Missão dos EUA vai à Venezuela, aliada da Rússia, em meio à crise na Ucrânia

Casa Branca se preocupa com ligações econômicas de Moscou com Caracas; delegação discute aliviar sanções

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São Paulo

Uma missão dos Estados Unidos segue rumo à Venezuela para um encontro com membros do governo do ditador Nicolás Maduro neste fim de semana, segundo o jornal americano The New York Times.

Integram o grupo autoridades do Departamento de Estado americano e da Casa Branca, de acordo com o jornal. Neste domingo (6), a Reuters informou que a delegação foi chefiada por Juan González, conselheiro para América Latina, e o embaixador James Story. Eles teriam, segundo fontes da agência de notícias, se encontrado com o próprio Maduro e sua vice, Delcy Rodríguez, e discutido a possibilidade de relaxar sanções à ditadura —mas a conversa teve poucos avanços positivos.

Washington cortou relações diplomáticas com Caracas e fechou sua embaixada na capital em 2019, ano seguinte à reeleição amplamente contestada de Maduro para um segundo mandato de seis anos.

Nicolás Maduro e Vladimir Putin em encontro em 2018, em Moscou
Nicolás Maduro e Vladimir Putin em encontro em 2018, em Moscou - Maxim Shemetov - 5.dez.18/Reuters

O venezuelano é um aliado do líder russo Vladimir Putin, que se vê cada vez mais isolado por sanções aplicadas principalmente por EUA e Europa.

Foi Putin, junto à China e ao Irã, quem ajudou Maduro quando os americanos aplicaram embargos ao setor energético venezuelano e sanções a autoridades do país nos últimos anos. O petróleo é o setor mais importante da economia venezuelana e, antes das sanções, a maioria do produto era exportado aos EUA.

O jornal afirma, com base em depoimentos de autoridades em condição de anonimato, que Washington teme a proximidade diplomática de Moscou com Caracas em uma eventual escalada do atual conflito, o que poderia ser uma ameaça à segurança dos EUA.

Além disso, conforme as sanções à economia russa começam a danificar o país e Putin naturalmente busca aliados para impedir maiores solavancos, os americanos se aproximam de Maduro para fechar mais uma porta potencial para os russos.

Quando essas sanções ainda eram discutidas e se desenhavam os potenciais impactos de punições profundas ao setor energético da Rússia —com forte impacto na economia mundial—, importantes atores políticos dos EUA apontaram a Venezuela como substituta para o mercado.

Políticos republicanos, como o ex-deputado Scott Taylor, da Virgínia, estão envolvidos no lobby para o restabelecimento do comércio de petróleo com o vizinho latino-americano. Segundo o New York Times, Taylor conversou na noite de sexta com um empresário venezuelano, que indicou que o regime de Maduro tinha interesse em voltar a negociar com os EUA.

"Devemos usar essa oportunidade para conseguir uma vitória diplomática e uma cisão entre Rússia e Venezuela", disse o ex-parlamentar em um comunicado. Maduro, no entanto, vem dando mostras de que pretende continuar ligado a Putin. Há sinais, inclusive, de que gostaria de expandir a parceria.

Na última terça-feira (1º), conforme divulgou a agência russa de notícias Interfax citando o Kremlin, o venezuelano discutiu com o líder russo a situação na Ucrânia em um telefonema.

Maduro expressou apoio à Rússia e condenou, nos mesmos moldes dos argumentos de Putin para a guerra, o que chamou de atividade desestabilizadora dos EUA e da Otan (aliança militar ocidental). A iniciativa da conversa partiu da Venezuela.

Em janeiro, aproximadamente um mês antes da invasão russa da Ucrânia, o Kremlin tinha sugerido enviar tropas para Venezuela e Cuba, outra aliada, como forma de pressionar a Otan. A sugestão contribuiu para o retorno do fantasma da Guerra Fria e um de seus mais tormentosos episódios, a Crise dos Mísseis.

Em 1962, a União Soviética quis responder às instalações de mísseis nucleares americanos na Turquia colocando um regimento de foguetes em Cuba, o que, ao cabo, aproximou perigosamente americanos e soviéticos de uma guerra nuclear.

No ano seguinte, esfriada a crise, Washington e Moscou instalaram uma linha direta entre os chefes de Estado para evitar falhas de comunicação e erros de cálculo que pudessem levar a uma catástrofe.

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