Descrição de chapéu Folhajus

Trump se recusa a responder perguntas em depoimento sobre fraudes em NY

Ex-presidente dos EUA é investigado por supostas irregularidades envolvendo seu grupo empresarial

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington | Reuters

Dois dias depois de ter sua propriedade na Flórida alvo de uma operação de busca do FBI, o ex-presidente Donald Trump compareceu à Procuradoria-Geral de Nova York nesta quarta-feira (10) para depor em um caso que investiga supostas manobras fiscais de suas empresas. Cerca de uma hora após entrar no prédio, porém, ele divulgou um comunicado dizendo que se negaria a responder as perguntas.

O republicano alegou usufruir dos direitos dispostos na Constituição americana, em referência à Quinta Emenda, que assegura o direito a um investigado de permanecer calado e evitar autoincriminar-se.

Donad Trump acena para imprensa em Nova York - David 'Dee' Delgado - 10.ago.22/Reuters

"Quando sua família, sua empresa e todas as pessoas ao seu redor se tornam alvos de uma caça às bruxas com motivação política, apoiada por advogados, promotores e pela mídia, você não tem escolha", disse ele na nota.

O ex-presidente só deixou o prédio da Procuradoria seis horas depois. Em novo comunicado, não sem certa dose de ironia, disse que teve uma "reunião muito profissional", vangloriando-se de seu grupo empresarial. A jornalistas um de seus advogados, Ronald Fischetti, disse que o depoimento durou quatro horas, com alguns intervalos, e que Trump respondeu a apenas uma pergunta, ligada a seu nome.

Segundo esse relato, ele então leu um comunicado a Letitia James, procuradora-geral de Nova York, no qual repetiu as acusações de que a apuração é uma caça às bruxas e parte de uma operação política para destruir sua reputação. Depois, repetiu as palavras "mesma resposta" a cada uma das perguntas, feitas entre 9h30 e 15h no horário local (10h30 e 16h, em Brasília).

Fischetti afirmou que James não acompanhou todo o depoimento, delegando-o a um de seus auxiliares. "Eles perguntaram sobre avaliações empresariais, clubes de golfe, essas coisas", disse, completando que a defesa não havia antecipado aos investigadores que o ex-presidente faria uso da Quinta Emenda. "Ele [Trump] queria muito depor, custou muito de nosso esforço de persuasão para convencê-lo [a seguir essa estratégia."

Um porta-voz da Procuradoria confirmou que Trump invocou a Quinta Emenda e disse que James "continuará buscando os fatos" e que a apuração continua.

A investigação civil em questão apura se as Organizações Trump inflaram valores de algumas propriedades para obter empréstimos mais vantajosos e baixaram seus valores para conseguir isenções fiscais. Apesar de o advogado dizer que Trump queria testemunhar, por meses ele tentou evitar fazê-lo. Em junho, ele enfim concordou em depor, após decisões judiciais rejeitarem o argumento de que a investigação seria politicamente motivada.

Em uma mensagem na noite de terça (9) no aplicativo Truth Social, criado por ele, o ex-presidente disse que estaria com Letitia James.

Nesta quarta, ele deixou a Trump Tower e ergueu o braço exibindo o punho fechado para cerca de 200 pessoas que o aguardavam. Havia apoiadores —um gritou "nós te amamos, nos salve"— e detratores —dois homens entoaram o slogan "prendam-no".

Em seus comunicados sobre o depoimento, Trump fez comentários depreciativos sobre a procuradora-geral, citando os índices de criminalidade em Nova York.

James, uma democrata, chegou a anunciar no ano passado que disputaria a eleição para o governo do estado, episódio que serviu de combustível para críticas do ex-presidente. Pouco depois, porém, ela desistiu da empreitada dizendo que ainda tinha muito a fazer na Procuradoria.

A estratégia de Trump agora é tentar vincular os episódios desta semana, ainda que a operação de busca do FBI em Mar-a-Lago envolva um caso distinto, que apura a remoção e a destruição ilegal de arquivos da Casa Branca pelo ex-presidente.

No caso de supostas manobras fiscais em Nova York, os filhos de Trump também são investigados. De acordo com uma fonte da Reuters, Donald Jr. e Ivanka já teriam prestado depoimento —ainda que não se saiba se eles usaram o recurso da Quinta Emenda, como o pai fez nesta quarta e o irmão Eric, em 2020.

O ex-presidente no passado zombou dos que usam o direito da Quinta Emenda. Nesta quarta, porém, tentou usar a declaração a seu favor; em seu comunicado no qual chamou as investigações de caça às bruxas, escreveu: "Uma vez eu perguntei 'se você é inocente, por que está invocando a Quinta Emenda?'. Agora eu sei a resposta a essa pergunta".

Analistas avaliam que a estratégia pode ter consequências para o ex-presidente, já que seu silêncio será levado em conta num eventual julgamento. Ela pode pesar também em outra espécie de veredicto ansiado por Trump, a corrida presidencial de 2024, com adversários como o atual presidente, Joe Biden, tendo isso como munição contra ele.

Seus advogados, por outro lado, defenderam que as palavras do republicano poderiam ser usadas injustamente contra ele em outra investigação criminal sobre as Organizações Trump, liderada pelo distrito de Manhattan, na qual James também tem envolvimento indireto. Um porta-voz do promotor Alvin Bragg, que lidera o caso, afirmou nesta quarta que a apuração continua.

As duas são algumas das ações que envolvem Trump como ​personagem-chave. Além delas, outros processos em andamento dizem respeito à invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e à tentativa de adulterar resultados eleitorais na Geórgia.

Trump nega todas as acusações e diz que é alvo de uma perseguição de cunho político. No recente comunicado, voltou ao assunto: "Se havia alguma dúvida, a invasão à minha casa, Mar-a-Lago, apenas dois dias antes do meu depoimento, provou que muitos promotores neste país perderam todos os limites morais e éticos". E seguiu: "Não fiz nada de errado, e é por isso que, após cinco anos de busca, não encontraram nada".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.