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Seca revela navios militares da Segunda Guerra afundados no rio Danúbio

Governo teme risco com explosivos; crise climática agrava estiagem em cursos de água do continente neste verão

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Prahovo (Sérvia) | Reuters

Aquela que é considerada a pior seca dos últimos anos na Europa fez com que o nível do rio Danúbio atingisse um dos pontos mais baixos em quase um século. Fenômeno semelhante atinge outros cursos de água importantes do continente, como o britânico Tâmisa, o alemão Reno e o italiano Pó.

No Danúbio, próximo à cidade portuária de Prahovo, na Sérvia, a estiagem fez com que fossem revelados naufrágios de navios de guerra alemães —alguns deles ainda carregados com artefatos explosivos— da década de 1940.

As embarcações estavam entre centenas que foram afundadas ao longo do rio pela Frota do Mar Negro da Alemanha em 1944, em meio ao recuo dos nazistas ante o avanço das forças soviéticas, já nos estertores da Segunda Guerra.

Navio de guerra alemão afundado provavelmente em 1944 exposto devido à seca no rio Danúbio, na altura de Prahovo, na Sérvia - Fedja Grulovic - 19.ago.22/Reuters

A existência dos naufrágios no leito do rio não é novidade, já que ainda hoje eles dificultam o tráfego fluvial em momentos em que o nível da água baixa muito. Mas a seca deste ano expôs, entre bancos de areia e quase que na totalidade, a carcaça de mais de 20 deles —multiplicando ainda mais os riscos à navegação na região, por causa dos explosivos.

O local também é um centro de atividade pesqueira, inclusive para profissionais da Romênia; o curso do Danúbio acompanha a fronteira entre os dois países. O nível mais baixo da água estreitou a porção navegável nesse trecho do rio, de 180 para cerca de 100 metros.

"Essa flotilha alemã deixou para trás um imenso desastre ecológico que hoje ameaça a cidade de Prahovo", diz à agência Reuters Velimir Trajilovic, 74, autor de um livro sobre as embarcações.

Em março, o governo sérvio abriu uma licitação para uma operação de resgate dos naufrágios —que ostentam mastros quebrados, torres de tiro e pontes de comando— e remoção de munições e explosivos. O custo da operação foi estimado em € 29 milhões (R$ 151 milhões).

Com o agravamento da estiagem, o país também providenciou uma dragagem em alguns trechos do Danúbio, de forma a manter a navegabilidade.

O verão do hemisfério Norte tem acumulado eventos climáticos extremos em muitas partes do continente europeu. Na Inglaterra, por exemplo, os termômetros passaram de 40°C pela primeira vez na história no mês passado, e o governo decretou estado de seca em metade do país.

A estiagem também comprometeu a navegação no rio Pó, na Itália —onde, aliás, a seca revelou recentemente bombas do tempo da Segunda Guerra. Na França, em Portugal e na Espanha, que também têm convivido com temperaturas altas e chuvas abaixo do normal, incêndios florestais são uma grande preocupação.

Na Alemanha, o que veio à tona no rio Elba foram as "pedras da fome", rochas com marcos e mensagens cravadas sobre as catástrofes desencadeadas pela falta de água e lembranças das dificuldades sofridas durante as secas. No Reno, empresas disseram nesta sexta que o nível da água está tão baixo que impede a circulação de algumas embarcações mesmo vazias.

Chuvas são esperadas para os próximas dias na região, mas devem elevar o nível em 50 a 80 centímetros, quando o normal para essa época do ano seria de 1 a 1,50 metro a mais do que o atual. Um ponto de referência em Frankfurt indicava um nível da água de 35 centímetros. Indústrias como a Shell já começaram a reduzir sua produção por causa da estiagem.

Os cientistas apontam que o aumento dos eventos extremos está diretamente ligado à emergência climática, causada pela ação humana.

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