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Não serei candidata em 2023, afirma Cristina Kirchner após condenação

Vice-presidente da Argentina volta a acusar juiz, jornalistas e oposição após veredicto que a culpou por corrupção

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Buenos Aires

A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, condenada nesta terça-feira (6) a seis anos de prisão por corrupção e fraude ao Estado, voltou a acusar o Judiciário de perseguição e disse que não será candidata a nenhum cargo nas eleições do ano que vem. A política discursou por mais de uma hora em uma transmissão ao vivo nas redes sociais feita de seu gabinete no Senado.

"Essa condenação é fruto de 'lawfare', de uma ação do Partido Judicial, da máfia do Estado paralelo", afirmou a vice-presidente depois de ser informada sobre a sentença determinada pelo tribunal de Comodoro Py. A fala repete argumentos da política nas semanas que antecederam ao julgamento, apresentados inclusive em uma entrevista à Folha.

Cristina fez menção também a um pronunciamento do presidente Alberto Fernández, na segunda-feira (6), no qual ele anunciou a abertura de uma investigação sobre uma suposta viagem ao sul do país que teria sido feita secretamente por um grupo de empresários de mídia, promotores e juízes.

Apoiador de Cristina Kirchner beija bandeira com o rosto da vice-presidente em manifestação em frente ao tribunal de Comodoro Py - Luis Robayo - 6.dez.22/AFP

Ela nomeou vários deles e afirmou que faziam parte da mesma "máfia" que a condenou —entre eles estaria Julián Ercolini, juiz que conduziu seu processo. Em parte de uma troca de mensagens que mostrou, sem esclarecer a origem do material, o magistrado aparece supostamente aconselhando o grupo a como agir para que a viagem não fosse investigada.

Cristina também fez duras críticas ao jornalismo argentino, afirmando que os jornais La Nación e Clarín, dois dos principais veículos do país, combinaram o modo como reportagens sobre ela seriam publicadas. Nomeando repórteres, disse que eles "não informam, não fazem jornalismo, fazem política".

Com reproduções de conversas que mostrou para a tela, a vice-presidente ainda fez acusações diretas aos diretores de ambos os jornais.

Em um dos chats, pessoas que supostamente estavam na viagem —membros da cúpula dos veículos, empresários e funcionários da administração de Buenos Aires, da oposição— mencionam acordos sobre o que diriam, como se livrariam de processos em curso contra eles e conhecidos e debatiam estratégias para formar uma maioria simpática a eles no Congresso.

Cristina chorou, afirmou que "nunca será uma mascote do poder" e que num sistema que permite a existência do que chama de "Partido Judicial e um Estado paralelo", ela não seria mais candidata —que preferia ir presa.

A condenação desta terça, de todo modo, não deve resultar em sua detenção tão cedo. Primeiro porque ainda cabe recurso; depois, porque ela tem imunidade pelos cargos de vice-presidente e líder do Senado. O foro especial só é passível de ser derrubado mediante um processo de impeachment no Parlamento. Ainda assim, isso se daria apenas quando fossem esgotadas todas as instâncias de apelação, sendo a Corte Suprema a última delas.

A política afirmou ainda que o objetivo dos que a condenaram não é colocá-la na cadeia. "A verdadeira condenação que eles querem é que eu não concorra mais a eleições ou que eu morra com um tiro na cabeça. A estes, digo que prefiro ir presa."

A afirmação faz referência ao atentado de que foi alvo no início de setembro, cujos suspeitos de participação ela alega ter vínculos com a oposição liderada pelo ex-presidente Mauricio Macri. Sobre as eleições de 2023, a expectativa era de que Cristina fosse candidata a algum cargo —caso eleita, ela renovaria sua imunidade.

No pronunciamento desta terça, porém, ela disse que não se lançará no pleito. "Não serei candidata, em dezembro de 2023 não terei foro."

Por enquanto, sua força política, a aliança peronista Frente de Todos, não definiu quem concorrerá à sucessão de Alberto Fernández, mas a atual vice é uma das cotadas, ao lado do próprio presidente, do ministro do Interior, Wado de Pedro, e do governador da província de Buenos Aires, Axel Kiciloff. As primárias para essa votação devem ocorrer em agosto de 2023.

Nesta terça, do lado de fora do tribunal de Comodoro Py e do Senado, onde se concentravam apoiadores da política, o grito era de "Cristina presidente".

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