Ditadura de Mianmar eleva pena de ex-líder civil a 20 anos e inclui trabalho forçado

Prêmio Nobel da Paz Aung San Suu Kyi foi detida após novo golpe do Exército no país em 2021

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Naypyitaw (Mianmar) | Reuters

Mianmar sentenciou nesta sexta-feira (2) a ex-governante do país Aung San Suu Kyi a mais três anos de prisão com trabalho forçado, afirma uma fonte que acompanhou o processo. Com isso, a Nobel da Paz, que tem 77 anos, acumula uma pena de 20 anos. Ela nega todas as acusações.

Líder da oposição ao regime por décadas, Suu Kyi foi detida após um novo golpe do Exército no ano passado. No julgamento desta sexta, foi considerada culpada por fraudes nas eleições gerais de novembro de 2020, quando seu partido —a Liga Nacional pela Democracia— ganhou o pleito para o Legislativo com uma maioria esmagadora sobre a legenda criada pelos militares.

Aung San Suu Kyi discursa em uma coletiva de imprensa conjunta com o primeiro-ministro sueco no palácio do governo, Rosenbad, em Estocolmo - Jonathan Nackstrand - 2.set.22/AFP

A fonte da agência Reuters, que se recusou a ser identificada porque não estava autorizada a falar com a imprensa, afirmou que esta foi a primeira vez que uma sentença dada a Suu Kyi incluiu trabalho forçado —e que não se sabe o que isso significa. Réu no mesmo processo, o presidente deposto Win Myint recebeu uma sentença equivalente.

A junta militar que rege o país desde o golpe não respondeu ao pedido de comentário da reportagem. Ela afirmou em ocasiões anteriores que a Nobel da Paz enfrenta um processo justo.

Ex-presos descrevem as condições de determinados presídios em Mianmar como particularmente severas, e, nos últimos anos, relatos na imprensa afirmaram que alguns desses locais fazem uso de algemas e de trabalhos forçados em pedreiras.

Mesmo assim, um oficial da Associação de Assistência a Prisioneiros Políticos, grupo de ativistas que rastreia detenções, afirmou que não espera que uma prisioneira política tão visada quanto Suu Kyi seja exposta a trabalho extremo —até porque isso significaria ter contato com outros presos, o que poderia levar a sublevações.

Ele acrescenta que há leis que governam as prisões de Mianmar que recomendam que idosos e indivíduos de saúde frágil sejam poupados desse tipo de esforço.

Desde o golpe no ano passado, Suu Kyi está sendo julgada por mais de uma dúzia de crimes —acusações que alguns dizem ter como objetivo garantir que ela nunca mais retome a atividade política.

O partido da ex-líder civil formou um governo após as eleições de 2015, mas foi obrigado a dividir o poder com o Exército. Até que os militares, que comandaram o país dos anos 1960 até 2010, encerraram abruptamente o processo de abertura há um ano. Desde então, a economia entrou em colapso e há cortes regulares de energia e restrições de acesso à internet.

Em junho, Suu Kyi foi transferida para uma cela solitária em uma cadeia na capital do país, Naypyitaw, cuja localização é desconhecida.

Um oficial das Nações Unidas pediu recentemente que o regime de Mianmar permitisse que ela voltasse para casa. O chefe da junta militar, Min Aung Hlaing, disse no mês passado que consideraria transferi-la para prisão domiciliar, mas só após o anúncio de todos os veredictos dos casos pelos quais ela é julgada.

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