Descrição de chapéu Governo Biden

Biden sobe o tom contra Trump e chama extremismo republicano de ameaça aos EUA

Democrata define eleição legislativa como 'batalha pela alma da nação' e convoca americanos a lutar pela democracia

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Washington

Em uma nova escalada na já tensa polarização política nos Estados Unidos, o presidente Joe Biden criticou o ex-mandatário Donald Trump e seus apoiadores, a quem acusou de "estar determinados a levar o país para o passado", em um discurso na noite desta quinta-feira (1º) na Filadélfia.

"A um passado onde não havia direito de escolha, direito à privacidade, direito à contracepção, direito de se casar com quem você ama", disse o americano no pronunciamento, tido como o mais duro de seu mandato até aqui. Biden convocou os cidadãos a lutarem pela democracia, que descreveu como alvo de ataque. "Por muito tempo, dissemos a nós mesmos que a democracia nos EUA está garantida. Mas não está. Precisamos defendê-la, protegê-la. Ergam-se para isso, todos nós e cada um de nós."

Foi a primeira vez na história recente do país que um mandatário do país afirmou que seu antecessor é uma ameaça. Com a ressalva de que "nem todos os republicanos concordam com essa ideologia extremista", Biden afirmou que o partido "é dominado e intimidado por Trump e pelo Maga [sigla do slogan de Trump, 'faça os EUA grandes novamente'], e isso é uma ameaça ao país."

Ele afirmou ainda que os apoiadores de Trump não respeitam a Constituição ou a vontade do povo e que não ficará quieto ao ver "a democracia sendo atacada por pessoas que não aceitam que perderam."

Presidente dos EUA, Joe Biden, em discurso duro contra extremismo político nesta quinta - Jim Watson/AFP

O local escolhido para o discurso, às portas do Independence Hall, foi o mais simbólico possível. A Filadélfia é considerada o berço da democracia americana, e nesse prédio foram assinadas a declaração de Independência, em 1776, e a Constituição, em 1787. Na fala de 25 minutos, transmitida ao vivo em horário nobre da TV, Biden fez uma série de referências à fundação da nação.

A pouco mais de dois meses das eleições legislativas de meio de mandato, as midterms, e sob a expectativa de que os republicanos recuperem maioria pelo menos na Câmara —se não também no Senado—, o democrata abandonou na prática os pedidos de união para elevar o tom contra adversários.

Biden se referiu à eleição como "a batalha pela alma da nação".

A Pensilvânia tem ainda o simbolismo de ser o estado natal de Biden e ter definido sua vitória na eleição de 2020. É um dos chamados estados-pêndulo, que não têm alinhamento claro a democratas ou republicanos —o que terá peso nas midterms— e elegerá um novo governador em novembro.

Por isso, em menos de uma semana o presidente vai para lá três vezes —230 km separam a Filadélfia da capital, Washington. No próximo sábado (3), Trump também deve viajar ao estado, para um comício com candidatos republicanos ao governo e ao Senado.

Retórica parecida a desta quinta já tinha sido usada por Biden em um evento privado de doadores de campanha na última semana em Maryland. "O que estamos vendo agora é o começo ou a sentença de morte de uma filosofia extremista do Maga", disse, na ocasião. "Não é apenas Trump, é toda a filosofia que sustenta —vou dizer uma coisa, é como um semifascismo."

A fala provocou reações, e nesta quinta o líder da minoria da Câmara, o republicano Kevin McCarthy, afirmou que a primeira frase que Biden deveria ter dito em seu discurso era "um pedido de desculpas por caluniar dezenas de milhões de americanos chamando-os de fascistas". Segundo ele, "Biden escolheu dividir, rebaixar e menosprezar compatriotas só porque eles discordam de suas políticas".

Na terça (30), também na Pensilvânia, o presidente já havia dito que "é doentio ver novos ataques contra o FBI, ameaçando as vidas de agentes por cumprirem a lei e fazerem seu trabalho".

Biden se referia às ameaças contra agentes da polícia federal americana após a operação em uma mansão de Trump no começo de agosto, em busca de documentos sigilosos retidos pelo republicano —investigado sobre possível violação da lei de espionagem e obstrução de justiça.

A busca na casa de Trump acirrou ainda mais o já tenso clima político e elevou alertas contra terrorismo doméstico. Nesta quinta, o presidente reafirmou que "não há lugar para violência política nos EUA".

Para dimensionar a importância desse discurso para a Casa Branca, o texto vinha sendo preparado desde o começo do verão do hemisfério Norte, segundo a imprensa local. Mas era uma fala arriscada para um presidente de popularidade claudicante, com apenas 38% de aprovação segundo pesquisa Reuters/Ipsos.

O momento, porém, é ligeiramente mais favorável. Biden viu certo alívio em indicadores econômicos, como o preço da gasolina; aprovou medidas como o alívio de US$ 10 mil da dívida estudantil até certas faixas de renda; e obteve vitórias significativas no Parlamento, como a aprovação de um pacote ambiental.

Nesta quinta, pesquisa do Wall Street Journal mostrou pela primeira vez a população americana mais inclinada a votar em candidatos democratas (47%) do que em republicanos (44%) nas midterms. Em março, data da pesquisa anterior, as taxas eram de 41% e 46%, respectivamente.

Excertos do discurso foram divulgados pela imprensa ao longo do dia, o que elevou ainda mais as expectativas e antecipou críticas.

"Os ataques miseráveis de Biden a milhões de americanos alimentaram ataques a escritórios do Partido Republicano e uma tentativa de assassinato de um juiz da Suprema Corte [Brett Kavanaugh]. Sua agenda colocou vizinhos uns contra os outros, recompensou ricos enquanto punia famílias trabalhadoras e esmagou direitos e liberdades", disse a presidente do Partido Republicano, Ronna McDaniel. "Biden é o divisor-chefe e resume o estado atual do Partido Democrata: divisão, desgosto e hostilidade em relação a metade do país."

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