Rússia pode estar sem opções e comprando armas da Coreia do Norte, dizem EUA

Sanções impostas pelo Ocidente limitaram capacidade russa de reconstruir Forças Armadas após baixas na Ucrânia

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Julian Barnes
Washington | The New York Times

A Rússia está comprando milhões de projéteis de artilharia e foguetes da Coreia do Norte, de acordo com relatórios da inteligência dos EUA, num indício de que as sanções restringiram gravemente a cadeia de suprimentos e forçaram Moscou a recorrer a Estados considerados párias para suprimentos militares.

A revelação ocorre dias depois de a Rússia receber carregamentos iniciais de drones fabricados no Irã, alguns dos quais teriam problemas mecânicos, segundo autoridades americanas.

Plataforma lança drone fabricado no Irã, durante testes em local não identificado do país - Divulgação Escritório do Exército do Irã - 25.ago.22/AFP

Os EUA forneceram poucos detalhes dos relatórios de inteligência sobre o armamento exato, o momento ou o tamanho da remessa de Pyongyang, e ainda não há como verificar a venda de forma independente. Uma autoridade americana disse que, além de foguetes de curto alcance e projéteis de artilharia, espera-se que a Rússia tente comprar equipamentos norte-coreanos adicionais de agora em diante.

"O Kremlin deveria estar alarmado por ter que comprar qualquer coisa da Coreia do Norte", disse Mason Clark, que lidera a equipe da Rússia no Instituto para o Estudo da Guerra.

Antes da invasão da Ucrânia, a Casa Branca começou a diminuir o nível do sigilo imposto a relatórios de inteligência sobre os planos militares de Moscou, depois divulgando esse material, primeiro para aliados em particular e depois para o público. Agora Washington voltou a revelar informações para salientar as dificuldades dos militares russos, incluindo a recente informação sobre drones iranianos e problemas do Exército para recrutar soldados.

Amplas sanções, pelo menos até agora, não paralisaram a Rússia. Os preços da energia, impulsionados pela invasão, encheram seu tesouro e permitiram a Moscou atenuar as consequências da exclusão de bancos das finanças internacionais e das restrições a exportações e importações. Punições a oligarcas russos também não conseguiram minar o poder do presidente Vladimir Putin.

Mas as autoridades americanas disseram que, no que se refere à capacidade de Moscou de reconstruir suas Forças Armadas, as ações econômicas do Ocidente foram eficazes, tendo bloqueado a capacidade de comprar armamento ou eletrônicos para fabricá-lo.

Moscou esperava que a China concordasse em contrariar esses controles de exportação e continuasse abastecendo os militares russos. Mas nos últimos dias autoridades americanas disseram que, embora Pequim quisesse comprar petróleo com desconto, pelo menos até agora respeitou controles de exportação que visam aos militares de Moscou e não tentou vender equipamentos ou componentes militares.

A secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, alertou repetidamente a China de que, se a maior fabricante de chips do país ou outras empresas violarem sanções contra a Rússia, os EUA efetivamente fecharão esses negócios, cortando seu acesso à tecnologia americana de que precisam para fazer semicondutores.

Com a maioria dos países agindo com cautela diante da pressão americana, a Rússia concentrou seus acordos no Irã e na Coreia do Norte.

Teerã e Pyongyang estão em grande parte isolados do comércio internacional devido às sanções americanas e internacionais, o que significa que não têm muito a perder se fecharem acordos com a Rússia. Qualquer acordo para comprar armamento da Coreia do Norte seria uma violação de resoluções da ONU.

Não está claro, porém, o quanto a compra tem a ver com as sanções. "Não há nada de alta tecnologia em um projétil de artilharia de 152 mm ou em um foguete estilo Katyusha que a Coreia do Norte produz", disse Frederick Kagan, especialista militar do Instituto de Empresas Americanas.

"A única razão pela qual o Kremlin deveria comprar projéteis de artilharia ou foguetes de Pyongyang ou de qualquer país é porque Putin não quis ou não conseguiu mobilizar a economia russa para a guerra, mesmo no nível mais básico."

Restringir a cadeia de suprimentos militares da Rússia é parte central da estratégia dos EUA para enfraquecer Moscou, com o objetivo de dificultar tanto seu esforço de guerra na Ucrânia quanto sua capacidade futura de ameaçar seus vizinhos.

Está claro há meses, tanto pelas operações russas na Ucrânia quanto pelas divulgações do governo americano, que Moscou tem dificuldades com armas de alta tecnologia. O armamento guiado com precisão, como mísseis de cruzeiro, experimentou altas taxas de falha, em especial nos estágios iniciais da guerra.

Os estoques russos também se esgotaram, forçando os generais a confiar menos nos mísseis e a construir sua estratégia em torno de um ataque brutal de artilharia que devastou cidades no leste da Ucrânia.

A revelação de que a Rússia está buscando mais munição de artilharia é sinal de que os problemas de abastecimento de Moscou são provavelmente mais profundos do que apenas componentes de ponta para tanques de última geração ou mísseis de precisão. "É provável que isso seja uma indicação de um fracasso maciço do complexo industrial militar russo, que provavelmente tem raízes profundas e implicações muito sérias para as Forças Armadas", disse Kagan.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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