Primeira-ministra da Dinamarca antecipa eleição para evitar moção de desconfiança

Mette Frederiksen teve gestão turbulenta, com críticas na pandemia, e busca formar nova coalizão

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Copenhague | Reuters

A primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, convocou nesta quarta-feira (5) novas eleições para o Parlamento do país. Ela disse que buscará formar, no pleito antecipado para 1º de novembro, uma ampla coalizão que alcance todos os espectros políticos, "em um momento de incerteza internacional".

Hoje ela lidera um governo de minoria com seu Partido Social-Democrata, de centro-esquerda, cujo mandato se encerraria em junho de 2023. "Com os tempos difíceis em que vivemos e as dificuldades que o mundo está enfrentando, chegou a hora de testar uma nova forma de governo", disse.

Na prática, Frederiksen vinha sendo ameaçada pela convocação de um voto de desconfiança no Parlamento, inclusive por legendas menores que ajudam a compor a base do governo.

A antecipação das eleições se dá com a Dinamarca sendo personagem central de um estopim de tensão da Guerra da Ucrânia: foi na costa do país, no mar Báltico, que foram registrados vazamentos em dois gasodutos que transportam gás da Rússia para a Europa —Moscou acusa o Ocidente de sabotagem.

Primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, discursa em Copenhague - 5.out.22/Ritzau Scanpix/Reuters

Frederiksen, 44, tornou-se a chefe de governo mais jovem da história da Dinamarca em 2019. Na época, prometeu melhorar os serviços de assistência social que, em sua visão, haviam sido prejudicados por reformas econômicas liberais desde o início do século.

Seu governo, porém, foi marcado por períodos turbulentos —em grande parte, justamente pela falta de apoio no Parlamento. As eleições devem servir como uma avaliação de suas políticas no enfrentamento à Covid e à crescente inflação dos últimos meses.

Durante a crise sanitária, Frederiksen foi elogiada por grande parte da população ao conseguir controlar o número de casos e mortes e minimizar as consequências econômicas.

A gestão da pandemia, porém, foi severamente criticada devido à proposta de abate de todos os 17 milhões de visons em criações no país para conter supostas mutações do coronavírus —o plano acabou suspenso em novembro de 2020. A Dinamarca é um dos principais exportadores da pele desses animais, também conhecidos como minks.

À época, estudos preliminares indicavam que uma variante transmitida dos animais para humanos poderia afetar a eficácia de futuras vacinas. O sacrifício de todos os animais, doentes ou saudáveis, encontrou forte resistência de parlamentares, que acusaram falta de embasamento científico.

Nesta quarta, após a declaração da primeira-ministra, os líderes das duas maiores legendas da oposição, os partidos Liberal e Conservador, rejeitaram a formação de um eventual governo com os sociais-democratas. "Buscaremos uma política econômica diferente", disse o líder liberal Jakob Ellemann-Jensen.

Frederiksen é ao menos a quarta chefe de governo da Europa Ocidental a perder apoio no Parlamento desde a invasão da Rússia na Ucrânia. Por diferentes motivos —também internos—, o mesmo se deu com o britânico Boris Johnson e com o italiano Mario Draghi em julho; na Suécia, a primeira-ministra Magdalena Andersson renunciou em setembro.

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