Lojas fecham portas no Irã e sinalizam adesão a greve geral contra regime

Dezenas de cidades registram paralisações em retaliação a repressão da república teocrática

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Dubai | Reuters

Lojas em dezenas de cidades do Irã fecharam suas portas nesta segunda-feira (5) diante de apelos por uma greve geral nacional em protesto contra o regime teocrático do país.

Vídeos nas redes sociais mostram os estabelecimentos fechados em cidades como Teerã, Karaj, Isfahan e Shiraz. Em depoimentos à agência de notícias Reuters, testemunhas afirmaram que efetivos da tropa de choque e da milícia Basij, ligada à Guarda Revolucionária do Irã, foram deslocados ao centro da capital.

Em comunicado, a Guarda disse nesta segunda que as forças de segurança "não terão misericórdia de desordeiros, bandidos e terroristas", reiterando as classificações dadas pelo regime aos milhares de manifestantes que vão às ruas do Irã há quase três meses.

Homem passa por lojas fechadas na rua Satarkhan, em Teerã, nesta segunda - Atta Kenare - 5.dez.22/AFP

Cidades menores, como Bojnourd, Kerman, Sabzevar, Ilam e Ardabil, também pareceram aderir à paralisação, de acordo com o conteúdo vinculado por perfis nas redes sociais que monitoram a maior onda de protestos do Irã desde a Revolução Islâmica de 1979.

O grupo de direitos humanos Hengaw contabilizou estabelecimentos em ao menos 19 cidades alinhados à greve geral no oeste do Irã, onde se concentra a maior parte da população curda. A minoria, historicamente marginalizada no país, está no centro dos protestos desde a morte de uma de seus membros.

Mahsa Amini, 22, morreu em setembro sob custódia da polícia moral, responsável por aplicar os rigorosos códigos de conduta religiosos do regime. Amini foi detida devido ao suposto uso incorreto do hijab, o véu islâmico. A versão oficial do regime é de que ela morreu em decorrência de problemas de saúde prévios, mas familiares e ativistas afirmam que ela foi agredida e morta por agentes enquanto estava presa.

No domingo (4), o procurador-geral do Irã, Mohammad Jafar Montazeri, indicou a suspensão da chamada polícia moral. A declaração seria um aceno aos manifestantes, mas não houve confirmação sobre a dissolução da unidade, subordinada ao Ministério do Interior e, segundo a imprensa local, fora da alçada de Montazeri. Tampouco há sinalização de mudanças na lei que obriga o uso do hijab.

A ONG Direitos Humanos no Irã estima que mais de 450 manifestantes e 60 agentes foram mortos desde o início dos atos. Em resposta à repressão, países do Ocidente, notadamente os EUA, anunciaram uma série de sanções contra o regime, que, por sua vez, culpa "vândalos" pela escalada das manifestações e diz que a violência da repressão é uma resposta à violência dos próprios manifestantes.

Além da greve geral, iranianos devem ir às ruas em novo protesto na praça Azadi (Liberdade), uma das principais de Teerã. A manifestação deve acontecer na quarta-feira (7). No mesmo dia, o presidente Ebrahim Raisi deve discursar para estudantes, grupo que tem sido o principal catalisador dos atos.

Erramos: o texto foi alterado

O nome do procurador-geral do Irã, Mohammad Jafar Montazeri, foi grafado de forma incorreta em versão anterior deste texto.

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