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Venezuela e Colômbia anunciam retomada de relações diplomáticas após posse de Petro

Laços estavam rompidos desde 2019, quando governo de Duque não reconheceu reeleição de Maduro

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San Cristobal (Venezuela) | AFP e Reuters

Venezuela e Colômbia vão restabelecer relações diplomáticas a partir de 7 de agosto, quando o presidente eleito Gustavo Petro tomar posse em Bogotá. A retomada dos diálogos foi anunciada nesta quinta (28) por representantes dos países, que comunicaram ainda a intenção de unir esforços na área da segurança.

Além de nomear embaixadores, os governos devem trabalhar em conjunto para aumentar a segurança ao longo dos 2.219 km de fronteira terrestre que compartilham. A região ainda hoje é palco de conflitos entre grupos armados, incluindo o Exército de Libertação Nacional (ELN) e dissidentes das Farc.

Desde a campanha eleitoral, Petro prometia o restabelecimento das relações, rompidas em 2019 quando o governo do atual presidente colombiano, Iván Duque, não reconheceu a reeleição de Nicolás Maduro e apoiou a proclamação do opositor Juan Guaidó como presidente em exercício.

O presidente eleito da Colômbia, Gustavo Petro, durante evento em Bogotá - Raul Arboleda - 22.jul.22/AFP

A intenção pela retomada dos diálogos foi reiterada pela vice-presidente eleita, Francia Márquez, em entrevista à Folha publicada nesta quinta-feira (28). "Ele [Nicolás Maduro] é o presidente. Vamos rever as relações com a Venezuela para garantir os direitos sobretudo de todas as pessoas que vivem nas fronteiras e que foram afetadas por essa política violenta entre a Colômbia e aquele país", disse.

O restabelecimento das relações foi confirmado durante reunião do ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Carlos Faría, com Álvaro Leyva, futuro chanceler colombiano. O encontro aconteceu na cidade venezuelana de San Cristóbal, capital do estado de Táchira, que faz fronteira com a Colômbia.

Ambos os representantes "manifestaram vontade de avançar em uma agenda de trabalho para a normalização gradual das relações binacionais a partir de 7 de agosto com a nomeação de embaixadores e demais funcionários diplomáticos e consulares", segundo comunicado divulgado pelas duas partes.

"Conversamos e concordamos que temos que trabalhar em prol da paz e da segurança de nossas fronteiras. Falamos da abertura gradual da fronteira, aspecto que vai beneficiar de forma direta nossos povos", afirmou Faría, que ainda classificou a reunião de histórica.

Atualmente não há consulados nem voos diretos entre os dois países, e denúncias do ditador Maduro contra Duque por supostos planos para derrubá-lo são comuns. De fevereiro de 2019 a outubro de 2021, a fronteira ficou fechada por causa de embates políticos. À época, a ditadura estava receosa de que Guaidó conseguisse organizar a entrada de alimentos e de medicamentos pela fronteira colombiana, o que, na visão de Maduro, enfraqueceria sua gestão e seria um pretexto para uma possível ação dos EUA.

Na semana passada, o embaixador americano na Colômbia, Francisco Palmieri, afirmou que os Estados Unidos respeitarão a decisão de Petro pelo restabelecimento das relações diplomáticas com a Venezuela.

"Vamos ver quais decisões o novo governo terá, mas é uma decisão deles [colombianos] e faremos o possível para manter o bom relacionamento com Bogotá", disse o diplomata. Os EUA, assim como o governo de Iván Duque, não reconhecem Maduro como presidente.

Petro e Maduro já conversaram por telefone após o colombiano ser eleito o primeiro presidente de esquerda do país. Ele derrotou o populista Rodolfo Hernández, em uma disputa apertada.

A vitória do ex-guerrilheiro fortalece o movimento que vem sendo chamado de nova onda rosa, em referência ao ciclo de governos progressistas que assumiram a América Latina no início dos anos 2000 e agora se renova. A guinada à esquerda foi consolidada em dezembro de 2021 com a vitória de Gabriel Boric, no Chile, antecedida pelos triunfos de Alberto Fernández na Argentina e de Luis Arce na Bolívia.

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