Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Bases da Rússia na Crimeia e em Kherson são alvo de ataque com drones

Região de Mikolaiv também é bombardeada; Guterres pede fim de obstáculos a exportações russas de produtos agrícolas

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Kiev e Istambul | Reuters

O governo russo acusou a Ucrânia de realizar novos ataques com drones na noite de sexta-feira (19), um dia após explosões terem atingido bases militares em áreas controladas por Moscou no país e na própria Rússia, em uma aparente demonstração do poder de fogo de Kiev fora da linha de frente.

As agências de notícias russas Tass e RIA, ambas estatais, relataram a atuação de forças antiaéreas do Kremlin em um porto da Crimeia na noite de sexta. Um oficial afirmou que um número não especificado de drones foi derrubado na cidade de Sebastopol. De acordo com Moscou, não houve mortos ou feridos.

Cabra em meio a ruínas de uma casa destruída em Mikolaiv
Cabra em meio a ruínas de uma casa destruída em Mikolaiv - Bulent Kilic/AFP

Vídeo publicado por um site russo, que não pôde ser verificado pela agência de notícias Reuters, mostra o que parece ser um míssil do tipo superfície-ar atingindo um alvo. A Crimeia, anexada pela Rússia em 2014, é uma importante linha de abastecimento para as tropas de Vladimir Putin na Ucrânia.

Paralelamente, uma autoridade citada pela Tass disse que seis drones ucranianos foram derrubados a leste de Kherson –cidade cuja retomada virou uma das prioridades da Ucrânia.

Kiev tem se recusado a fazer comentários oficiais sobre os ataques na Crimeia e na Rússia, ao mesmo tempo em que insinua que está por trás deles, com o uso de armas de longo alcance ou via sabotagem.

Uma autoridade ocidental indicou que ao menos alguns dos incidentes foram de fato ataques ucranianos.

Enormes explosões em 9 de agosto na base aérea russa de Saki, na costa da Crimeia, deixaram mais da metade dos jatos de combate da Frota do Mar Negro fora de uso, afirmou esse oficial, no que seria um dos ataques mais danosos da guerra. A Rússia negou que as aeronaves tenham sido danificadas e chamou o episódio de acidente, embora imagens de satélite mostrem ao menos oito aviões de guerra queimados.

Seja como for, Moscou demitiu o chefe da Frota do Mar Negro nesta semana, e a Ucrânia espera que a sua aparente capacidade de atingir alvos russos fora da linha de frente de combates possa virar o destino do conflito, interrompendo as linhas de abastecimento de que Moscou precisa para apoiar sua ocupação.

Um alto funcionário de defesa dos EUA disse na sexta que o governo do presidente Joe Biden estava preparando outro pacote de assistência de segurança para a Ucrânia avaliado em US$ 775 milhões, contendo drones de vigilância e, pela primeira vez, veículos resistentes a minas. Desde o mês passado, a Ucrânia tem instalado foguetes fornecidos pelo Ocidente para atacar atrás das linhas russas.

Do outro lado, também neste sábado, pelo menos 12 pessoas, incluindo três crianças, ficaram feridas após um bombardeio russo em Voznesensk, não muito longe de uma usina nuclear na região de Mikolaiv, no sul da Ucrânia, segundo um novo balanço da Promotoria ucraniana. Horas antes, o governador regional Vitali Kim havia relatado no Telegram a existência de nove feridos, incluindo quatro crianças e adolescentes com idades entre três e 17 anos. "Todas as crianças estão em estado grave."

Voznesensk, com cerca de 30 mil habitantes, fica a aproximadamente 20 quilômetros da usina nuclear de Pivdennoukrainsk, a segunda mais poderosa da Ucrânia, que possui um total de quatro usinas atômicas.

A região de Mikolaiv, que sofre regularmente com bombardeios russos, faz fronteira com Kherson, quase inteiramente ocupada por tropas de Moscou desde o início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Complexo nuclear

A Ucrânia também emitiu alertas sobre o complexo que abriga a usina nuclear de Zaporíjia. A operadora de energia nuclear do país disse na sexta-feira suspeitar que Moscou tem planos de transferir a instalação para a rede elétrica russa, uma operação complexa que, segundo Kiev, pode causar um desastre.

Zaporíjia está ocupada por tropas russas na margem de um reservatório —as forças ucranianas controlam a margem oposta. "Se a chantagem russa com radiação continuar, este verão pode entrar na história de várias nações europeias como um dos mais trágicos de todos os tempos, porque nenhuma usina nuclear em nenhum lugar do mundo tem diretrizes para quando um Estado terrorista a transforma em alvo", disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em um discurso na noite de sexta-feira.

No jogo de narrativas, o presidente russo, Vladimir Putin, acusou a Ucrânia de bombardear o complexo, arriscando uma catástrofe nuclear. Moscou rejeitou pedidos da comunidade internacional para desmilitarizar a usina, e Putin renovou na sexta, em telefonema com o presidente francês, Emmanuel Macron, a acusação de que Kiev estava bombardeando o local. Já o gabinete do chefe do Eliseu disse que o líder russo concordou com uma missão da Agência Internacional de Energia Atômica a Zaporíjia.

O ministério da Defesa russo também acusou a Ucrânia neste sábado de ter envenenado, no final de julho, militares na parte que o Kremlin controla em Zaporíjia. Um assessor do governo de Kiev respondeu que, na verdade, "os russos podem ter comido carne enlatada vencida", e por isso passaram mal.

De acordo com a Rússia, testes mostraram que um elemento tóxico, a toxina botulínica tipo B, foi encontrada no organismo dos combatentes. A substância é uma neurotoxina que pode causar botulismo quando ingerida em produtos alimentícios previamente contaminados, mas também pode ter uso médico.

Chefe da ONU pede fim de obstáculos a fertilizantes russos

Durante visita ao primeiro navio humanitário fretado pela ONU com grãos ucranianos, o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou neste sábado (20) que os fertilizantes e produtos agrícolas russos devem ser capazes de chegar aos mercados mundiais "sem impedimentos", evitando assim uma crise alimentar.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, no porto de Istambul
O secretário-geral da ONU, António Guterres, no porto de Istambul - Murad Sezer/Reuters

O acordo selado entre Ucrânia e Rússia para retomar a exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro em tese garante a exportação dos produtos agrícolas e fertilizantes russos, apesar das sanções ocidentais. "O que vemos aqui [transporte de grãos ucraniano] em Istambul e em Odessa é apenas a parte mais visível da solução", disse Guterres. "A outra parte deste acordo global é o acesso irrestrito a alimentos e fertilizantes russos que não estão sujeitos a sanções aos mercados globais", afirmou ele.

O chefe da ONU ressaltou que a exportação desses produtos agrícolas russos ainda enfrenta obstáculos.

"Se não houver fertilizantes em 2022, pode não haver comida suficiente em 2023. Obter mais alimentos e fertilizantes de Ucrânia e Rússia é essencial para acalmar os mercados e baixar os preços", acrescentou.

Guterres viajou nesta semana para Lviv, no oeste da Ucrânia, onde se encontrou na quinta-feira com os presidentes ucraniano, Volodimir Zelenski, e turco, Recep Tayyip Erdogan. Na sexta-feira, ele foi para Odessa, um dos três portos destinados à exportação de cereais.

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