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Congresso do Peru rejeita banheiro inclusivo e põe em risco encontro da OEA

Parlamentares alegaram 'ideologia de gênero' e reprovaram instalação; chanceler critica decisão

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Lima | AFP e Reuters

A Assembleia-Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) prevista para outubro, em Lima, corre o risco de não acontecer porque o Congresso do Peru rejeitou a instalação de um banheiro de gênero neutro, afirmou nesta sexta-feira (15) o chanceler do país, César Landa.

O banheiro inclusivo foi reprovado em votação no Congresso na noite de quinta por 55 votos a 44, enquanto 16 parlamentares se abstiveram.

O Peru, país profundamente católico, está entre as nações mais conservadoras da América Latina, com disputas entre legisladores e ativistas sobre se o Estado deve reconhecer múltiplas identidades de gênero ou apenas o sexo biológico. Os escritórios do governo normalmente não têm banheiros de gênero neutro.

Banheiro de gênero neutro em Nova York, nos EUA
Banheiro de gênero neutro em Nova York, nos EUA - Mike Segar - 19.abr.17/Reuters

O Congresso peruano defende a assinatura de um novo acordo para a realização do encontro, mas sem a menção ao banheiro inclusivo —uma vez que, segundo parlamentares, isso implicaria uma intervenção na lei interna sobre a chamada "ideologia de gênero". A OEA não se manifestou sobre o assunto. Neste ano, a assembleia terá como tema o combate à desigualdade e discriminação.

A decisão dos parlamentares provocou indignação. Landa afirmou que a votação "afeta gravemente a imagem internacional do Peru" e pediu aos deputados que reconsiderem o posicionamento. "São [instalações] apenas para esta assembleia, sem gerar obrigações internacionais no futuro", escreveu nas redes sociais.

Antes, o deputado Ernesto Bustamante, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Congresso, disse que a instalação de um banheiro de gênero neutro e não binário vai contra a visão de que existem apenas homens e mulheres.

Ele acusou a OEA de "tentar introduzir 'ideologia de gênero' na lei peruana". "[Nós] concordamos com a assembleia, mas sem o banheiro neutro [...]. A única coisa que eles têm de fazer é apagar o parágrafo sobre o banheiro", escreveu.

Bustamante é membro do partido Força Popular, o maior bloco no Congresso, que votou de forma unânime pela rejeição da assembleia da OEA. A legenda é liderada pela ex-candidata à Presidência Keiko Fujimori, que já havia criticado a organização por causa de uma controvérsia eleitoral.

Keiko perdeu a eleição de 2021 por apenas 0,2 ponto percentual e se recusou a aceitar o resultado durante semanas, apresentando alegações infundadas de fraude eleitoral. À época, aliados da então candidata viajaram a Washington para solicitar que a OEA realizasse uma auditoria do resultado. A organização, no entanto, recusou o pedido.

Em linha com Bustamante, a presidente do Congresso, Maria del Carmen Alva, disse que espera que a assembleia seja realizada em Lima, mas sem a exigência de banheiro neutro. "Eu entendo que a implementação desses banheiros tem custos para o governo", disse.

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