congo, o regime colonial foi baseado em exploração e dominação", disse Philippe ao Parlamento congolês. "Isso levou a atos violentos e a humilhações. Diante do povo congolês e daqueles que ainda sofrem hoje, desejo reafirmar meu mais profundo pesar por essas feridas. Aquele foi um regime de relações desiguais, marcadas pelo racismo."

O rei da Bélgica, Philippe, e o presidente da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi, caminham nos jardins do Palais de la Nation, residência oficial do presidente em Kinshasa - Arsene Mpiana - 8.jun.22/AFP

O presidente Félix Tshisekedi, eleito em 2019 num pleito com acusações de fraude, e vários de seus correligionários saudaram com entusiasmo a visita. Muitos hasteavam bandeiras belgas, e uma faixa no Legislativo fazia menção à "história em comum". A receptividade foi outra por políticos de oposição.

A senadora Francine Muyumba Nkanga, por exemplo, afirmou em uma rede social que arrependimentos públicos são insuficientes. "Diante dos crimes cometidos pela Bélgica, espera-se dele [o rei] um pedido de desculpas e uma promessa de reparação". "Somente assim vamos definitivamente virar essa página."

Em outra publicação, Nkanga disse que a forma como muitos no país estavam recebendo as mensagens do rei Philippe feria a memória dos heróis da independência —que, no próximo dia 30, completa 62 anos. "O que diria Patrice Lumumba", questionou, citando o herói da independência congolesa.

A Bélgica vai devolver um dente de Lumamba a seus descendentes. O governo belga assumiu, em 2002, responsabilidade parcial pela morte de Lumamba, primeiro premiê do território independente —ele foi assassinado por separatistas apoiados por Bruxelas em 1961.

O dente, levado para a Bélgica por um policial belga chamado Gérard Soete como o que ele descreveu como "um tipo de troféu de caça", está preservado. Soete o escondeu por quase 40 anos, até que confessou em um programa de TV sua participação no assassinato de Lumamba. A devolução estava prevista para ocorrer em 2020, mas foi adiada mais de uma vez devido à pandemia de Covid.

Ainda nesta quarta, o rei belga condecorou aquele que é considerado o último veterano congolês que lutou na Segunda Guerra. O cabo Albert Kunyuku, 100, alistou-se nas forças belgas em 1940 e serviu em países como Mianmar e Índia.

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