Descrição de chapéu Venezuela União Europeia

Macron conversa com Maduro na COP27 e propõe 'trabalho bilateral' com Venezuela

Convite do francês sinaliza busca por novos fornecedores de petróleo em meio à Guerra da Ucrânia

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Caracas | AFP

O presidente da França, Emmanuel Macron, propôs nesta segunda (7) ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, uma parceria para tratar de América Latina. O convite, na COP27, conferência sobre mudanças climáticas, reforça a retomada dos elos do regime com potências ocidentais após a Guerra da Ucrânia.

Os dois líderes conversaram por cerca de um minuto e meio nos corredores do evento, no Egito, e trocaram sorrisos. "Ficarei encantado se pudermos conversar por mais tempo, para que possamos realizar um trabalho bilateral útil para a região", disse Macron. "Ligarei para você", acrescentou o francês.

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, conversa com presidente da França, Emmanuel Macron, na COP27, em Sharm el-Sheikh, no Egito
O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, conversa com presidente da França, Emmanuel Macron, na COP27, em Sharm el-Sheikh, no Egito - Presidência da Venezuela via AFP

É incerto o significado real do que seria o tal "trabalho bilateral útil" proposto por Macron. Mas, nesse caso, só a conversa já é simbólica. A França, junto com os demais membros da União Europeia, foi um dos países a liderar a pressão global para reconhecer o opositor Juan Guaidó como presidente da Venezuela –em reação às acusações de fraude nas eleições de 2018 que garantiram o atual mandato de Maduro.

No início do ano passado, porém, o bloco europeu anunciou que não reconheceria mais o opositor como líder do país sul-americano, após ele perder a Presidência da Assembleia Nacional da Venezuela. Na ocasião, por outro lado, o chefe das Relações Exteriores da UE, Josep Borrell, disse que Guaidó é um dos "atores políticos e da sociedade civil que lutam para trazer de volta a democracia à Venezuela".

Desde então, os elos com o opositor ficaram cada vez mais fracos, ainda que líderes europeus mantenham distância de Maduro. Ainda no diálogo desta segunda, por exemplo, quando o ditador perguntou a Macron quando ele o visitaria, os dois riram. Por fim, ele disse ao francês que "a França deve desempenhar um papel positivo" na América Latina, sem dar detalhes do que isso significaria.

A cordialidade do francês tem razões óbvias: a Guerra da Ucrânia afetou o fornecimento de gás e de petróleo da Rússia para a Europa e, agora, o continente precisa de novos fornecedores. Em junho, Paris defendeu a "diversificação das fontes de abastecimento de petróleo" durante uma reunião do G7 na Alemanha e apontou para o Irã e a Venezuela –os dois são alvos de sanções dos EUA e da UE.

Caracas, por sua vez, respondeu no dia seguinte que a Venezuela estava pronta para receber as petrolíferas francesas "que querem vir e produzir petróleo e gás para o mercado europeu e mundial". "Bem-vindo quando quiser, estamos prontos, prontos e prontos para fazê-lo", acrescentou Maduro.

O ditador vive seu melhor momento político dos últimos anos. Na semana passada, recebeu o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, marcando uma reviravolta nas relações entre Caracas e Bogotá.

Fato é que o cenário internacional favorece o regime, em certa medida. Desde o início da Guerra na Ucrânia, os Estados Unidos sinalizaram que poderiam estar interessados em retomar a compra de petróleo da Venezuela e, nesse contexto, reduzir algumas das sanções contra aliados da ditadura.

O diretor para o hemisfério Ocidental e assessor especial da Casa Branca, Juan González, voou a Caracas em março e se encontrou com Maduro. Embora ainda não tenham resultado em negócios na prática, as conversas continuam. Por parte de Washington, a sinalização é a de que algumas sanções podem cair.

No final do diálogo desta segunda, Maduro não escondeu a felicidade. Em uma conversa toda traduzida, ele arriscou falar em francês em sua última frase: "Merci beaucoup (muito obrigado)", disse ele a Macron.

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