Viagem de Lula aos EUA deve ocorrer depois da posse, diz Celso Amorim

Presidente eleito se reuniu nesta segunda-feira com conselheiro de Segurança Nacional Jake Sullivan

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Brasília

A viagem do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aos Estados Unidos para um encontro com o líder americano, o democrata Joe Biden, deve ficar para depois da cerimônia de posse, agendada para 1º de janeiro de 2023, afirmou nesta segunda-feira (5) o ex-chanceler Celso Amorim.

Principal conselheiro do petista para a política externa, o ex-ministro participou do encontro de Lula com o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan. "O presidente [eleito] comentou a situação interna, negociações diversas que ainda estão ocorrendo e disse que talvez não desse [para ir aos EUA antes de assumir]. Não disse não, mas que talvez não desse, e valorizou muito o fato de o convite ter sido feito dessa maneira", afirmou Amorim.

"Ele acha que dá para ir logo no início do ano [2023] também, já numa visita oficial como presidente."

O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, e o presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em encontro em Brasília - Ricardo Stuckert - 5.dez.22/Divulgação

Sullivan viajou ao Brasil para fazer o convite a Lula e discutir "desafios comuns" aos dois países, incluindo crise climática, segurança alimentar, democracia e imigração. Segundo o relato de Amorim, a conversa de Lula com o representante de Biden foi "muito ampla, incluindo temas regionais, globais e mundiais".

A pacificação do Haiti foi um dos temas contemplados. De acordo com o ex-chanceler, tanto Lula quanto Sullivan demonstraram preocupação com a situação do país da América Central, mas o conselheiro americano não fez nenhum pedido especial ao futuro governo brasileiro.

"Lula lembrou o empenho do Brasil no passado na questão do Haiti, enfrentando até oposição interna. E a preocupação se deve à situação atual, aparentemente muito pior do que há 14, 15 anos", comentou. Os militares brasileiros participaram da missão da ONU de 2004 a 2017.

A crise na Venezuela foi outro assunto em pauta. Para os americanos, é fundamental que haja uma eleição considerada justa no país sul-americano. Lula, por sua vez, falou da importância de se reconhecer realidades, lembrou experiências do passado e pregou diálogo. Quanto à Guerra da Ucrânia, Sullivan fez uma análise do conflito, das dificuldades e disse que os EUA desejam a paz.

Houve ainda, segundo Amorim, uma comparação entre trumpismo e bolsonarismo —em referência a movimentos de apoiadores do ex-presidente dos EUA Donald Trump e do atual presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL)—, ao se discutir a necessidade de reforço à democracia. Conforme o relato, Sullivan destacou a importância das eleições brasileiras para a democracia no país, na região e no mundo.

Lula ainda teria dado "muita ênfase" à necessidade de uma nova governança mundial, mencionando o Conselho de Segurança da ONU.

Amorim ressaltou que Sullivan "teve a iniciativa" de recordar que o Brasil presidirá o G20 em 2024. "Demonstrou interesse em cooperar para fazer do G20 também um instrumento importante de uma governança global e mais justa", disse. Segundo o ex-ministro, Lula manifestou interesse em fortalecer o Mercosul e as instituições sul-americanas, mencionando a importância da Unasul.

A reunião contou também com a presença do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), integrante do grupo técnico de economia da transição e cotado para assumir o Ministério da Fazenda, e o senador Jaques Wagner (PT-BA). Do lado americano, estiveram o diretor-sênior para o hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional, Juan González, que cuida de assuntos ligados à América Latina, Ricardo Zúniga, secretário-adjunto de hemisfério Ocidental no Departamento de Estado e ex-cônsul em São Paulo, e o encarregado de negócios da embaixada americana no Brasil, Douglas Koneff.

O encontro com o emissário de Biden já havia sido anunciado pelo presidente eleito na sexta (2). Na ocasião, Lula afirmou que acertaria os detalhes de sua ida aos EUA, mas que a eventual viagem só aconteceria após a sua diplomação, no dia 12.

O petista recebeu a comitiva americana nesta segunda no hotel onde está hospedado em Brasília, durante as atividades do gabinete de transição. O encontro durou quase duas horas. Mais cedo, uma equipe do esquadrão antibomba da Polícia Federal fez uma varredura no local, um procedimento de rotina.

Antes de conversar com Lula, Sullivan se encontrou com Wagner. Ainda nesta segunda, ele se reuniu com o almirante Flávio Rocha, secretário especial de Assuntos Estratégicos do atual governo.

Em Washington, nesta segunda, a Casa Branca confirmou o convite para Lula. Segundo a porta-voz Karine Jean-Pierre, uma visita "é realmente importante" para Biden.

"Estamos trabalhando com membros do próximo governo Lula para nos reunirmos frente a frente nos altos níveis, para que possamos começar a todo vapor quando Lula se tornar o novo presidente em janeiro", disse. "Queremos começar esse relacionamento a todo vapor, importante para as relações bilaterais."

Em comunicado, a Casa Branca afirmou que no encontro Sullivan parabenizou Lula pela vitória na eleição. "Os líderes discutiram como os Estados Unidos e o Brasil podem continuar trabalhando juntos para resolver desafios em comum, incluindo o combate às mudanças climáticas, a salvaguarda da segurança alimentar, a promoção da inclusão, democracia e paz e estabilizar internacionais e o controle da migração regional."

Colaborou Thiago Amâncio, de Washington

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