Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Comissão da ONU acusa Rússia por crimes de guerra na Ucrânia

Tortura, estupro e confinamento de crianças foram táticas dos invasores, diz relatório; Moscou não responde

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Genebra | Reuters e AFP

Uma comissão de inquérito das Nações Unidas acusou a Rússia nesta sexta-feira (23) de cometer crimes de guerra —incluindo tortura, estupro, confinamento de crianças e execuções sumárias— nos territórios ocupados desde o início da Guerra da Ucrânia, há sete meses.

O grupo que conduziu as investigações levou acusações diretas contra Moscou ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, em Genebra —representantes russos esvaziaram a bancada e não responderam às denúncias.

Caixão em floresta perto de Izium, onde investigadores ucranianos encontraram corpos em valas comum - Sergey Bobok -23.set.22/AFP

"Com base nas evidências coletadas pela comissão, concluiu-se que crimes de guerra foram cometidos na Ucrânia", disse o presidente do corpo investigativo, Erik Mose.

Apesar de não ter se manifestado oficialmente após a apresentação do relatório, Moscou nega as acusações e diz que elas fazem parte de uma campanha de difamação. Afirma ainda não atacar civis de forma deliberada.

O inquérito se concentrou em algumas áreas antes ocupadas pelas forças russas: Kiev, Tchernihiv, Kharkiv e Sumi. O relatório, no entanto, não aponta responsáveis pelos crimes, alimentando a discussão sobre a ineficácia da ONU como mediadora para o fim da guerra.

Criado no primeiro mês do conflito, o comitê visitou 27 localidades e entrevistou mais de 150 vítimas e testemunhas. Ao final do mandato, em março de 2023, deve submeter um relatório final ao órgão da ONU com recomendações para responsabilizar e punir, com efeito, aqueles que forem indicados como culpados.

A comissão encontrou um grande número de execuções nas áreas que visitou, incluindo corpos com as mãos amarradas, gargantas cortadas e ferimentos de bala na cabeça, segundo Mose. Ele acrescentou que os investigadores identificaram vítimas de violência sexual com idades entre 4 e 82 anos. Crianças foram estupradas, torturadas e confinadas ilegalmente, afirmou.

Além disso, as testemunhas relataram aos investigadores maus-tratos e tortura, perpetrados durante detenções ilegais. Algumas vítimas indicaram que, após uma primeira prisão pelas forças russas na Ucrânia, foram transferidas para o país inimigo e mantidas detidas por semanas em prisões.

"Os interlocutores descreveram espancamentos, choques elétricos e nudez forçada, além de outros tipos de violações nesses locais de detenção", destacou Mose, observando que algumas vítimas transferidas para a Rússia teriam desaparecido.

De acordo com o presidente, a comissão identificou apenas dois casos de maus-tratos de soldados russos por forças ucranianas até agora. Outro investigador, Pablo de Greiff, disse que há uma diferença considerável entre crimes de guerra cometidos em grande escala, por um lado, e dois casos de maus-tratos, por outro.

As acusações diretas da comissão, longe da habitual cautela da ONU, foram elogiadas por diplomatas. "A apresentação leva à reflexão sobre o alcance e amplitude dessas atrocidades e seu impacto duradouro na vida de dezenas ou centenas de milhares de civis inocentes, incluindo crianças", disse o embaixador britânico Simon Manley.

Em uma participação por vídeo, um representante da Ucrânia, Anton Korinevich, descreveu a apresentação dos investigadores como um marco importante para o estabelecimento de responsabilidades perante a Justiça, e lembrou que seu país pede a criação de um tribunal especial para julgar os crimes russos na Ucrânia.

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