Descrição de chapéu China Coronavírus

China para de contar todos os casos de Covid e alega dificuldades de diagnóstico

Flexibilização das restrições teria impossibilitado a confirmação de novas infecções, em especial as assintomáticas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Autoridades da China afirmaram nesta quarta-feira (14) que a flexibilização das restrições para contenção do coronavírus tornaram o rastreamento de novos casos praticamente impossível.

Palco de protestos contra a política conhecida como Covid zero, o país asiático vem relaxando as principais medidas de controle que vigoravam desde o início da pandemia, há quase três anos, como o fim da obrigatoriedade dos testes de detecção e a permissão para quarentena domiciliar.

Pessoa vestindo equipamento completo de proteção em estação de trem em Wuhan, na China - 14.dez.22/AFP

Em novembro, antes da flexibilização, a China registrou níveis recordes de novos casos. Desde então, os números vêm caindo, mas a Comissão Nacional de Saúde afirma que os dados não refletem mais a realidade, o que seria uma consequência do afrouxamento das regras.

"Muitas pessoas assintomáticas não precisam mais participar dos testes de ácido nucleico, o que torna impossível determinar o número real de pessoas assintomáticas infectadas", diz uma nota do órgão.

Alegando a mesma dificuldade em confirmar diagnósticos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China anunciou que não vai mais divulgar relatórios diários. Há ainda rumores de que até a contagem de mortes deve sofrer alguma alteração, passando a considerar apenas os casos em que a Covid for apontada como causa principal do óbito e excluindo, por exemplo, pacientes com comorbidades.

Sun Chunlan, vice-primeira-ministra e principal articuladora da Covid zero, foi citada pela imprensa estatal alertando para a alta do número de casos em Pequim. Mas o regime parece determinado a seguir adiante com a abertura. Sun prometeu no início do mês uma "abordagem mais humana" da crise e chamou a atenção para a queda do índice de letalidade —desde 3 de dezembro o país não registra mortes por Covid.

A China enfrenta, contudo, um aumento de casos não inteiramente dimensionado e para o qual não está preparada, com milhões de idosos ainda sem esquema de vacinação completo e hospitais sem recursos para lidar com um fluxo inesperado de pacientes infectados.

Nesta quarta, a Comissão Nacional de Saúde anunciou a abertura de 14 mil unidades de monitoramento de sintomas de Covid em grandes hospitais, além de 33 mil estruturas semelhantes em locais menores.

Com a Covid zero ainda em vigor e os sinais de que o país segue para um caminho de convivência com o vírus, muitas pessoas com sintomas optam por se tratar em casa, inclusive recorrendo a automedicação. Moradores de Pequim relatam que remédios para resfriados estão em falta nas farmácias, nas quais a formação de longas filas se tornou mais frequente.

A demanda por testes de detecção da Covid também impulsionou um mercado paralelo com preços astronômicos. Alguns compradores tentam encontrar os produtos por meio de "traficantes", cujos contatos circulam em plataformas como WeChat, versão chinesa turbinada do WhatsApp.

O objetivo do regime de estimular a recuperação econômica flexibilizando as restrições parece não estar sendo alcançado. Restaurantes, parques e shoppings têm autorização para abrir, mas agora lidam com a hesitação de uma população que, em certa medida, assimilou o hábito de ficar em casa por precaução.

"Esse é o preço que pagamos por sermos mais livres", disse Liang, mulher de 26 anos que preferiu não informar o sobrenome, à agência de notícias Reuters. "Agora é essencial melhorarmos nossa consciência de autoproteção. Acho que o risco depende dos indivíduos."

As ruas de Pequim passam a maior parte do tempo vazias. Um homem de mais de 80 anos que não quis se identificar disse que, na prática, continua seguindo o que determinam as autoridades e, portanto, prefere ficar em casa para se manter em segurança. Muitas empresas também enfrentam dificuldades com pessoal, seja pela adoção do trabalho remoto em escalas maiores num período em que a modalidade presencial já é permitida, seja devido a casos suspeitos ou confirmados de Covid-19 entre funcionários.

O dirigente Xi Jinping deve se reunir a portas fechadas a partir desta quinta-feira (15) com membros do alto escalão do Partido Comunista Chinês para planejar a recuperação econômica. A Organização Mundial da Saúde, que descrevia a Covid zero como insustentável, fez novos alertas e prenunciou tempos "muito difíceis" para a China, relacionados a novas ondas de infecções no país de 1,4 bilhão de habitantes.

Os casos de Covid podem ganhar ainda novo impulso ao longo das próximas semanas, à medida que se aproxima o Ano-Novo Chinês, comemorado a partir de 22 de janeiro. Reportagens da mídia estatal já apontam que o fluxo diário de tráfego na principal estação ferroviária no centro tecnológico de Hangzhou mais que dobrou e deve alcançar o pico às vésperas da celebração. Nos últimos três anos, a circulação de pessoas por ocasião do feriado, mesmo em viagens domésticas, foi proibida.

Com AFP e Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.