Brasileiro é hostilizado por bolsonaristas em Londres; inglês pede respeito

Homem gritou 'mito é Jesus' a grupo de apoiadores do presidente, e morador local defendeu liberdade de expressão

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Londres

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que está em Londres para o funeral da rainha Elizabeth 2ª, confrontaram nesta segunda-feira (19) um cidadão inglês que defendia o direito à livre manifestação na capital britânica.

O episódio ocorreu após um homem se opor ao grupo bolsonarista nos arredores da residência oficial do embaixador do Brasil no Reino Unido, onde o presidente está hospedado, e gritar "mito é Jesus".

Apoiadores do presidente reagiram com frases como "petista ladrão", "vai para Cuba" e "vai para a Venezuela" e cercaram o homem, até que Chris Harvey, um inglês aposentado, saiu em sua defesa.

Ele disse que, uma vez no Reino Unido, o homem hostilizado tinha todo o direito de protestar sem se sentir ameaçado pelos outros. "As pessoas precisam ter respeito; o funeral da rainha acaba de acontecer."

Harvey também foi cercado por bolsonaristas, que começaram a questionar se ele já havia ido ao Brasil para poder opinar sobre o tema e a gritar "Globo lixo" várias vezes.

A cena ocorreu pouco após Bolsonaro voltar à residência depois de uma recepção promovida pela chancelaria britânica. Ali também estavam o pastor Silas Malafaia e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que integram a comitiva do presidente.

Quando Bolsonaro novamente saiu, desta vez em direção ao aeroporto, o brasileiro voltou a gritar frases com questões sensíveis que envolvem o governo, como "cadê o Queiroz?", em referência a Fabrício Queiroz, pivô da acusação contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no caso das "rachadinhas".

Malafaia disse que presenciou a cena e que o verdadeiro alvo foi ele. "Quem foi hostilizado fui eu. Quando saio da casa do embaixador, o cara grita: 'Malafaia, você está sendo parcial'." Segundo o pastor, com o homem insistindo em gritar "mito é Jesus", ele chamou o sujeito de bobo e só então instigou os bolsonaristas na porta a expressar quem eles apoiavam. "O povo estava quieto, esperando o presidente."

O líder evangélico disse que a Folha colocou como vítima o brasileiro anti-Bolsonaro. "Que jornalismo é esse, gente? Isso é uma coisa vergonhosa."

Esse não foi o primeiro episódio de hostilidade envolvendo apoiadores do presidente em Londres. No domingo (18), dois jornalistas brasileiros que trabalham na rede britânica BBC foram hostilizados, também nos arredores da residência do embaixador, quando trabalhavam.

Os jornalistas Laís Alegretti e Giovanni Bello, que cobriam a visita, foram abordados por pessoas do grupo que estava ali. "Não sei o que vocês estão fazendo aqui. Vocês não são bem-vindos", diz um deles.

Outro pergunta a Bello, que atua como cinegrafista, qual o nome dele. Quando o jornalista declina, ouve em resposta. "Isso significa que ele não está se comprometendo com a verdade". A Folha procurou a BBC em busca de um posicionamento, mas ainda não obteve resposta.

Bolsonaro tem promovido pequenos atos com apoiadores desde que desembarcou em Londres na manhã de domingo. Nas ocasiões, criticou seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o Supremo Tribunal Federal (STF).

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