Descrição de chapéu refugiados

Orbán mantém falas racistas e diz que discurso contra migração é 'questão cultural'

Primeiro-ministro autocrata da Hungria visita Viena e afirma que, por vezes, tem declarações 'ambíguas'

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A despeito de uma onda de críticas, o primeiro-ministro autocrata da Hungria, Viktor Orbán, disse nesta quinta-feira (28) que suas falas em defesa de o país não querer se tornar um "povo mestiço" tratariam de uma questão cultural, não racial. "Queremos manter nossa civilização como é agora."

Defensor de uma agenda anti-imigração e antidemocrática, Orbán criticou no fim de semana políticos e países abertos a acolher imigrantes e "misturar populações". A postura historicamente rendeu ao Fidész, o partido governista, apoio entre camadas da população contrárias ao acolhimento de estrangeiros.

Viktor Orbán, premiê da Hungria, durante entrevista coletiva em Viena - Alex Halada - 28.jul.22/AFP

A declaração mais recente, no entanto, com teor contra a miscigenação, rendeu críticas do Comitê Internacional de Auschwitz e levou a ministra da Inclusão Social Zsuzsa Hegedus a renunciar. Em sua carta de demissão, ela comparou o discurso do ultradireitista com a propaganda de Adolf Hitler na Alemanha nazista. "Não sei como você [Orbán] não percebeu que a declaração é pura retórica nazista digna de Joseph ​Goebbels."

Em Viena, onde se reuniu com o premiê austríaco, Orbán disse, segundo o jornal húngaro Index: "Acontece que, às vezes, sou ambíguo. Esta é uma posição civilizada, estamos orgulhosos do que a Hungria conseguiu na luta contra o racismo. Não se trata de racismo, mas de diferenças culturais".

O premiê já havia tentado amenizar seu discurso em carta divulgada após a renúncia de Hegedus, uma aliada de longa data. No texto compartilhado no Twitter pelo diretor político de seu gabinete, ele disse: "Meu governo tem uma política de tolerância zero em relação a antissemitismo e racismo".

A agora ex-ministra respondeu afirmando que não caracterizava o governo como racista, mas que o recente discurso a preocupava. "A menor menção pública à discriminação racial incita um movimento que a história já mostrou; uma vez que deixamos o gênio sair da garrafa, nem mesmo o 'senhor' pode calá-lo novamente", disse, segundo o site de notícias hvg.hu.

Além da fala sobre o "povo mestiço", Orbán foi criticado ao fazer uma referência indireta às câmaras de gás do regime nazista para criticar o plano da UE de reduzir o consumo de gás e diminuir a dependência do produto importado da Rússia. "Não vejo como eles podem forçar os Estados-membros [da UE] a fazer isso, embora haja um conhecimento alemão nesse domínio, como o passado mostrou", disse o húngaro, em tom irônico.

Orbán foi reeleito em abril para seu quinto mandato na Hungria, e o Fidész manteve maioria no Parlamento. Seu governo tem sido marcado pela corrosão democrática e rusgas com a União Europeia.

O premiê integra, ao lado de figuras como Jair Bolsonaro (PL), o grupo de líderes mundiais que promovem uma guinada autoritária. Seu governo chegou a oferecer ajuda para a reeleição do brasileiro, mostrou relatório obtido pela Folha.

"Sou o único da UE que defende uma política abertamente anti-imigração", disse Orbán em entrevista conjunta com o primeiro-ministro da Áustria, Karl Nehammer. A mea culpa desta quinta não foi suficiente para evitar novas críticas. Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado americano, afirmou que os comentários feitos por ele "não refletem os valores que unem os Estados Unidos à Hungria".

Price também leu uma declaração da historiadora Deborah Lipstadt, estudiosa do Holocausto, para reforçar que a retórica do premiê é "imperdoável".

Antes, na quarta (27), a embaixada dos EUA em Budapeste havia divulgado um comunicado que, sem mencionar Orbán, condenava "todas as ideologias, políticas e retóricas que oxigenam doutrinas de ódio e divisão". No início da semana, Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, escreveu no Twitter que o racismo não tinha lugar na Europa, cuja força, segundo ele, vem da diversidade.

De acordo com relatos e vídeos da imprensa local, Orbán foi vaiado em Viena, quando chegou para o encontro com Nehammer, pelo grupo Omas gegen Rechts (vovós contra a direita), que atua na Áustria e na Alemanha contra o neonazismo e o extremismo de direita na Europa.

Com Reuters

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