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Podcast expõe ascensão do 'príncipe' Xi Jinping a posto de 'mais poderoso do mundo'

Série da revista britânica The Economist conta história de líder chinês em oito episódios

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São Paulo

Até um leigo em assuntos relacionados à China saberá que o país não tem monarquia ou dinastias familiares no poder. O império caiu há tempos, em 1912.

O que justifica o nome "The Prince" (o príncipe) da série em podcast que destrincha a vida e carreira do líder Xi Jinping é uma referência aos métodos usados por ele para chegar e se manter no cargo que o transformou no "homem mais poderoso do mundo", como a produção da revista britânica The Economist o define.

Os oito episódios produzidos com árdua pesquisa expõem um líder que se encaixa na definição de "maquiavélico", por isso o nome da produção replica "O Príncipe", livro de Nicolau Maquiavel. Sim, o podcast narra a história de um líder ardiloso e astuto, mas não só isso.

O líder chinês Xi Jinping acena em evento do partido em Pequim - Noel Celis - 30.set.22/AFP

Ao contar a origem e a caminhada de Xi ao poder, a jornalista Sue-Lin Wong retrata detalhes da vida do homem que conduz a China e assusta potências do Ocidente. É assim ao relembrar a infância privilegiada do biografado, filho de um alto dirigente do Partido Comunista Chinês, que muda após o pai defender reformas na era Mao Tse-tung.

O patriarca Xi Zhongxun é mandado a uma prisão durante a Revolução Cultural. O filho adolescente também é apreendido, mas num dia consegue escapar. Com frio e fome, o hoje líder do país bate na porta da mãe, que o denuncia para ser enviado de volta à reclusão.

Não há registros de mágoa com o partido, o regime ou com Mao por parte de Xi pelos sete anos em que não teve a figura paterna, da infância à adolescência. Um dos seus irmãos conta, em lágrimas, que havia um combinado entre eles para não chorar diante do pai no retorno.

Em outro momento, a produção mostra um dos últimos registros do pai, Xi Zhongxun, já idoso, cantando uma música de exaltação ao regime da era Mao, que ilustra bem a relação da família com o regime.

Além do roteiro bem amarrado e da farta quantidade e qualidade de entrevistas, o trabalho de pesquisa é destaque do podcast. Difícil não achar graça ao ouvir um confiante Bill Clinton, então presidente dos EUA, em 2000, sobre a tentativa chinesa de regular a internet. "Não há dúvida de que a China está tentando reprimir a internet", diz para completar com ironia: "Boa sorte!". (A frase é reproduzida num episódio que mostra como o regime chinês se estruturou e vem tendo sucesso ao censurar e usar a internet para monitorar os cidadãos do país.)

A relação China-EUA é assunto ao longo da série, que rememora a visita de Xi, um jovem oficial do partido, ao estado de Iowa, em 1985, quando comeu pipoca pela primeira vez e ficou hospedado na casa de uma família local.

Conhecer a América parece não ter mudado em um milímetro a convicção de Xi sobre a superioridade do comunismo chinês. A influência dos EUA na queda de outro gigante vermelho, a União Soviética, marcou a geração do líder, que chegou ao poder com a missão de não repetir o fracasso de Moscou, relata a narradora Wong.

A jornalista consegue descrever com didatismo os acontecimentos que levaram à chegada do "homem mais poderoso do mundo" ao topo. Como, por exemplo, um burocrata quieto e competente consegue passar à frente de um líder carismático na disputa pelo cargo máximo do regime?

A ascensão de Xi e a queda de Bo Xilai, ex-chefe do partido preso e expulso acusado de corrupção, abuso de poder e envolvimento no assassinato do empresário britânico Neil Heywood, ambas em 2012, explicam os meandros e as disputas por poder num regime não democrático.

A ausência de liberdades no país é exposta no podcast. Em 2021, a apresentadora relata que teve o visto de entrada em Hong Kong negado e voltou para a Austrália, seu país natal.

Os efeitos de um regime autoritário extrapolam as histórias contadas e são lembrados ao final de cada episódio, nos créditos, quando Wong agradece aos corajosos entrevistados que tiveram que se manter anônimos por medo de represálias.

The Prince (o príncipe)

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