Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Rússia propõe corredores marítimos para escoar grãos, mas Ucrânia teme ataque

Proposta com participação da Turquia exige que Kiev retire as minas colocadas nos portos do país para prevenir invasão

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Pressionada, a Rússia voltou a propor nesta quarta (8) o estabelecimento de corredores marítimos para escoar toneladas de grãos bloqueadas na Ucrânia. A paralisia nas exportações de um dos maiores fornecedores mundiais de trigo tem levado à alta dos preços e acelerado a iminente crise alimentar.

​O chanceler Serguei Lavrov disse que Moscou está disposta a garantir a segurança dos navios desde que Kiev retire as minas colocadas nos portos. Ele falava de Ancara, onde se reuniu com seu homólogo turco, Mevlut Cavusoglu. A Turquia, a pedido da ONU, busca mediar tratativas sobre o assunto.

O chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, à esq., e seu homólogo turco, Mevlut Cavusoglu, durante encontro em Ancara
O chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, à esq., e seu homólogo turco, Mevlut Cavusoglu, durante encontro em Ancara - Adem Altan - 8.jun.22/AFP

​Lavrov chegou a dizer que as garantias foram dadas pelo próprio presidente russo, Vladimir Putin, mas a Ucrânia prontamente rechaçou a proposta. Kiev teme que Moscou aproveite o alívio da presença militar nos portos para atacar o território ucraniano, em especial Odessa, uma importante cidade no sul do país.

Oleg Nikolenko, porta-voz da chancelaria ucraniana, disse que as palavras de Lavrov são vazias. "É necessário ter equipamento militar para proteger a costa, além de uma missão da Marinha para patrulhar as exportações", afirmou. "A Rússia não pode usar corredores marítimos para atacar o sul da Ucrânia."

Mais cedo, Serguei Bratchuk, porta-voz do governo regional de Odessa, corroborou a posição contrária à retirada das minas. "A frota russa do mar Negro vai fingir uma retirada para a Crimeia e, enquanto desminamos o local para o acesso ao porto, nos atacará ali", escreveu ele num aplicativo de mensagens.

A Turquia chamou a proposta russa de razoável e pediu que Kiev e Moscou concordem. O país, membro da Otan, a aliança militar ocidental, e também próximo à Rússia, chegou a sediar uma negociação presencial entre delegações dos dois países um mês depois o início da invasão, que já dura mais de cem dias.

Ainda assim, não há consenso sobre o papel da Turquia como mediadora. Serhii Ivaschenko, diretor da Associação de Produtores e Exportadores de Grãos da Ucrânia, disse nesta quarta que o país não tem força suficiente no mar Negro para garantir a segurança das cargas, segundo a agência Reuters.

Antes do início do conflito, que eclodiu na última semana de fevereiro, a Ucrânia representava cerca de 12% das exportações globais de trigo e 15% das de milho. O presidente Volodimir Zelenski afirmou na segunda (7) que o país conta com cerca de 25 milhões de toneladas de grãos bloqueadas. No outono do Hemisfério Norte (primavera no Hemisfério Sul), esse número pode subir para 75 milhões, acrescentou.

A pressão para que a Rússia permita as exportações tem crescido. O chanceler da Itália, Luigi Di Maio, voltou a afirmar nesta quarta que o bloqueio "significa condenar milhões de crianças, mulheres e homens à morte", especialmente em países da África e do Oriente Médio, grandes importadores da Ucrânia. "Esperamos sinais claros e concretos da Rússia", disse ele, durante entrevista coletiva em Roma.

O próprio governo italiano sente os impactos econômicos da guerra. Com poucos recursos energéticos, o país importa a maior parte do gás que consome, e 40% vem da Rússia. A Itália chegou a propor, em maio, um plano de paz, com intermédio das Nações Unidas, tentando ampliar sua atuação na frente diplomática.

O assunto chegou a gerar desconforto no Conselho de Segurança da ONU na segunda, quando o presidente do Conselho Europeu, o belga Charles Michel, dirigiu-se diretamente para o embaixador russo Vassili Nebenzia para dizer que Moscou era a única responsável pela iminente crise alimentar global. Nebenzia deixou o espaço na hora e, mais tarde, disse que os comentários foram "muito rudes".

A África também já buscou atuar diplomaticamente. O presidente do Senegal, Macky Sall, que preside a União Africana (UA), reuniu-se com Putin na semana passada. "Vim para pedir que [ele] esteja ciente de que nossos países, mesmo longe da guerra, são vítimas desta crise econômica", escreveu em rede social.

Após o encontro, o senegalês disse que o líder do Kremlin havia lhe dito estar disposto a facilitar a exportação de cereais ucranianos e aberto a exportar trigo e fertilizantes russos para nações da África.

O porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, afirmou nesta quarta que, para que os grãos voltem a circular no mercado internacional, será necessário que o Ocidente retire as sanções impostas a Moscou, mas acrescentou que não há conversas substanciais sobre o assunto por ora. Peskov também disse que qualquer conversa entre Putin e Zelenski terá de ser "muito bem preparada".

No front, a Ucrânia admitiu que pode ser obrigada a recuar na cidade de Severodonetsk, palco de intensos combates há semanas. O governador regional, Serhii Haidai, em entrevista a um canal local, disse porém que o recuo não equivale ao abandono definitivo da cidade industrial, localizada em Lugansk, no Donbass.

Moscou alega controlar 97% do território da província de maioria russófona "Há bombardeios por todas as partes, 24 horas por dia, e a Rússia concentra todas as suas forças na região", disse ele.

Da Europa, um novo pacote de ajuda militar foi enviado a Kiev. O Ministério da Defesa da Noruega anunciou o envio de 22 obuses autopropulsados M109, além de peças de reposição e munições. Disse ainda que já treinou soldados ucranianos na Alemanha para que saibam como usar o armamento.

Com AFP e Reuters

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