Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Polônia diz que míssil de fabricação russa causou explosão que matou 2

Varsóvia pede calma e diz não haver evidências de quem lançou artefato; Zelenski acusa Moscou, que nega envolvimento

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Varsóvia | Reuters e AFP

Ao menos duas pessoas morreram nesta terça-feira (15) em uma explosão na pequena cidade de Przewodow, no leste da Polônia, a seis quilômetros da fronteira com a Ucrânia. A hipótese de um ataque da Rússia contra o país, que é membro da Otan, fez aumentar a tensão e a possibilidade de desdobramentos mais graves no conflito que se desenrola no Leste Europeu há mais de oito meses.

A rádio polonesa ZET primeiro reportou que a cidade teria sido atacada por mísseis, sem dar mais detalhes. Ao jornal britânico The Guardian e à agência Associated Press autoridades da inteligência americana disseram sob condição de anonimato que o artefato seria russo —o que não foi corroborado nem negado pelo Pentágono inicialmente. À agência, autoridades americanas disseram que, dada a trajetória, o projétil pode ter sido disparado por forças ucranianas para conter míssil russo.

O Ministério da Defesa da Rússia negou envolvimento na ação e definiu esses relatos como uma provocação para escalar as tensões. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, limitou-se a dizer que não tinha informações sobre o caso.

Área atingida por míssil em Przewodow, no leste da Polônia
Área atingida por míssil em Przewodow, no leste da Polônia - Reuters

Mais tarde, o Ministério das Relações Exteriores polonês informou que o míssil que causou a explosão era de fabricação russa. O embaixador da Rússia em Varsóvia foi convocado para explicações. O presidente Andrzej Duda, então, pediu calma, reforçou que o caso não foi esclarecido e disse não haver evidências de quem disparou os artefatos nem de que o incidente desta terça vá se repetir em breve.

A explosão, que aconteceu às 15h40 no horário local (11h40 em Brasília), atingiu um silo de grãos e matou dois fazendeiros, segundo um repórter da rede americana CNN que foi a Przewodow.

Declarações posteriores à explosão deram um indicativo do risco de escalada. A Polônia faz parte da Otan, aliança que tem como princípio a defesa coletiva —ou seja, a garantia de proteção militar a qualquer membro do bloco; na prática, um ataque a um Estado da organização pode ser considerado uma ofensiva contra todos os demais.

Varsóvia tem ainda alguns dos líderes mais vocais contra a ação de Vladimir Putin na Ucrânia. Em junho, Duda chegou a comparar o líder russo ao ditador nazista Adolf Hitler (1889-1945).

Segundo o governo polonês, o país deverá acionar nesta quarta (16) o Artigo 4 da Otan, que prevê que membros da aliança façam consultas internas sempre que, na opinião de qualquer um deles, "a integridade territorial, a independência política ou a segurança de uma das partes estiver ameaçada".

O porta-voz Piotr Müller disse também que a Polônia está aumentando a prontidão de algumas unidades militares e a vigilância do espaço aéreo. O primeiro-ministro Mateusz Morawiecki convocou uma reunião de emergência com um grupo de segurança nacional e defesa —segundo Müller, devido ao que chamou de "situação de crise".

Entre os líderes que falaram com Duda está o americano Joe Biden, que ofereceu total apoio nas investigações e reforçou o compromisso dos EUA com a defesa da Otan. Mais tarde, o democrata afirmou, sem entrar em detalhes, que informações preliminares com base nas possíveis trajetórias do míssil sugerem que ele pode não ter sido disparado do território da Rússia.

O secretário-geral da coalizão, Jens Stoltenberg, disse que manifestou ao presidente polonês pesar pelas vítimas e afirmou que a entidade monitora o caso de perto, cobrando o esclarecimento de todos os fatos.

Representantes da aliança devem fazer uma reunião de emergência nesta quarta para tratar do assunto. O Departamento de Defesa dos Estados Unidos informou que está investigando o caso, e um porta-voz do Departamento de Estado disse que os relatos são "incrivelmente preocupantes".

Mais cedo, o Kremlin promoveu uma série de operações contra o país vizinho, deixando milhões de pessoas sem energia. As ações, que Kiev disse configurarem a onda mais pesada de ataques com mísseis em todo o conflito, envolveram mais de cem mísseis —superando os 84 lançados em 10 de outubro.

Houve relatos de ataques em cidades como Kiev, Kharkiv, Odessa, Jitomir e Lviv, perto da fronteira com a Polônia —o que leva à hipótese de que o caso em Przewodrow possa ser resultado de fragmentos abatidos por um sistema de defesa aéreo.

O ucraniano Volodimir Zelenski classificou a explosão no país vizinho de "escalada significativa do conflito", convocando outros países a agir contra Moscou. "Quanto mais a Rússia sentir impunidade, mais ameaças haverá para qualquer um ao alcance dos mísseis russos. Disparar mísseis contra o território da Otan é um ataque contra a segurança coletiva. Devemos agir."

Líderes de outros países europeus manifestaram solidariedade à Polônia. O vice-primeiro-ministro da Letônia, Artis Pabriks, disse apoiar Varsóvia e subiu o tom contra Moscou. "O regime criminoso russo disparou mísseis que atingiram não apenas civis ucranianos, mas também o território da Otan na Polônia", escreveu nas redes sociais.

O presidente da Lituânia, Gitanas Nauseda, afirmou que "cada pedaço do território da Otan deve ser defendido". O premiê da República Tcheca, Petr Fiala, disse que o episódio evidencia uma escalada militar iniciada por Moscou. A Hungria convocou reunião de seu Conselho de Defesa.

Autoridades de Alemanha, Bélgica, Canadá, França e Holanda também manifestaram solidariedade às vítimas e apoio à Polônia.

O episódio se deu horas depois do primeiro dia de reuniões de líderes mundiais na cúpula do G20, o grupo das economias mais desenvolvidas do mundo, em Bali, na Indonésia. Convidado para discursar no evento em videoconferência, Zelenski afirmou em sua fala que esse era o momento para acabar com a "guerra destrutiva" iniciada pela Rússia.

Em resposta, o Kremlin declarou, por meio de porta-voz, que as declarações do líder ucraniano demonstram que o país não está interessado em estabelecer negociações de paz com Moscou.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, conversou com seus homólogos da Polônia, Zbigniew Rau, e da Ucrânia, Dmitro Kuleba. "Nos comprometemos a continuar coordenando a situação, à medida que a investigação se desenrola", escreveu o americano nas redes sociais. Já o ucraniano disse que a resposta deve ser "severa e exemplar".

Na véspera, Zelenski se juntara às comemorações pela retomada da cidade de Kherson após oito meses de ocupação russa. O local havia sido tomado por Moscou ainda no início da guerra e é capital de uma das quatro regiões recentemente anexadas por Putin por meio de referendos considerados ilegais pelo Ocidente.

A retirada das tropas russas da região é considerada uma das mais simbólicas derrotas de Moscou em seus quase nove meses de campanha militar contra o vizinho.

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