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Rússia recua e retorna a acordo de exportação de grãos com a Ucrânia

Moscou havia anunciado quebra do pacto após Kiev bombardear base no mar Negro

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Moscou | Reuters

Em um recuo, a Rússia anunciou nesta quarta (2) que manterá o acordo com a Ucrânia para a exportação de grãos e fertilizantes do país do Leste Europeu pelo mar Negro. O pacto, mediado por ONU e Turquia, havia sido suspenso pelo Kremlin há quatro dias, sob acusações de que Kiev e o Reino Unido estariam por trás de um ataque na região.

A mudança ocorreu, mais uma vez, sob a mediação do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, que falou com os presidentes dos dois países. Na terça (1º), ele deu garantias ao russo Vladimir Putin de que a Ucrânia não usará o corredor pelo qual os navios trafegam nem os portos do país para atacar bases de Moscou na área.

Navio carregado com grãos ucranianos trafega no Mar Negro perto de Istambul, na Turquia
Navio carregado com grãos ucranianos trafega no Mar Negro perto de Istambul, na Turquia - Umit Bektas - 2.nov.21/Reuters

Ancara é um dos principais destinos dos grãos exportados —o que ajuda a explicar o interesse de Erdogan nas negociações. Após falar com o presidente turco Putin deixou em aberto a possibilidade de voltar a suspender sua ação no acordo, mas, atestando a influência do homólogo, disse que, se o fizer, isso não impactará o fluxo da Ucrânia para a Turquia.

O cerne do imbróglio recente está numa operação de Kiev contra a base russa da Frota do Mar Negro, em Sebastopol, no último sábado (29).

Na ocasião, os ucranianos atingiram um caça-minas e uma rede de contenção na baía de Iujnaia por meio de drones e submarinos. O ataque foi o mais audacioso desde a explosão que atingiu a ponte da Crimeia, em outubro. Apesar de estar em baixa, a frota, estabelecida em 1783, é simbólica para os russos.

A operação chamou ainda mais a atenção do Kremlin por, de acordo com os russos, ter contado com a ajuda do Reino Unido. Foi a primeira vez que Moscou acusou um país-membro da Otan, a aliança militar do Ocidente, de participar de forma ativa de um ofensiva contra sua infraestrutura.

Londres nega as acusações, mas a Rússia anunciou nesta quarta que convocará a embaixadora britânica em Moscou para tratar do assunto. O Reino Unido, junto à Polônia e aos países bálticos, faz parte do grupo que pressiona a Europa a adotar mais sanções contra a Rússia.

O fim da suspensão do acordo de exportação de grãos foi celebrado pelo ucraniano Volodimir Zelenski, que agradeceu o esforço diplomático de Erdogan, e traz alívio ao mercado e à comunidade global —a Rússia e a Ucrânia estão entre os maiores produtores de trigo do mundo.

Quando o pacto foi assinado, em julho, o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, disse que a negociação ajudaria no combate à pobreza extrema no mundo, por influenciar o preço dos alimentos.

As negociações, porém, não foram capazes de restabelecer toda a venda de grãos da Ucrânia. Nesta quarta, o Ministério da Agricultura do país afirmou que, neste ano, as exportações caíram 32% em relação a 2021. Kiev diz que, devido à perda de terras para as forças russas, deve colher no máximo 52 milhões de toneladas de grãos em 2022, abaixo do recorde de 86 milhões de toneladas em 2021.

Moscou também se beneficia das vendas e, assim, do acordo. A analista de política russa Tatiana Stanovaia ponderou à Reuters que o lucro do país nesse setor foi crucial para a decisão do Kremlin. "Não importa o quão preocupado Putin esteja com a Ucrânia, ele continua sendo um político minimamente racional."

Seja como for, a aparente indecisão do russo serviu de munição para seus adversários. A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, disse que o movimento de Moscou reforça a importância de ignorar chantagens do líder do Kremlin —as exportações continuaram mesmo após a suspensão do acordo.

Ainda no campo das retaliações, a Polônia anunciou a construção de uma cerca de arame farpado na fronteira com Kaliningrado, território russo entre o país e a Lituânia. O temor é o de que Putin utilize o exclave para impulsionar a imigração na Europa, como fez o ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko.

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