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Oposição acusa Fernández de transformar ataque a Cristina em oportunismo político

Presidente da Argentina declarou feriado nacional e convocou militância para atos em defesa de sua vice

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Santiago

Em resposta ao ataque à vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, milhares de manifestantes se reuniram em Buenos Aires na tarde desta sexta-feira (2). Convocados por sindicatos, organizações sociais e políticos peronistas, os atos em apoio à dirigente se concentraram nos arredores da praça de Maio.

O fato de o presidente Alberto Fernández ter decretado o dia como feriado nacional para que o povo "pudesse se solidarizar" com a vice-presidente foi interpretado por líderes da oposição como uma atitude de oportunismo político.

"Não é o momento para esse tipo de coisa. O atentado deve ser investigado com seriedade, mas a população deveria ser instada a manter-se tranquila. Esse circo não favorece a pacificação da situação", afirmou a senadora Carolina Losada.

Apoiador da vice-presidente da Argentina Cristina Kirchner permanece do lado de fora da residência de Fernández após ataque em Buenos Aires - Luiz Robayo - 1º.set.22/AFP

Na mesma linha reagiu Patricia Bullrich, líder do PRO, partido do ex-presidente Mauricio Macri. "O presidente está brincando com fogo", afirmou ainda na noite de quinta em suas redes sociais. O deputado José Luis Espert afirmou que Fernández se equivocou ao "causar mais raiva na sociedade ao culpar, em cadeia nacional, a imprensa, a oposição e a Justiça".

Em seu pronunciamento, o presidente argentino afirmou que por trás da tentativa de um brasileiro de disparar uma arma na cabeça da vice está "o discurso de ódio que está dividindo os argentinos".

Pouco depois do incidente, senadores opositores haviam tirado uma foto ao lado de governistas, no Congresso, para demonstrar apoio à vice-presidente. Depois do pronunciamento de Fernández, porém, vários criticaram a atitude do governo.

Na manhã desta sexta, os arredores da casa de Cristina, na Recoleta, foram esvaziados pela polícia e cercados com faixas e fileiras de agentes. O presidente e o gabinete de ministros se reuniram na Casa Rosada, sede do governo, às 7h. Após a reunião, estava prevista uma declaração conjunta do governo, reforçando a convocação às ruas.

Na noite de quinta, a polícia argentina prendeu o homem que tentou disparar uma arma contra a vice-presidente quando ela chegava em casa, no bairro da Recoleta, e o identificou como Fernando Andrés Sabag Montiel, um brasileiro de 35 anos com antecedentes criminais.

Os vídeos mostram a ex-presidente sendo saudada por uma multidão de apoiadores ao sair do carro quando ele se aproxima a menos de 1 metro dela com uma pistola. Sabag Montiel, que segundo a imprensa argentina estava com touca e máscara, teria saído correndo depois de tentar atirar, mas foi seguido por cinco pessoas, o que permitiu que os agentes o identificassem.

O ministro da Segurança, Aníbal Fernández, informou que cabe agora à polícia proceder com a investigação para avaliar "a capacidade e disposição que essa pessoa tinha". Segundo o jornal argentino La Nación, um perfil nas redes sociais atribuído a ele, sob o nome Fernando Salim Montiel, seguia diversas páginas ligadas a grupos radicais e discurso de ódio.

Diversas figuras políticas sul-americanas se pronunciaram sobre a tentativa de disparo contra a vice-presidente argentina.

Há mais de uma semana, a residência de Cristina na Recoleta se transformou em ponto de encontro de manifestantes pró e contra a ex-presidente. Os protestos começaram quando o promotor Diego Luciani pediu uma pena de prisão de 12 anos para a política, que é acusada de chefiar um esquema de associação ilícita e fraude ao Estado no período em que foi presidente (2007-2015).

Luciani também solicitou que Cristina seja inabilitada a concorrer a cargos públicos para o resto da vida e que sejam devolvidos aos cofres públicos 5,3 bilhões de pesos (R$ 200 milhões).

"Estão esperando que matem um peronista", havia dito na tarde de quinta o filho de Cristina, Máximo Kirchner, referindo-se ao fato de a polícia da cidade de Buenos Aires, governada pela oposição, ter abandonado a vigilância do local depois dos incidentes da noite do último sábado (27).

Além de enfrentar problemas na Justiça, a vice-presidente passa por uma crise dentro do governo, travando uma disputa por espaço com Alberto Fernández, que sofre com a baixa popularidade. No mês passado, a gestão criou um "superministério" da Economia, atribuído a Sergio Massa, com a missão de tirar o país da crise financeira —que envolve uma inflação que pode chegar a 90% ao ano e a disparada do dólar no mercado paralelo.

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