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EUA divulgam milhares de documentos relacionados ao assassinato de John Kennedy

Registros contêm informações sobre viagens de atirador ao México e à Finlândia

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Michael Levenson Chris Cameron
Washington | The New York Times

O governo dos Estados Unidos divulgou nesta quinta-feira (15) um novo conjunto de documentos relacionados ao assassinato do presidente John F. Kennedy, em 1963, um ponto de inflexão na história americana e objeto de persistentes teorias da conspiração, apesar da conclusão oficial do governo de que Lee Harvey Oswald, agindo sozinho, matou Kennedy a tiros.

Historiadores e pesquisadores disseram que estavam começando a vasculhar os 13.173 documentos contendo informações recém-divulgadas, esperando esclarecer um dos assassinatos mais investigados da história recente e as medidas tomadas pelo governo antes e depois dele.

John Fitzgerald Kennedy assina na Casa Branca ordem de bloqueio naval a Cuba
John Fitzgerald Kennedy assina na Casa Branca ordem de bloqueio naval a Cuba - Arquivo - 23.out.62/AFP

Os documentos incluíam registros relacionados às viagens de Oswald à Cidade do México, várias semanas antes do assassinato de Kennedy, e à Finlândia em 1959, ano em que desertou para a União Soviética; e imagens de seu pedido de visto cubano. Alguns dos documentos –incluindo um sobre a Operação Mangusto, uma campanha secreta do governo americano para livrar Cuba de Fidel Castro– incluíam trechos apagados.

Muitos documentos tinham sido divulgados antes, mas agora têm menos partes ocultadas, disseram os pesquisadores, que estavam se esforçando para descobrir quais novas informações foram reveladas.

"Não haverá nenhuma grande novidade. Nada que empurre a agulha para um lado ou para o outro", diz Mark Zaid, advogado de Washington que lidou com casos da Lei de Liberdade de Informação relacionados ao assassinato de Kennedy e que pressionou para que mais documentos fossem divulgados.

"Para quem está interessado apenas no assassinato de Kennedy, ouso dizer que não encontrará nada que o faça engasgar. O valor desses documentos será para os pesquisadores e acadêmicos obstinados que agora passarão meses digerindo cada página."

Os Arquivos Nacionais disseram que mais de 97% dos registros em sua coleção relacionada ao assassinato –aproximadamente 5 milhões de páginas– estão agora disponíveis ao público.

O presidente Joe Biden decidiu no ano passado adiar o lançamento do último conjunto até 15 de dezembro, dizendo que o arquivista nacional havia relatado que a pandemia teve um "impacto significativo" nas agências do governo que precisam ser consultadas sobre as edições.

Uma lei de 1992 exigia que o governo divulgasse o último dos documentos sobre o assassinato de Kennedy até 26 de outubro de 2017, a menos que a Presidência optasse por retê-los por motivos de segurança nacional. A administração de Donald Trump divulgou um conjunto de registros sobre o caso no outono de 2017.

Mas depois de intenso lobby da CIA e do FBI, o então presidente concordou em reter um lote pendente de revisão para garantir que nada divulgado prejudicasse a segurança nacional. O republicano disse às agências que quaisquer edições devem ser extremamente raras.

De acordo com a CIA, 95% de seus documentos da coleção foram liberados e nenhum deles foi totalmente editado ou totalmente retido. A agência disse que sua coleção de registros inclui cerca de 87 mil documentos, aproximadamente 84 mil dos quais foram divulgados na íntegra.

"A profunda tragédia nacional do assassinato do presidente Kennedy continua ressoando na história americana e nas memórias de tantos americanos que viveram aquele dia terrível; enquanto isso, a necessidade de proteger os registros relativos ao assassinato enfraqueceu com o passar do tempo", afirmou Biden em memorando na quinta.

"Portanto, é fundamental garantir que o governo dos EUA maximize a transparência, divulgando todas as informações nos registros sobre o assassinato, exceto quando as razões mais fortes possíveis aconselhem o contrário."

Segundo Gerald Posner, jornalista investigativo e autor de "Case Closed: Lee Harvey Oswald and the Assassination of JFK" (caso encerrado: Lee Harvey Oswald e o assassinato de JFK), qualquer um que acreditasse que o último lote poderia mudar a "conclusão fundamental" da Comissão Warren, em 1964, estava em uma "missão tola".

O colegiado, liderado pelo juiz Earl Warren, concluiu que Oswald agiu sozinho quando disparou três tiros de um prédio em Dallas, no Texas, em 22 de novembro de 1963, matando Kennedy e ferindo o governador do estado, John Connally Jr., que estavam numa limusine aberta passando pela Dealey Plaza.

Ainda assim, diz Posner, "o próprio fato de estarmos falando 59 anos depois sobre quais documentos a CIA e outras agências estão resistindo em divulgar na totalidade alimenta de fato a ideia do público de que há algo errado no assassinato de Kennedy".

Pesquisas ao longo dos anos revelaram consistentemente que a maioria dos americanos acredita que havia outras pessoas envolvidas no assassinato. Um comitê seleto da Câmara dos Deputados disse em um relatório em 1979 que evidências sugeriam a possibilidade de uma conspiração, mas não identificou quem seriam esses conspiradores.

Muitos documentos divulgados na quinta-feira detalham operações secretas da CIA na América Latina nos anos anteriores e posteriores ao assassinato.

Por exemplo, um memorando datado de dezembro de 1963, um mês após o crime, discute os esforços para interromper uma reunião da Federação Única dos Trabalhadores para a América Latina –descrita como uma "assembleia de líderes sindicais de esquerda, socialistas e comunistas"– no Brasil.

Um documento delineava os esforços da CIA para enquadrar Cuba por contrabando de armas soviéticas para vários países latino-americanos, bem como operações planejadas para bombardear usinas elétricas, refinarias de petróleo e outros alvos industriais em Cuba.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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