Irã se recusa a liberar corpos de manifestantes mortos, diz ONU

Protestos voltaram a se intensificar esta semana, após 40 dias desde a morte de Mahsa Amini

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São Paulo

O Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU afirmou nesta sexta-feira (28) que o Irã se recusa a liberar corpos de alguns dos manifestantes mortos na onda de protestos que mobiliza o país desde a morte de Mahsa Amini, há pouco mais de um mês.

A curda iraniana de 22 anos morreu sob custódia da polícia, após supostamente violar o rígido código de vestimenta do país. Sua morte motivou as maiores demonstrações vistas no país do Oriente Médio em anos —ONGs apontam que ao menos 250 pessoas morreram em confrontos com a polícia nos atos até agora, e que milhares foram presos.

Incêndio no prédio do regime em Mahabad, na região do oeste do Irã, majoritariamente curda - UCG - 27.out.22/AFP

Porta-voz do órgão da ONU, Ravina Shamsdasani afirmou em encontro com jornalistas que ainda há relatos de perseguições e maus-tratos a famílias dos manifestantes presos. Eles estariam sendo proibidos de realizar funerais e de falar com a imprensa para terem os corpos de seus familiares devolvidos.

Além disso, ela acrescentou, circulam informações de que os presos estão sendo transferidos de hospitais para centros de detenção, onde por vezes são impedidos pelas autoridades de receber tratamento médico.

Já o relator especial da ONU pelos direitos humanos, Javaid Rehman, pediu a criação de um "mecanismo internacional" de investigação da repressão aos protestos.

Amini morreu em 16 de setembro, depois de ter ficado detida por três dias pela polícia moral, quando visitava Teerã com o irmão. O regime alega que sua morte ocorreu em decorrência de um problema cardíaco, versão que a família e ativistas contestam —eles afirmam que ela teria sido vítima de agressões dos agentes. O pai da jovem diz que foi impedido de ver o relatório da autópsia do corpo da filha.

As forças de segurança voltaram a entrar em embates com manifestantes nesta semana, quando completaram-se 40 dias da morte de Amini —período tradicional de luto no Irã.

Na quarta (26), cerca de 10 mil pessoas se reuniram no memorial destinado à jovem para prestar homenagens e enfrentaram disparos das forças de segurança. Na quinta (27), manifestantes tomaram ruas de todo o país. Houve atos na capital, Teerã, nas proximidades de Zahedan, no sudeste do país, e de Mahabad e Khoramabad, no oeste —região majoritariamente curda, a etnia de Amini.

Nos atos, participantes cantavam "Mulher, Vida, Liberdade", canção que se tornou símbolo da luta, e pediam "morte ao ditador", em referência ao aiatolá Ali Khamenei.

Nesta sexta (28), grandes atos foram realizados por apoiadores do regime para lembrar as vítimas de um atentado, reivindicado pelo grupo terrorista Estado Islâmico, contra um templo xiita no sul do país, na quarta.

O presidente Ebrahim Raisi na ocasião disse que o caso não ficaria sem respostas. "A história mostra que os inimigos do Irã, ao falharem em criar uma divisão na unidade da nação, se vingam por meio da violência e do terror", disse. O ultranacionalista tem usado a bandeira de inimigos externos, como EUA e Israel, que teriam o interesse de desestabilizar o regime, para criticar os protestos que grassam no país desde a morte de Amini.

Como forma de conter a repressão, EUA e União Europeia lideraram uma série de sanções contra o Irã e autoridades importantes do país. O Tesouro americano impôs sanções a funcionários de prisões, à Guarda Revolucionária Islâmica e a duas entidades acusadas de "esforços para interromper a liberdade digital" no país do Oriente Médio.

É incerta porém a capacidade de essas sanções influenciarem as ações de Teerã. O regime islâmico é alvo de bloqueios do tipo há anos e, ainda que sofra com crises econômicas, nunca perdeu apoio de parte considerável da população.

Ao mesmo tempo, Teerã anunciou sanções contra meios de comunicação de países da UE, como as versões persas da Deutsche Welle e da RFI. A lista inclui políticos europeus.

Com AFP e Reuters

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