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Até data de fundação do Partido Comunista Chinês virou alvo de disputa

Dia oficial como 1º de julho foi aparentemente erro de memória de Mao Tse-tung

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São Paulo

O Partido Comunista Chinês foi fundado numa região de gângsteres da Xangai de cem anos atrás.

A vida na chamada Concessão Francesa, zona de muita corrupção policial, era propícia para atividades criminosas na metrópole, que já somava 1,7 milhão de habitantes e havia se tornado um importante centro de tráfico de ópio. Operava ali, por exemplo, um destacado mafioso da época, Du Yuesheng.

Mulher posa para foto em frente ao museu do primeiro Congresso do Partido Comunista Chinês, em Xangai
Mulher posa para foto em frente ao museu do primeiro Congresso do Partido Comunista Chinês, em Xangai - Hector Retamal - 11.jun.21/AFP

Justamente pelo controle menos rígido, a região era também um ponto de movimentação política. Foi numa construção do tipo shikumen, estilo arquitetônico de inspiração chinesa e ocidental típico de Xangai, que o PC Chinês realizou seu primeiro Congresso, em 1921. O local, transformado num memorial político do regime, pode ser visitado hoje em dia.

A data exata e o número de participantes virariam objeto de disputa histórica. O dia oficial da fundação foi demarcado como sendo 1º de julho aparentemente por um erro de memória de Mao Tse-tung, principal líder da Revolução Comunista, conforme apontou reportagem do jornal The New York Times. Informações posteriores mostraram que a fundação ocorreu na verdade em 23 de julho.

As principais lideranças naquele momento eram Li Dazhao e Chen Duxiu, mas nenhum dos dois estava presente. Havia oficialmente 13 delegados, além de dois representantes da Internacional Comunista, mas é possível que mais gente tenha aparecido (e tido o nome posteriormente apagado pelo regime).

“Foram feitas ao todo sete sessões do congresso, a última delas num barco em Jiaxing [cidade próxima a Xangai] em 30 de julho, depois que a polícia aparentemente recebeu uma dica sobre o local do evento”, escreve o historiador britânico Stephen Anthony Smith em “A Road is Made: Communism in Shanghai, 1920-27”.

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Smith aponta que a deliberação adotada no primeiro congresso colocava a revolução proletária como prioritária em relação à libertação nacional, não propriamente em concerto com o caminho da Internacional Comunista, dominada por Moscou. “Defendemos a ditadura do proletariado até que a luta de classes termine. Defendemos a abolição da propriedade capitalista privada e o confisco de máquinas, terras, fábricas e bens e sua transformação em propriedade pública.”

Na versão do China Daily, jornal oficial do partido, “o PC, pela primeira vez na história chinesa, colocou em marcha um programa revolucionário contra o imperialismo e o feudalismo e o definiu como motivo da luta do povo chinês”.

O partido surgiu na esteira do chamado Movimento 4 de Maio, que canalizou, em protestos e greve em 1919, uma crescente insatisfação com as divisões internas do país após o fim da dinastia Qing e com o fortalecimento japonês na Ásia. “A revolução de 1911 havia conseguido pouco além de mudar o sistema político de império para república”, descreve o livro “The Oxford Companion to the Politics of the World”, editado por Joel Krieger.​

Na confusão em que havia se transformado a China naquela década, as ideias marxistas ganharam espaço após a Revolução Russa, em 1917. A influência soviética declinaria ao longo das décadas seguintes.

Curiosamente, o jovem de 27 anos que emergiria como o maior líder do partido havia se tornado um dos poucos participantes da fundação mesmo tendo interesse apenas recente pelo marxismo, como conta Jonathan Spence em sua biografia de Mao. Ele havia adquirido algum conhecimento trocando cartas com amigos na França e lendo uma nova revista sobre o assunto, lançada em Xangai.

“Mas por que ele foi chamado? Não há uma resposta clara”, afirma Spence. Mao tinha bons contatos e alguma proximidade com Li Dazhao e Chen Duxiu, os primeiros nomes do grupo até então. E carregava um bom histórico de negócios, tendo conseguido expandir o número de lojas da rede Sociedade Cultural de Livros, que ele havia fundado. Ao voltar do congresso, recebeu a missão de fazer coisa parecida com a base do novo partido em Hunan.

No ano seguinte ao do congresso, o que era um “político amador” havia se transformado em “um organizador profissional de revolução”, segundo a definição de seu biógrafo.

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