Irã mira curdos e mata 13 no 12º dia de protestos; presidente fala em não tolerar caos

Ação da Guarda Revolucionária tem como alvo grupo étnico ao qual pertencia Mahsa Amini

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Dubai | AFP e Reuters

Mísseis e drones disparados pela Guarda Revolucionária do Irã mataram ao menos 13 pessoas e feriram outras 24 ao atingirem sedes de organizações dissidentes curdas no norte do Iraque na manhã desta quarta-feira (28), afirma a agência de notícias estatal Irna. Segundo um membro sênior do Komal, partido curdo de oposição ao regime iraniano, escritórios da legenda também foram atingidos.

O ministro de Relações Exteriores do Iraque condenou a ofensiva, que teve como alvo áreas próximas às cidades de Erbil, capital da região autônoma do Curdistão no Iraque, e Sulaimaniya.

Mulheres protestam contra a morte de Mahsa Amini após ser detida pela 'polícia moral' iraniana em frente ao escritório da ONU em Erbil, capital da região autônoma do Curdistão no Iraque - Safin Hamed - 24.set.22/AFP

Os ataques ocorrem depois de o regime iraniano acusar os separatistas curdos armados de fomentarem a onda de protestos liderados por mulheres que tomou o país nas últimas semanas. Membros da Guarda Revolucionária, a elite militar do país, afirmaram em pronunciamento na TV que o episódio marca o início de uma repressão ainda maior aos dissidentes —chamados pelo regime de terroristas.

"A operação continuará até que sua ameaça seja extinta, que as bases dos grupos terroristas sejam desmanteladas e que as autoridades da região do Curdistão assumam suas obrigações e responsabilidades."

Os protestos, que acontecem todas as noites, começaram há 12 dias, quando Mahsa Amini, 22, morreu depois de passar três dias em coma sob a custódia da polícia. Ela havia sido detida em Teerã por autoridades encarregadas de aplicar o rígido código de vestimenta do país —ela supostamente não estava usando hijab, o véu islâmico.

O fato de Amini ser curda acrescentou às manifestações a dimensão da violência étnica no Irã; há um número desproporcional de curdos executados pelo regime todos os anos. Alguns manifestantes removeram o hijab em desafio ao regime e o queimaram ou cortaram simbolicamente o cabelo antes de aplaudir a multidão, segundo imagens publicadas nas redes sociais.

Nesta quarta, a polícia iraniana voltou a advertir que se "oporá com todas as suas forças" àqueles que insistirem em ir às ruas. Mais tarde, o presidente do país, o ultraconservador Ebrahim Raisi, disse em pronunciamento que a morte de Amini entristece a todos, mas que não permitirá caos durante os protestos.

Ele também defendeu as forças de segurança, que entraram em confronto com manifestantes nas últimas duas semanas em todo o Irã. Balanço divulgado pela agência de notícias estatal Fars na véspera apontou que quase 60 pessoas morreram nos atos desde o início do movimento e 1.200 foram detidas.

Esta é a maior onda de insatisfação registrada no país do Oriente Médio desde 2019, quando uma alta no preço de combustíveis levou multidões às ruas. Também na época, a repressão foi brutal, com as forças de segurança usando armas de fogo, canhões de água e gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes e atiradores de elite disparando do telhado de edifícios.

Um primo de Amini que vive no Curdistão e é contra o regime iraniano relatou à agência de notícias AFP que a jovem morreu após receber um "violento golpe na cabeça" da polícia.

Creditando as informações à mãe da jovem, Erfan Salih Mortezaee, 34, afirmou que Amini teve mãos e pernas espancadas com uma bengala, até que os policiais a atingiram na cabeça e ela perdeu a consciência. A polícia, por sua vez, alega que a jovem sofreu um ataque cardíaco e negam qualquer agressão.

Na terça (27), seguindo os protestos no país, jogadores da seleção iraniana de futebol vestiram um casaco preto sem a bandeira do país durante a execução do hino nacional em um amistoso contra Senegal.

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