Primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto para o Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prepara para a próxima semana um encontro com embaixadores dos países que compõem o Brics, bloco formado por Rússia, Índia, China e África do Sul, além do Brasil.
A agenda foi marcada antes da reunião do presidente Jair Bolsonaro (PL) com embaixadores, na segunda, na qual propagou mentiras e teorias da conspiração já desmentidas para tentar colocar em xeque a confiabilidade das urnas eletrônicas. A expectativa é que Lula, depois, também se encontre com diplomatas de outros países, em grupo ou individualmente.
A revelação de que ele deve se reunir com embaixadores foi feita pelo próprio ex-presidente numa reunião com integrantes do MDB. De acordo com parlamentares presentes, Lula divulgou a informação após criticar Bolsonaro em razão do evento com os chefes de missões estrangeiras no Palácio da Alvorada.
Segundo relatos, o petista disse na ocasião que o presidente fez uma reunião que simboliza disposição para questionar o resultado do pleito de outubro caso o chefe do Executivo seja derrotado. Aos emedebistas, Lula comentou ainda que, se houvesse fraude nas urnas, ele nunca teria sido eleito.
De acordo com integrantes de sua campanha, o ex-presidente tem sido procurado por diplomatas de outros países, isoladamente ou em conjunto. A perspectiva de aliados é que o debate sobre a eleição e a confiabilidade das urnas permeie os encontros, ainda que não seja o assunto principal.
Para petistas próximos a Lula, essa reunião também servirá para discutir temas como clima, fome, desigualdade e paz no mundo. Assim, o encontro, na avaliação de aliados, deve repetir o roteiro de uma série de viagens internacionais que o ex-presidente fez em 2021 —ele esteve na Alemanha e na França.
Em Paris, Lula foi recebido com honrarias para discutir "temas globais fundamentais", segundo o governo francês. Já neste ano, o petista se encontrou em São Paulo com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, o que levou Bolsonaro a desmarcar uma reunião que teria com o líder europeu.
As reuniões de Lula devem ocorrer ainda em meio às repercussões do encontro de Bolsonaro com diplomatas estrangeiros, na qual o líder brasileiro ainda fez ataques aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.
Não foi divulgada uma lista de participantes, mas cerca de 60 representantes de missões diplomáticas estiveram no Alvorada. Como mostrou a Folha, embaixadores presentes no encontro avaliaram que Bolsonaro adotou uma tática semelhante à do ex-presidente Donald Trump nos Estados Unidos: preparar o caminho para questionar o resultado das eleições.
Derrotado por Joe Biden, o republicano insuflou teorias conspiratórias segundo as quais o pleito teria sido fraudado —o que nunca foi provado— e foi peça central no episódio que resultou na invasão do Congresso americano em 6 de janeiro de 2021.
De acordo com diplomatas, as declarações de Bolsonaro não devem mudar a opinião das missões sediadas em Brasília, uma vez que o conteúdo apresentado pouco divergiu de ataques anteriores. Para os embaixadores, o presidente tentou desviar o foco de problemas que afetam o governo, como a inflação e o preço dos combustíveis.
Após a reunião, representações como a dos EUA reafirmaram a confiança no sistema eleitoral brasileiro.
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