A Assembleia-Geral da OEA (Organização dos Estados Americanos) prevista para outubro, em Lima, corre o risco de não acontecer porque o Congresso do Peru rejeitou a instalação de um banheiro de gênero neutro, afirmou nesta sexta-feira (15) o chanceler do país, César Landa.
O banheiro inclusivo foi reprovado em votação no Congresso na noite de quinta por 55 votos a 44, enquanto 16 parlamentares se abstiveram.
O Peru, país profundamente católico, está entre as nações mais conservadoras da América Latina, com disputas entre legisladores e ativistas sobre se o Estado deve reconhecer múltiplas identidades de gênero ou apenas o sexo biológico. Os escritórios do governo normalmente não têm banheiros de gênero neutro.
O Congresso peruano defende a assinatura de um novo acordo para a realização do encontro, mas sem a menção ao banheiro inclusivo —uma vez que, segundo parlamentares, isso implicaria uma intervenção na lei interna sobre a chamada "ideologia de gênero". A OEA não se manifestou sobre o assunto. Neste ano, a assembleia terá como tema o combate à desigualdade e discriminação.
A decisão dos parlamentares provocou indignação. Landa afirmou que a votação "afeta gravemente a imagem internacional do Peru" e pediu aos deputados que reconsiderem o posicionamento. "São [instalações] apenas para esta assembleia, sem gerar obrigações internacionais no futuro", escreveu nas redes sociais.
Antes, o deputado Ernesto Bustamante, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Congresso, disse que a instalação de um banheiro de gênero neutro e não binário vai contra a visão de que existem apenas homens e mulheres.
Ele acusou a OEA de "tentar introduzir 'ideologia de gênero' na lei peruana". "[Nós] concordamos com a assembleia, mas sem o banheiro neutro [...]. A única coisa que eles têm de fazer é apagar o parágrafo sobre o banheiro", escreveu.
Bustamante é membro do partido Força Popular, o maior bloco no Congresso, que votou de forma unânime pela rejeição da assembleia da OEA. A legenda é liderada pela ex-candidata à Presidência Keiko Fujimori, que já havia criticado a organização por causa de uma controvérsia eleitoral.
Keiko perdeu a eleição de 2021 por apenas 0,2 ponto percentual e se recusou a aceitar o resultado durante semanas, apresentando alegações infundadas de fraude eleitoral. À época, aliados da então candidata viajaram a Washington para solicitar que a OEA realizasse uma auditoria do resultado. A organização, no entanto, recusou o pedido.
Em linha com Bustamante, a presidente do Congresso, Maria del Carmen Alva, disse que espera que a assembleia seja realizada em Lima, mas sem a exigência de banheiro neutro. "Eu entendo que a implementação desses banheiros tem custos para o governo", disse.
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