Fernández se encontra com Lula e diz que petista vai à Argentina antes de posse

Alberto Fernández faz primeira reunião internacional de presidente eleito em São Paulo

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São Paulo

O presidente da Argentina, Alberto Fernández, almoçou na tarde desta segunda-feira (31) com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que venceu Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno neste domingo (30) e voltará à chefia de governo no Brasil em janeiro.

Foi a primeira reunião internacional do presidente eleito do Brasil. Fernández publicou em sua conta nas redes sociais um vídeo do momento em que os dois se encontram, em um hotel em São Paulo, e trocam um abraço.

"Todo meu amor, minha admiração e meu respeito, querido companheiros. Temos um futuro que nos abraça e nos convoca", escreveu. No vídeo é possível ouvi-lo dizendo: "Presidente, que alegria vê-lo!".

Lula recebe a visita de Alberto Fernández em hotel em São Paulo - Eduardo Knapp - 31.out.22/Folhapress

Após o encontro Fernández afirmou em entrevista que o eleito deve ir à Argentina ainda antes de sua posse, marcada para 1º de janeiro. "Lula sabe que a Argentina é sua casa", afirmou.

O presidente argentino disse ainda que não poderia se ausentar em um momento de reafirmação do político brasileiro e da população do país. "Compartilho com Lula o mesmo olhar sobre a necessidade de integração da América Latina, sobre a necessidade que a democracia se consolide no continente e que o processo eleitoral seja respeitado", afirmou. "Agora poderemos falar mais de futuro do que passado."

A viagem, porém, tem sobretudo um peso político relevante para Fernández, que vive um acúmulo de crises, e de certa forma marca uma tentativa de resgatar uma tradição diplomática entre os dois países —o líder recém-empossado de um usualmente visita, antes de qualquer outro mandatário, o do outro.

Depois de se eleger, porém, Bolsonaro optou por fazer sua primeira viagem internacional como presidente ao Chile, à época governado pelo direitista Sebastián Piñera.

As relações de Brasília e Buenos Aires não se encontram em seu melhor momento. O atual presidente brasileiro não compareceu à posse de Fernández em 2019 —padrão que se repetiria em outros resultados eleitorais favoráveis à esquerda na região— e, na campanha, explorou a crise do país vizinho como uma forma de atacar Lula, dada a proximidade do petista com Fernández e sua vice, Cristina Kirchner.

Quando ainda era candidato, o presidente argentino visitou Lula na prisão, em Curitiba. Depois, manteve uma relação em muitas medidas apenas protocolar com Bolsonaro.

Fernández mencionou os vários curto-circuitos com o governo brasileiro sob a gestão do atual presidente em uma entrevista à Radio 10 nesta segunda, antes da viagem. "Durante todos esses anos, fiquei quieto em relação às provocações que recebi do governo do Brasil, porque sei que a relação entre a Argentina e o Brasil deve ser indestrutível independente de quem governe", disse. "O vínculo com o Brasil será muito mais profundo, realista e sincero, e isso não é pouca coisa."

O líder do país vizinho sugeriu ainda que fosse construído um eixo entre Brasil, México e Argentina, as três maiores economias da região que passam a ser governadas pela esquerda com a chegada de Lula ao poder. Fernández também parabenizou o povo brasileiro por ter levado adiante eleições transparentes, calmas e em paz. "E isso eu creio que é valioso e necessário para toda a América Latina."

O chanceler Santiago Cafiero, que integrou a comitiva de Fernández em São Paulo, disse que esteve na pauta da conversa a promoção da industrialização e a substituição de importações do Mercosul, abandonando o modelo de primarização do bloco em busca de cadeias produtivas de valor agregado.

Cafiero acrescentou que Lula conseguiu passar de perseguido político a presidente em um contexto em que a direita se fortaleceu. "Lula nunca renunciou aos seus ideais, o povo brasileiro apreciou isso, ele superou essa perseguição com coragem."

Para o governo Fernández, a volta de Lula ao poder tem o condão de ser providencial. Com baixa popularidade, de pouco mais de 20%, o presidente atravessa uma séria crise econômica, com desdobramentos políticos cada vez mais marcados. A divisão interna da coalizão opõe os peronistas moderados vinculados ao presidente e os kirchneristas, mais à esquerda, ligados a Cristina Kirchner.

A pouco menos de um ano da eleição presidencial argentina, uma foto ao lado do presidente eleito do Brasil, ainda uma figura popular na América Latina, pode ter alto valor político.

Colaborou Sylvia Colombo, de Buenos Aires

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