Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

ONG vencedora do Nobel da Paz teve fechamento ordenado pela Rússia de Putin

Ordem de dissolver Memorial se deu no final de 2021, marcado por intensa repressão à oposição

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São Paulo

Um dos ganhadores do Nobel da Paz nesta sexta (7), o grupo de direitos humanos Memorial teve a sua dissolução ordenada pela Suprema Corte da Rússia no final do ano passado.

A decisão representou um dos ápices do movimento de intensa repressão à oposição liderada pelo presidente Vladimir Putin nos últimos anos —ainda que nominalmente independente, o Judiciário russo é alinhado ao Kremlin.

Policiais capturam um apoiador do grupo de direitos humanos Memorial durante audiência da Suprema Corte russa - Evgenia Novozhenina - 28.dez.21/Reuters

A entidade é uma mais antigas e respeitadas do país, conhecida por seu trabalho em expor abusos cometidos na era stalinista. A ONG abordou seu banimento ao se pronunciar sobre o Nobel nesta sexta.

"Ao mesmo tempo que o mundo inteiro nos parabeniza pelo prêmio Nobel, acontece um julgamento no tribunal de Tverskoi [em Moscou] para confiscar as instalações do Memorial", denunciou a entidade, que também disse que sua vitória era um reconhecimento do trabalho de colegas que continuam a sofrer "ataques indizíveis e reprimendas" do regime.

A organização vinha sendo perseguida pelo governo russo ao menos desde 2009, quando a ativista Natália Estemirova, que trabalhava na sede da entidade na Tchetchênia, foi sequestrada e assassinada em um crime até hoje não solucionado. A ativista foi lembrada pelo comitê do Nobel da Paz no texto de anúncio dos vencedores do prêmio este ano.

"Durante os conflitos na Tchetchênia, o Memorial reuniu e verificou informações sobre abusos e crimes de guerra cometidos por russos e forças pró-Rússia", afirma o texto. "Quando a sociedade civil precisa dar lugar à autocracia e a ditadura, a paz costuma ser a próxima vítima."

Nos anos seguintes, a ONG teve vários de seus líderes presos e foi designada como "agente estrangeiro". O rótulo, criado em 2012, tem que ser adotado por todas as organizações que recebem financiamento estrangeiro e se engajam em atividades consideradas políticas. Ele traz não só conotações negativas da era soviética, como também uma grande carga burocrática, e baseou um dos principais argumentos da promotoria russa para pedir a dissolução do Memorial.

A ordem de fechamento da ONG foi condenada por grupos de direitos humanos internacionais. John Sullivan, então embaixador dos EUA na Rússia, chamou o caso de "uma tentativa trágica de suprimir a liberdade de expressão e apagar a história". O porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, fez coro às críticas, pedindo pelo "fim dos ataques a vozes independentes e defensores dos direitos humanos".

Uma representante do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha também classificou a determinação de "incompreensível" e disse que ela levantava grandes preocupações.

O Memorial chegou a entrar com um recurso contra a resolução da Suprema Corte. A decisão foi mantida, no entanto, em uma revisão do caso feita em 28 de fevereiro deste ano, quatro dias depois da invasão da Ucrânia pela Rússia.

A entidade foi fundada por dissidentes soviéticos —incluindo o vencedor do Prêmio Nobel da Paz e o físico nuclear Andrei Sakharov— que se dedicaram a preservar a memória dos milhões de russos que morreram ou foram perseguidos em campos de trabalhos forçados durante a era Josef Stálin.

A organização supervisiona um arquivo de vítimas da repressão soviética, um banco de dados que lista mais de 3 milhões de nomes —apenas um quarto do total, de acordo com as estimativas da instituição.

Críticos afirmam que as ações do governo russo contra o Memorial são emblemáticas da maneira como Putin busca apresentar os tempos de União Soviética sob um novo ângulo —tentativa que lembra aquela do líder chinês, Xi Jinping, de minimizar momentos traumáticos da história do comunismo em seu país, como a fome e as perseguições políticas realizadas em nome do regime.

Com Reuters e New York Times

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