Conselho de homens proíbe aborto em cidade dos EUA que nem clínica tem

Hobbs, no Novo México, desafia legislação estadual ao aprovar decreto em meio a eleições sob forte influência do tema

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Hobbs (Novo México) | Reuters

A cidade de Hobbs, no Novo México, desafiou a lei estadual que garante o direito ao aborto ao aprovar nesta terça (8) um decreto que proíbe o procedimento. A resolução, chancelada unanimemente por um conselho formado por sete homens, impede clínicas de oferecerem serviços de interrupção de gravidez.

Detalhe: Hobbs, com pouco mais de 40 mil habitantes, não abriga nem sequer uma clínica do tipo. Mas há um temor de que a cidade, na fronteira com o Texas, seja procurada por empresas especializadas para atender pacientes do estado vizinho —este, sim, lar de uma das mais restritivas leis antiaborto dos EUA.

Manifestantes durante protesto pelos direitos das mulheres, em Nova York
Manifestantes durante protesto pelos direitos das mulheres, em Nova York - Jeenah Moon - 8.out.22/Getty Images/AFP

O conselho municipal de Hobbs votou pela aprovação do decreto após ouvir defensores de ambos os lados do tema. As cerca de 150 pessoas que acompanhavam a sessão, em sua maioria contra a prática, receberam a decisão em clima de festa, gritando, chorando e abraçando umas às outras.

A representante de um grupo ativista contrário ao procedimento do condado de Lea, que inclui Hobbs, afirmou esperar que o decreto seja o início de uma virada em todo o Novo México.

Trata-se da primeira vez que uma cidade de um estado governado por democratas proíbe o aborto. A governadora Michelle Lujan Grisham afirmou em nota que o decreto foi idealizado por "extremistas de fora do estado" e representa uma clara afronta aos direitos e à autonomia reprodutiva das mulheres da região.

"Provedores de serviços do tipo têm todo o direito de abrir clínicas, e todas as mulheres devem ter acesso à interrupção de gravidez, não importa onde elas vivam no Novo México", escreveu Grisham, acrescentando que o direito ao aborto é "protegido em cada canto do estado".

O mesmo receio que guiou a decisão em Hobbs persiste na cidade de Clovis, a cerca de 200 km dali.

Na semana passada, o conselho local adiou a aprovação de um decreto semelhante alegando que a resolução parecia apressada demais. Pastores da região afirmam que políticos municipais sofrem pressão de líderes estaduais do Partido Republicano, temerosos de um retrocesso na agenda antiaborto com as midterms, eleições de meio de mandato que renovam a Câmara e parte do Senado.

O aborto é um dos assuntos que mais mobilizam os eleitores, segundo pesquisas de opinião. Em junho, a Suprema Corte dos EUA derrubou o entendimento de que a interrupção voluntária da gravidez era um direito constitucional —hoje, ela é proibida em 13 dos 50 estados americanos e tem restrições em cinco.

Pouco antes das eleições, porém, a maré começou a dar sinais de virada, a ponto de alguns republicanos começarem a atenuar suas posições sobre o tema. A mobilização pode dar um inesperado respiro ao presidente Joe Biden no Senado, já que a pauta incentivou eleitoras a se registrarem para votar.

Hobbs e Clovis também são consideradas um teste para entender como ativistas antiaborto vão agir em estados controlados por democratas, onde a interrupção da gravidez segue permitida. Movimentos como o Direito à Vida, que levou mais de 50 cidades a adotarem medidas antiaborto no Texas e em outros estados conservadores, esperam replicar o êxito no Novo México e em demais regiões democratas.

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