Irã sofre novas sanções do Reino Unido em meio a aumento da repressão a protestos

Pelo menos cinco morreram na região do Curdistão, foco dos atos contra morte de Mahsa Amini nos últimos dias

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Londres | AFP e Reuters

Forças de segurança do Irã intensificaram a repressão aos protestos contra o governo em várias cidades da região do Curdistão nesta segunda-feira (10), mostram fotos e vídeos nas redes sociais, aumentando ainda mais a pressão contra as manifestações que varrem o país há quase um mês.

Em paralelo, autoridades do país viraram novo alvo do Reino Unido, que proibiu viagens e prometeu congelar bens em território britânico de oficiais iranianos.

Espalhados por todo o Irã, os atos liderados por mulheres começaram após a morte sob custódia policial de Mahsa Amini, uma jovem curda de 22 anos que havia sido presa por não usar corretamente o hijab, véu islâmico que é elemento central no rígido código de vestimenta do país. As manifestações são um dos maiores obstáculos que o regime enfrenta desde sua fundação, em 1979.

Manifestantes queimam véu em protesto contra morte de Mahsa Amini, em Qamishli, na Síria - Delil Souleiman - 10.out.22/AFP

As tensões são especialmente altas entre as autoridades e a minoria curda —o regime nega oprimir o grupo. O Curdistão é uma região autônoma localizada parcialmente dentro do Irã, com cerca de 10 milhões de habitantes, 12% da população do país.

Há nesta segunda uma forte presença de policiais armados nas regiões curdas de Saqez e Divandareh, segundo a entidade de direitos humanos Hengaw. Na província de Saqez, local de nascimento de Amini, manifestantes e policiais entraram em confronto, e explosões foram ouvidas em Sanandaj, capital do Curdistão.

Apesar da dura repressão, manifestantes em todo o Irã queimaram fotos do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, pediram a queda do regime e gritaram "morte ao ditador". Centenas de meninas do ensino médio e universitários se juntaram aos protestos, reprimidos com gás lacrimogêneo, cassetetes e, em alguns casos, munição real —o que Teerã nega.

À agência Reuters um manifestante de 17 anos, que não revelou seu nome ou localização por medo de represálias, disse que os grupos querem uma revolução, para que possam viver livremente, e estão prontos para morrer por isso.

Ao menos cinco curdos foram mortos e mais de 150 ficaram feridos nos protestos desde sábado (8), informou o Hengaw. Pelo menos 185 já morreram desde o início das manifestações, centenas ficaram feridos e milhares foram detidos. O regime relata a morte de 20 policiais até agora.

Nesta segunda, o Reino Unido aplicou sanções contra funcionários de alto escalão da segurança iraniana e também contra a totalidade do efetivo da polícia moral —responsável pela prisão de Amini—, afirmando que a força usa ameaças de detenção e violência para controlar o que as mulheres vestem e como elas se comportam em público.

"Essas sanções enviam uma mensagem clara às autoridades iranianas —nós os responsabilizaremos por sua repressão a mulheres e meninas e pela violência chocante que infligiu ao seu próprio povo", disse o secretário de Relações Exteriores britânico, James Cleverly, em um comunicado. Na semana passada, a pasta já havia convocado o diplomata mais importante do Irã no Reino Unido para tratar da repressão aos protestos.

As sanções foram impostas com base em leis britânicas destinadas a incentivar o Irã a respeitar os direitos humanos. Elas significam que os indivíduos nomeados não podem viajar para o Reino Unido e que qualquer um de seus bens mantidos por lá será congelado. Entre outros, as punições atingem o chefe da polícia moral, Mohammed Rostami Cheshmeh Gachi, e o chefe da divisão de Teerã, Haj Ahmed Mirzaei.

Além do Reino Unido, outros seis países da Europa devem impor sanções contra o Irã: Alemanha, França, Itália, Espanha, Dinamarca e República Tcheca. As medidas propostas têm como alvo pessoas e instituições diretamente responsáveis pelo combate às manifestações e serão apresentadas em uma reunião da União Europeia prevista para 17 de outubro —quando devem ser aprovadas de forma unânime, segundo a revista alemã Der Spiegel.

No sábado, a TV estatal iraniana sofreu uma invasão hacker. A fala de Khamenei foi interrompida por uma imagem que mostrava o líder supremo em chamas junto a retratos em preto e branco de Mahsa Amini e mais três mulheres que teriam morrido nos protestos. O grupo hacker Edalate Ali, que já havia realizado outros ataques cibernéticos contra o regime, reivindicou a responsabilidade pela ação.

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