Ataque a tiros deixa mais 2 feridos em Israel, e cresce temor de escalada de conflito

Adolescente palestino teria atirado em pai e filho horas após ataque a sinagoga deixar sete mortos no país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Duas pessoas ficaram gravemente feridas na Cidade Velha de Jerusalém neste sábado (28) em um ataque a tiros, informou a polícia de Israel. As vítimas são pai e filho.

O ataque ocorre menos de um dia após outro episódio semelhante em uma sinagoga de Jerusalém Oriental deixar ao menos sete mortos e outros três feridos na noite de sexta-feira (27) —o atirador foi morto, e cerca de 42 pessoas foram detidas para ser interrogadas.

Policiais de Israel nos arredores de local onde vítimas foram baleadas na Cidade Velha de Jerusalém - Ammar Awad/Reuters

As vítimas do ataque deste sábado teriam 22 e 47 anos. O filho é voluntário do serviço de emergência médica Magen David Adom, mas não estava trabalhando no momento, informou o Times of Israel. Ele e o pai, um ex-oficial do Exército, estão em estado grave, mas estável.

A polícia identificou o atirador como um menino palestino de 13 anos. Ele foi capturado pelos agentes e agora recebe tratamento em um hospital da região. Ainda segundo o Times of Israel, ele teria sido ferido por dois transeuntes que caminhavam armados.

Investigações apontam o jovem teve um irmão morto por soldados israelenses depois de atirar um coquetel molotov durante um protesto.

"Nossa resposta será forte, rápida e precisa", prometeu o premiê israelense, Binyamin Netanyahu. "Não estamos buscando uma escalada, mas estamos preparados para qualquer cenário."

O país ativou o nível de alerta nacional mais alto e reforçou a presença de agentes de segurança em Israel e na Cisjordânia após a sequência de ataques. O comissário de polícia Kobi Shabtai disse que uma equipe da unidade de contraterrorismo de elite Yamam foi enviada a Jerusalém.

Os ataques se dão em um momento de crescente tensão em Israel. A morte de ao menos dez palestinos na última quinta-feira (26) em ações do Exército de Israel, liderado pela coalizão política mais à direita que o país já viu, exacerbou a crise com a Palestina.

Horas após a ação, na madrugada de sexta, o país reportou o lançamento de foguetes da Faixa de Gaza e respondeu com uma série de ataques aéreos. O grupo Jihad Islâmica disse que a ofensiva levou a mensagem de que "o inimigo deve permanecer alerta, porque sangue palestino derramado custa caro".

Integrantes do Hamas têm adotado discursos semelhantes. Segundo Ismail Haniyeh, líder do grupo, a região está "caminhando para uma escalada sem precedentes". Jihad Islâmica e Hamas são considerados grupos terroristas por parte do Ocidente.

Autoridades de vários países condenaram o atentado na sinagoga na sexta. Neste sábado, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, manifestou solidariedade aos familiares das vítimas e informou que uma mulher ucraniana foi morta na ação.

"Os crimes foram cinicamente cometidos no Dia Internacional de Memória do Holocausto. O terror não deve ter lugar no mundo de hoje. Nem em Israel, nem na Ucrânia", escreveu Zelenski, que é judeu, em referência também à Guerra da Ucrânia. Uma das justificativas retóricas de Vladimir Putin para lançar a ofensiva em 24 de fevereiro foi a suposta desnazificação do país vizinho.

Ao visitar um hospital em Jerusalém que recebeu parte das vítimas, o ministro de Segurança Nacional israelense, o extremista Itamar Ben-Gvir, disse que buscaria aumentar o número de licenças de armas no país. "Quero armas nas ruas. Quero que os cidadãos possam se proteger."

No começo do mês, Ben-Gvir causou uma crise diplomática ao insistir em uma visita ao complexo religioso em Jerusalém —a área é considerada sagrada para os dois povos e tradicionalmente sensível para as relações Israel-Palestina. Dias depois, ele orientou a polícia do país a proibir o hasteamento de bandeiras palestinas em público.

Já o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, do Sionismo Religioso, disse que exigiria a aceleração dos planos para a construção de mais assentamentos israelenses na Cisjordânia — ele condicionou alguns controles sobre os assentamentos à participação na coalizão de Netanyahu.

O último ano foi o mais violento em Israel e nos territórios palestinos desde 2004, com cerca de 250 mortes de palestinos na Cisjordânia e 30 mortes de israelenses. Outros 49 palestinos morreram na Faixa de Gaza, em uma ação de três dias de bombardeios israelenses em agosto. Desde o início de janeiro, 31 palestinos foram mortos.

Diante da violência, a Autoridade Palestina anunciou que não vai mais cooperar com Israel em questões de segurança. Já Israel disse que o Exército realizou "uma operação antiterrorista" contra o grupo Jihad Islâmica, envolvido em vários ataques contra o país.

O deputado Mickey Levy, do partido centrista Yesh Atid, disse que a nova onda de violência o faz recordar a Segunda Intifada, na primeira metade da década de 2000, marcada pelo levante palestino contra autoridades de Israel e por episódios de violência que provocaram mortes dos dois lados. "O que aconteceu há 20 anos está começando a se repetir agora", disse Atid à AFP. "Temos que sentar, pensar como podemos avançar e parar esta situação."

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, deve chega à Cisjordânia neste domingo (29) em viagem com o objetivo de "reduzir as tensões" na região.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.