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Médicos com Covid na China dizem que são obrigados a trabalhar

País asiático registra aumento no número de casos da doença após flexibilizar medidas de isolamento; hospitais estão lotados

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Hong Kong | Reuters

Profissionais de saúde da China estariam sendo obrigados a trabalhar mesmo infectados com Covid-19, afirma uma reportagem da agência de notícias Reuters. A razão seria o alto número de pacientes com a doença em hospitais do país, o que exigiria mais médicos e enfermeiros nas instalações.

Alguns hospitais em Pequim têm até 80% de seus funcionários infectados, mas muitos deles ainda são obrigados a trabalhar devido à falta de pessoal, disse sob condição de anonimato um médico de um grande hospital público de Pequim. Segundo ele, colegas de outros centros médicos da capital têm relatado a mesma situação, e cirurgias eletivas já estariam sendo canceladas em cidades do país.

Equipe médica leva paciente com febre a hospital em Pequim, na China
Equipe médica leva paciente com febre a hospital em Pequim, na China - Foto de arquivo - 13.dez.22/Reuters

Wan Ling, enfermeira-chefe de um hospital em Huashan, na província de Anhui, escreveu na rede social Weibo que muitos de seus colegas infectados estavam em estado relativamente grave e com febre alta.

Além disso, vários médicos do principal hospital público da província de Wuhan também foram receberam o diagnóstico de Covid-19, mas desde domingo não foram autorizados a se ausentar, segundo um representante de vendas de produtos farmacêuticos ouvido pela Reuters.

O regime chinês não respondeu aos questionamentos feitos pela agência sobre o assunto, assim como os hospitais mencionados pelos entrevistados. Especialistas em saúde dizem que o afrouxamento das regras de isolamento na China deve desencadear um aumento de casos graves da doença nos próximos meses. Autoridades recomendam que pessoas com sintomas leves de Covid fiquem em quarentena; segundo o regime, a maioria dos casos até agora é de assintomáticos —embora os principais órgãos de saúde do país tenham dito que a flexibilização tornou quase impossível dimensionar as novas infecções.

Em um país de 1,4 bilhão de pessoas, qualquer surto já ameaça a capacidade operacional do sistema de saúde chinês. "Nosso hospital está lotado de pacientes. Há entre 700 e 800 pessoas com febre chegando todos os dias", disse um médico de sobrenome Li em um hospital na província de Sichuan.

"Estamos ficando sem estoque de remédios para febre e resfriado, e agora aguardamos a entrega dos fornecedores. Algumas enfermeiras da clínica estão contaminadas com o vírus, não há nenhuma medida de proteção especial para a equipe do hospital, e acredito que muitos de nós logo serão infectados."

Ben Cowling, epidemiologista da Universidade de Hong Kong, disse que recursos médicos insuficientes para lidar com sobrecarga de casos de Covid contribuíram para um aumento nas mortes em Hong Kong, onde as infecções atingiram o pico no início do ano, e alertou que o mesmo cenário acontecerá na China.

"Uma das razões pelas quais tivemos uma taxa de mortalidade tão alta [em Hong Kong] é porque simplesmente não tínhamos recursos hospitalares suficientes para lidar com o aumento. E, infelizmente, é isso que vai acontecer em cerca de um a dois meses no continente", disse Cowling.

Segundo o epidemiologista, a situação piora pois, ainda que os sintomas sejam leves, idosos infectados precisam ser monitorados por profissionais de saúde, o que sobrecarrega hospitais. A estatal Xinhua disse na terça (13) que Pequim tinha 50 pacientes internados em estado grave ou crítico devido à doença.

No mesmo dia, a Comissão Nacional de Saúde anunciou a abertura de 14 mil unidades de monitoramento de sintomas de Covid em grandes hospitais, além de 33 mil estruturas semelhantes em locais menores.

A flexibilização das medidas de isolamento e o aumento no número de casos acontece dias depois de milhares de chineses irem às ruas protestar contra as rígidas políticas de contenção da ditadura –manifestações, diga-se, bastante incomuns no país liderado por Xi Jinping.

Muitos dos manifestantes, aliás, estariam detidos ou sendo processados, segundo o jornal americano The Wall Street Journal. Devido à falta de transparência do regime, ativistas porém não conseguem coletar informações sobre a quantidade de presos nos atos.

O jornal honconguês South China Morning Post, por sua vez, destacou nesta quinta a declaração do embaixador chinês na França, Lu Shaye, em um jantar com diplomatas franceses na semana passada. Segundo ele, os protestos no país asiático foram provocados por falhas da gestão local em administrar a Covid, mas logo teriam sido explorados por forças estrangeiras para interferir em assuntos internos.

A jornalistas Lu também teria classificado as manifestações de "revolução colorida", expressão que remete aos protestos contra governos pró-Rússia em ex-repúblicas soviéticas no início dos anos 2000. "O 'White Paper Parade', embora seja branco, também é uma revolução colorida. Porque o branco também é uma cor", disse ele, em referência aos manifestantes que carregavam papéis em branco durante os atos.

Ainda nesta quinta, Xi deve se reunir a portas fechadas com membros do alto escalão do Partido Comunista Chinês para planejar a recuperação econômica do país.

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