Organização diz que repressão matou 19 crianças no Irã; TV estatal é hackeada em protesto

Pronunciamento de Ali Khamenei foi interrompido e sobreposto por imagens de líder cercado por chamas

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Paris | AFP

Ativistas que apoiam a onda de protestos contra a morte da jovem Mahsa Amini no Irã hackearam o canal de televisão estatal do país. Um pronunciamento ao vivo do líder supremo Ali Khamenei foi interrompido e sobreposto por imagens do religioso cercado por chamas.

"O sangue de nossos jovens pinga de seus dedos", foi uma das frases exibidas na tela durante a transmissão na noite deste sábado (8). "É hora de arrumar seus móveis [...] e encontrar outro lugar para instalar sua família fora do Irã."

Imagem exibida em TV estatal do Irã em proteso contra a morte de jovens
Imagem exibida em TV estatal do Irã em proteso contra a morte de jovens - Reprodução/ Twitter @EdalateAli1400/AFP

Além das chamas, um alvo foi sobreposto ao rosto de Khamenei. Fotografias em preto e branco de Amini e de outras três mulheres mortas durante os protestos também foram exibidas.

A ação hacker durou alguns segundos e foi reivindicada pelo grupo Edalat-e Ali (justiça de Ali). Quando a gravação terminou, o apresentador do canal estatal apareceu tenso e com os olhos fixos na câmera. A agência de notícias iraniana Tasnim atribuiu a ação ao que chamou de "agentes contrarrevolucionários".

Uma série de protestos eclodiu no Irã após a morte, em 16 de setembro, de uma jovem curda de 22 anos, três dias depois de ela ser presa pela polícia moral em Teerã por supostamente não usar o hijab, o véu islâmico, da forma correta.

Ao menos 19 crianças foram mortas em meio à repressão brutal do regime contra as manifestações, informou a organização Direitos Humanos no Irã. No total, de acordo com o balanço da instituição, 185 pessoas já morreram, incluindo 20 agentes das forças de segurança. A maior parte dos assassinatos ocorreu na província de Sistão-Baluchistão.

A violência não impediu, contudo, que manifestantes voltassem às ruas neste fim de semana, abrindo a quarta semana de atos. Na capital, Teerã, ativistas gritaram "morte ao ditador" e colocaram uma faixa em um viaduto no centro da cidade com a mensagem "Não temos mais medo. Vamos lutar".

Dois membros das forças de segurança de Teerã teriam sido mortos por uma multidão neste sábado, segundo agência estatal IRNA. Outro teria morrido em Sanandaj, capital do Curdistão iraniano. Em Saqez, a cidade natal de Amini, estudantes marcharam agitando lenços e aos gritos de "mulher, vida, liberdade".

Protestos foram registrados em dezenas de cidades também neste domingo. Os atos tiveram a adesão de centenas de estudantes universitários —instituições de ensino se converteram, nas últimas semanas, em polos de manifestações.

Segundo o jornal britânico The Guardian, citando relatos de redes sociais, jovens em escolas neste fim de semana foram detidos por agentes de segurança em veículos sem placas. Autoridades também teriam ordenado o fechamento de todas as instituições de ensino superior no Curdistão, numa tentativa de coibir as manifestações.

O governo nega o uso de munição real e alega que os atos são planejados por forças estrangeiras para desestabilizar o Irã.

O regime divulgou na sexta (7) o relatório de um legista que se prestou a reforçar a versão oficial de que a morte de Amini estava ligada a um quadro médico —e não, portanto, a agressões de que ela teria sido vítima, segundo afirmam sua família e ativistas.

A família curda nega que a jovem tivesse problemas clínicos. Seu pai responsabiliza a polícia moral pela morte, dizendo que ela sofreu golpes nas pernas e em outras partes do corpo. O advogado da família, Saleh Nikbakht, disse que médicos independentes atestam que ela foi agredida.

A morte da jovem disparou manifestações de solidariedade às mulheres iranianas e protestos contra o regime também no exterior. EUA e Canadá impuseram sanções contra autoridades iranianas, e a Alemanha se manifestou neste domingo a favor de punições aos envolvidos no caso.

"Aqueles que espancaram mulheres e meninas nas ruas, que sequestram, aprisionam arbitrariamente e condenam à morte pessoas que não querem nada além de viver livres —estão do lado errado da história", disse a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, ao jornal Bild.

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