Laureado com o prêmio Nobel da Paz de 2022, o ativista Ales Bialiatski, 60, está preso na Belarus, comandada a mão de ferro pelo ditador Aleksandr Lukachenko, desde julho de 2021. Ele é um dos mais renomados defensores de direitos humanos em seu país.
Bialiatski fundou em 1996 o Centro de Direitos Humanos Viasna (primavera), como resposta à repressão patrocinada por Lukachenko, que havia chegado ao poder dois anos antes. Desde então, foi perseguido judicialmente diversas vezes pelo regime aliado de Moscou.
A organização presta apoio a pessoas que participam de manifestações e a familiares de presos políticos. Com sede na capital, Minsk, tem cerca de 200 membros em todo o país, segundo informações oficiais.
Bialiatski já havia sido preso anteriormente, em novembro de 2011, quando foi condenado a quatro anos e meio de prisão em regime fechado por acusações de evasão fiscal –o que organizações de direitos humanos alegam ser uma desculpa forjada para encarcerá-lo. Foi libertado depois de três anos.
À época, a Justiça belarussa alegou que o ativista mantinha montantes de dinheiro em contas na Lituânia. O dinheiro, no entanto, era fornecido por organizações internacionais para que fosse usado pela Viasna em apoio aos perseguidos. Bialiatski guardava a verba fora de seu país de origem por medo de que ela fosse confiscada.
Desta vez, ele é alvo de acusação semelhante. Segundo a Federação Internacional de Direitos Humanos, o ativista foi detido por supostas movimentações ilegais de dinheiro na fronteira. Outros dois membros da Viasna são alvos de acusações semelhantes de contrabando e aguardam julgamento –o Judiciário, no entanto, é alinhado ao regime.
Lukachenko, ex-gerente de uma fazenda coletiva soviética, venceu a eleição presidencial de 1994, mas desde então deu início a uma empreitada autoritária na ex-república soviética. Após sua contestada reeleição em 2020, um conselho de transição foi formado por membros da sociedade civil para pleitear a transição de poder. Bialiatski o integrava, e o grupo também foi assediado judicialmente.
Há poucas semanas, a Viasna enviou comunicado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU alertando para a possível deterioração da saúde de Bialiatski. No texto, a organização alega que ele está sendo mantido em uma espécie de corredor especial, com acesso precário à luz e sem acesso a correspondência com familiares.
A ONG diz ainda que autoridades belarussas estão detendo sistematicamente qualquer pessoa que exerça o direito à liberdade de expressão –apenas no último mês, 387 teriam sido presos.
"Ales Bialiatski dedicou sua vida a promover a democracia e o desenvolvimento pacífico em seu país de origem", disse o comitê norueguês do Nobel durante a justificativa na premiação nesta sexta (7). "Apesar das enormes dificuldades pessoais, ele não cedeu um centímetro na sua luta pelos direitos humanos na Belarus."
O comitê também pediu publicamente pela liberdade do ativista e criticou a repressão promovida pela ditadura da Belarus. O prêmio foi triplo: o Memorial, grupo de direitos humanos da Rússia, e o Centro para Liberdades Civis da Ucrânia dividiram a láurea com o ativista.
Svetlana Tikhanovskaia, outro importante nome da oposição belarussa e cotada para ganhar o Nobel, disse estar "incrivelmente orgulhosa" do colega. "O prêmio é um importante reconhecimento para todos os belarussos que lutam por liberdade e democracia", escreveu.
Não se pode dizer, no entanto, que a notícia tenha trazido esperança. "Me questionaram se o prêmio pode libertar Ales. Serei sincera: não vai. E isso pode inclusive aumentar seu valor como um refém do regime, porque eles estão tentando usar presos políticos como poder de barganha", disse Tikhanovskaia.
Da parte do regime, coube o desdém. "Nos últimos anos, as decisões do prêmio Nobel da Paz estão tão politizadas que Alfred Nobel [químico que dá nome ao prêmio] está se revirando no túmulo", afirmou o porta-voz da chancelaria da Belarus, Anatoli Glaz, em uma rede social.
Em 2015, outra figura crítica a Lukachenko ganhou o Nobel, mas na categoria Literatura: a belarussa Svetlana Aleksiévitch, obrigada a se exilar do país em 2000. Opositora ao regime, ela também tem criticado a Guerra da Ucrânia, que recebe apoio de Minsk.
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