De naufrágio de guerra a pegada de dinossauro, veja o que secas já revelaram

Eventos extremos no hemisfério Norte ligados à emergência climática têm baixado nível em leito de rios

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São Paulo

Em meio à seca que atingiu diferentes porções do mundo neste verão do hemisfério Norte —fenômeno que os cientistas atribuem à emergência climática—, uma série de descobertas veio à tona, com o perdão do trocadilho.

O nível mais baixo do leito de rios em diversos países revelou relíquias arqueológicas, preciosidades históricas e até vestígios criminais. Na Europa, por exemplo, navios militares e bombas da Segunda Guerra Mundial reapareceram, bem como curiosas formações rochosas.

Nos EUA, foram pegadas de répteis que viveram há 113 milhões de anos e, na China, uma ilha com estátuas históricas.

Navio de guerra alemão afundado provavelmente em 1944 exposto devido à seca no rio Danúbio, na altura de Prahovo, na Sérvia - Fedja Grulovic
Navio de guerra alemão afundado provavelmente em 1944 exposto devido à seca no rio Danúbio, na altura de Prahovo, na Sérvia - Fedja Grulovic - 19.ago.22/Reuters

A temporada coleciona ainda outros eventos climáticos extremos, que fizeram com que a Inglaterra visse termômetros passarem de 40°C pela primeira vez na história, que países como Portugal revivessem o trauma de mortes em incêndios florestais, que o México encarasse escassez no fornecimento de água em dois terços do país e que a China parasse fábricas por causa do calor.

Corpo em Las Vegas

No dia 25 de agosto, autoridades americanas identificaram um corpo que havia sido encontrado em maio em meio à seca no lago Mead, próximo a Las Vegas. Thomas P. Erndt, 42, teria se afogado em agosto de 2002, segundo o Serviço Nacional de Parques da região.

Neste ano, outros quatro corpos foram encontrados no local. O primeiro, segundo a Bloomberg, é de uma pessoa baleada e colocada dentro de um barril antes de ser jogada no maior reservatório dos EUA. O episódio teria acontecido entre 1970 e 1980.

Pegadas de milhões de anos no Texas

O parque estadual do Vale dos Dinossauros, no Texas, anunciou em 23 de agosto a descoberta de novas pegadas de répteis que viveram há 113 milhões de anos na região. A revelação só foi possível devido à queda do nível de um rio que corta o local.

"Em condições normais, essas novas pegadas estariam submersas e em geral preenchidas com sedimentos, fazendo com que não fossem visíveis mesmo embaixo d'água", disse uma porta-voz. A maioria das pegadas, segundo o parque, corresponderia a um exemplar de acrocantossauro adulto, de 6,3 toneladas e 4,5 metros de altura.

Estátuas centenárias na China

No país asiático, o recuo no nível do rio Yangtze revelou uma ilha submersa na cidade de Chongqing. No local, foi descoberto um trio de estátuas budistas de 600 anos, segundo estimativas da mídia estatal Xinhua.

Os artefatos foram encontrados na parte mais alta do recife da ilha, a princípio identificada como uma construção das dinastias Ming (1368-1644) e Qing (1644-1912).

O índice de chuvas na bacia do rio está cerca de 45% abaixo do normal desde julho. Ao menos 66 rios que atravessam 34 condados em Chongqing secaram, disse a TV estatal.

Artefatos da Segunda Guerra Mundial na Europa

No rio Danúbio, próximo à cidade portuária de Prahovo, na Sérvia, a estiagem fez com que fossem revelados naufrágios de navios de guerra alemães da década de 1940. Alguns deles ainda estavam carregados com artefatos explosivos.

A existência dos naufrágios não é novidade, já que ainda hoje eles dificultam o tráfego fluvial em momentos em que o nível da água baixa muito. Mas a seca deste ano expôs, entre bancos de areia e quase que na totalidade, a carcaça de mais de 20 deles.

Dias antes, no final de julho, autoridades italianas encontraram uma bomba, também da Segunda Guerra, submersa no rio Pó, na região da Lombardia. O artefato, de 450 quilos, foi desarmado duas semanas depois, e os 3.000 moradores das proximidades precisaram ser retirados de casa para a operação.

A Itália chegou a declarar estado de emergência para áreas ao redor do Pó em julho. O rio irriga um terço da produção agrícola do país e enfrenta sua pior seca em ao menos 70 anos.

Construções históricas de pedra na Europa

Na Europa Central, ficaram visíveis as chamadas pedras da fome. Elas recebem esse nome porque, em secas passadas, a população gravava nas rochas uma espécie de marco da dificuldade causada pela estiagem. Segundo a BBC, a inscrição mais antiga encontrada na bacia do rio Elba data de 1616 e está em alemão. Ela diz "wenn du mich siehst, dann weine" —"se você me vir, chore".

A oeste, a seca na Península Ibérica expôs pedras formadas há 5.000 anos, que formam uma espécie de Stonehenge local, num reservatório no sul da Espanha.

Em Roma, a seca expôs também pilares de uma ponte da época do Império Romano no rio Tibre, próximo ao Vaticano. Segundo a agência Associated Press, a estrutura pertencia a uma construção do século 1º, na época de Nero como imperador, que ruiu no século 3º.

Uma das 'pedras da fome' revelada pelo baixo nível de água em Rheindorf, na Alemanha
Uma das 'pedras da fome' revelada pelo baixo nível de água em Rheindorf, na Alemanha - Andy Kranz - 17.ago.22/Reuters
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