Atirador que matou curdos em Paris confessa xenofobia

Ataque gerou protestos em comunidade curda, que sofreu ataque terrorista no mesmo bairro há 10 anos

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Paris | Reuters e AFP

O homem detido pelo assassinato de três pessoas em um centro cultural curdo em Paris na sexta-feira (23) afirmou ter "ódio de estrangeiros" ao ser interrogado pela polícia. A informação foi divulgada pela Promotoria parisiense em um comunicado neste domingo (25), reforçando as evidências de que o crime, que gerou protestos na comunidade curda do país, teve motivação racista.

Homenagem às vítimas do ataque em frente ao Centro Democrático do Curdistão, em Paris, mostra retratos das três pessoas mortas, Mir Perwerin, Emine Kara e Abdurrahman Kizil, cercados de velas - Julie Sebadelha - 24.dez.22/AFP

O suspeito, um francês de 69 anos identificado como William M., afirmou durante o interrogatório que desenvolveu um "ódio de estrangeiros completamente patológico" depois de um assalto a sua casa em 2016. Uma de suas passagens pela polícia data daquele ano, quando ele esfaqueou um homem que tentou roubá-lo.

No final do ano passado, William atacou um campo de refugiados com um sabre e feriu dois sudaneses. Acabou condenado pelo crime em primeira instância, mas libertado da prisão preventiva neste mês depois que seus advogados apresentaram um recurso à Justiça.

Em seu depoimento à polícia, William contou que chegou a ir à Saint-Denis, subúrbio no norte de Paris conhecido por abrigar muitos imigrantes, em busca de vítimas, mas desistiu após ver poucos transeuntes nas ruas. Segundo o jornal Le Monde, ele admitiu que se dirigiu ao 10º arrondissement, palco do crime, porque sabia que lá ficava o centro cultural curdo que atacou, o Ahmet-Kaya.

Também disse não conhecer as três pessoas que matou —uma delas, Emine Kara, líder do movimento de mulheres curdas na França—, mas que tinha raiva dos curdos porque eles optaram por manter presos integrantes do Estado Islâmico em vez de matá-los ao conquistar um presídio durante a guerra na Síria.

Ainda de acordo com o periódico francês, o atirador declarou que seu único arrependimento é não ter se matado após o ataque. Afirmando sofrer de depressão, ele disse que sempre pensou que, se cometesse suicídio, levaria "seus inimigos para o túmulo junto com ele", especificando que, por inimigos, ele queria dizer todos os "estrangeiros não europeus".

A comunidade curda na França tem organizado protestos pedindo respostas do Estado em relação ao crime desde o momento do ataque. Ele ocorre dez anos depois do assassinato de três ativistas curdas no mesmo distrito do ataque da sexta —uma das vítimas era a fundadora do Partido dos Trabalhadores Curdos (PKK), que luta pela criação de um Estado curdo no Oriente Médio. Descendentes da Pérsia antiga, eles representam hoje a maior nação apátrida do mundo.

Nos atos houve cenas de enfrentamento com a polícia. Carros foram atacados e pequenos incêndios foram registrados em áreas da Praça da República, onde estava a concentração. Alguns manifestantes lançaram objetos contra a polícia, que respondeu com uso de gás lacrimogêneo.

Representantes da comunidade ainda têm pressionado as autoridades para enquadrar o crime como um atentado terrorista. Uma busca na casa do atirador, onde ele morava com os pais, não encontrou evidências de que ele tivesse relações com ideologias extremistas. A polícia investiga suspeitas de homicídio, tentativa de homicídio, violência intencional com armas e violação da legislação sobre armas.

William foi internado em uma unidade psiquiátrica depois que o seu interrogatório foi suspenso por questões médicas no sábado (24). Dos três feridos no tiroteio, dois ainda estão no hospital, mas não correm risco de morte, de acordo com a promotoria.

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