Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Anistia Internacional diz que tropas da Ucrânia colocam civis em perigo na guerra

ONG afirma que forças de Kiev têm usado áreas povoadas, incluindo escolas e hospitais, como bases militares

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A ONG Anistia Internacional emitiu relatório nesta quinta-feira (4) no qual afirma que as tropas da Ucrânia têm adotado um padrão que coloca civis em perigo ao estabelecer bases militares e operar equipamentos em áreas residenciais povoadas.

Agnès Callamard, secretária-geral da Anistia, disse em comunicado que a prática viola o direito internacional humanitário ao transformar civis em alvos militares em meio à guerra contra a Rússia. "Estar em uma posição defensiva não isenta militares ucranianos de respeitar o direito internacional", afirmou a francesa.

Soldados voluntários da Ucrânia aguardam para serem retirados de hospital onde se recuperavam após ataque em Bakhmut, na região do Donbass - Jorge Silva - 5.mai.22/Reuters

A avaliação é fruto de análise que pesquisadores da ONG fizeram in loco ao longo dos meses de abril e julho nas regiões de Kharkiv, Mikolaiv e no Donbass, o leste russófono da Ucrânia onde se concentra a ação no front hoje. Conversas foram feitas com sobreviventes de ataques, testemunhas e familiares de vítimas.

Segundo o relatório, mesmo escolas e hospitais têm sido usados como potenciais bases para as tropas de Kiev. A ONG diz que hospitais foram utilizados para esse propósito em ao menos cinco locais. "Usá-los para fins militares é mais uma clara violação do direito internacional", diz trecho do material. A Rússia fez acusações do tipo na época, por exemplo, de uma ação contra uma maternidade em Mariupol.

Em resposta, o chanceler ucraniano, Dmitro Kuleva, se disse indignado e descreveu as conclusões de injustas. Mikhailo Podoliak, assessor da Presidência ucraniana, acusou a Anistia de participar de uma campanha de desinformação e propaganda russa.

"Moscou tenta desacreditar as Forças Armadas da Ucrânia aos olhos das sociedades ocidentais e, assim, interromper o fornecimento de armas usando sua rede de influência", escreveu ele no Twitter.

"As autoridades devem imediatamente posicionar suas forças longe de áreas povoadas ou retirar civis de onde os militares estão operando", afirmou Agnès Callamard. "Essas táticas, porém, não justificam de forma alguma os crimes de guerra da Rússia."

A Anistia tem monitorado, desde o início do conflito, as ações de Moscou, e diz ter documentado e investigado diversos crimes de guerra das tropas de Vladimir Putin. A ONG, no entanto, também já teceu críticas às práticas do governo de Volodimir Zelenski.

Em março, por exemplo, a organização afirmou que Kiev violava os direitos dos prisioneiros de guerra, previstos nas Convenções de Genebra, ao fazê-los participar de entrevistas coletivas para dizer que estavam arrependidos e que haviam sido forçados a lutar no conflito.

Ainda nesta quinta, a ONU anunciou o envio de uma missão para investigar a origem do ataque que matou 53 prisioneiros de guerra ucranianos na cidade de Olenivka, controlada por separatistas pró-russos em Donetsk, no último dia 29. Moscou diz que Kiev conduziu o ataque usando armas dos EUA; a Ucrânia nega e culpa a Rússia.

O governo da região onde está Toretsk, a leste, afirmou que ao menos oito pessoas morreram, sendo três menores de idade, após um ataque a um ponto de ônibus atribuído aos russos. Não muito longe dali, em Donetsk (cidade controlada por separatistas pró-Rússia), autoridades locais afirmaram que cinco pessoas morreram e outras seis ficaram feridas em um bombardeio promovido por Kiev.

A Guerra da Ucrânia já deixou ao menos 5.327 civis mortos e outros 7.257 feridos, de acordo com cifras atualizadas pelo escritório de direitos humanos da ONU até o final de julho. Pelo menos 352 mortos seriam crianças —os números são reconhecidamente subnotificados.

O conflito também tem levado a uma onda de refugiados. Cifras recentes das Nações Unidas deram dimensão do impacto disso para a demografia do país: o conflito reduzirá a população da Ucrânia em cerca de 7 milhões até o ano que vem, em grande parte devido à emigração forçada. De 43,5 milhões em julho de 2021, o número de habitantes passará a 36,7 milhões no mesmo período de 2023.

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