Ondas de calor na França causaram 2.816 mortes adicionais entre junho e agosto

Altas temperaturas também podem ter contribuído para vulnerabilidade de pacientes com Covid, aponta agência do país

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Paris | Reuters

Mais de 2.800 pessoas teriam morrido na França devido às fortes ondas de calor registradas entre junho e agosto deste ano. A conta, divulgada pelo Ministério da Saúde do país, leva em conta as mortes adicionais –a diferença entre os óbitos gerais desses três meses e os do mesmo período em 2021.

Segundo o governo, o excesso de mortes entre 14 e 22 de junho, 9 e 27 de julho e 29 e 14 de agosto, períodos de temperaturas elevadas na Europa, foi de 2.816. O verão deste ano foi o segundo mais quente da França desde 1900, ocasionando incêndios florestais e queda no nível de reservatórios de água.

Pedestres caminham em rua de Nantes, na França, enquanto termômetro marca 44ºC
Pedestres caminham em rua de Nantes, na França, enquanto termômetro marca 44ºC - Loic Venance - 18.jul.22/AFP

Na época, autoridades do país implementaram medidas de restrição no consumo de água em quase todas as regiões do país, e mais de cem municípios ficaram sem água potável, dependendo do fornecimento por caminhões-pipa. Julho de 2022 foi o mês mais seco registrado na França desde março de 1961, e o verão de 2022 bateu o recorde no número de dias de calor extremo (mais de 30).

A maior parte das mortes adicionais durante a onda de calor foi registrada nas regiões de Auvergne-Rhône-Alpes, Nouvelle Aquitaine, Occitane e Provence-Alpes-Côte d'Azur, todas no sul e mais próximas do mar Mediterrâneo. Os idosos foram os mais afetados: do total de excesso de mortes nos três períodos, 2.272 foram de pessoas com 75 anos ou mais.

O governo francês também divulgou que, de 1º de junho a 15 setembro, o país registrou 10.430 mortes em excesso na comparação com 2021 —a cifra inclui óbitos registrados nos períodos de maior temperatura.

É provável que a pandemia de Covid-19 também tenha desempenhado um papel nas mortes relacionadas ao calor, disse a agência de saúde pública. Segundo o órgão, o vírus pode ter aumentado a vulnerabilidade de algumas pessoas e a exposição a altas temperaturas, piorado a saúde de pacientes com a doença. No período, a França registrou 894 mortes relacionadas à Covid.

No início de novembro, a OMS (Organização Mundial da Saúde) informou que ao menos 15 mil pessoas morreram na Europa durante as ondas de calor. À época, a organização destacou Espanha e Alemanha como os países mais afetados. "Quase 4.000 mortes na Espanha, mais de mil em Portugal, mais de 3.200 no Reino Unido e cerca de 4.500 na Alemanha foram registradas pelas autoridades sanitárias durante os três meses de verão", disse o diretor-regional da OMS, Hans Kluge, acrescentando que os números ainda poderiam crescer, conforme outros países divulgassem seus relatórios.

As altas temperaturas estão intrinsecamente ligadas ao aquecimento global. À Folha o climatologista José Álvaro Pimpão Silva, da Organização Meteorológica Mundial da ONU (OMM), disse que a contribuição humana para o aquecimento tem levado a uma ocorrência mais provável desses fenômenos. "Estamos absolutamente fora do domínio da variabilidade natural do clima. A influência do homem para o aquecimento da superfície terrestre é incomparavelmente maior que qualquer causa natural."

Por outro lado, ele apontou que, de acordo com estudo da OMM, houve um decréscimo no número de mortes decorrentes de desastres climáticos. Segundo ele, a redução é ainda mais significativa porque o número de episódios como esse mais do que triplicou, de 711 em 1970-1979 para 3.165 em 2010-2019.

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