Ataque mata 7 em sinagoga de Jerusalém Oriental após acirramento de tensões em Israel

Região da Faixa de Gaza teve operações de lado a lado em resposta a ação em Jenin com palestinos mortos

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Jerusalém | Reuters

Um ataque a tiros em uma sinagoga em Israel deixou ao menos sete pessoas mortas e outras três feridas na noite desta sexta-feira (27), em um caso que deve aumentar ainda mais as tensões na região, já que se deu um dia após a morte de dez palestinos em ações do Exército israelense na Cisjordânia.

O ataque ocorreu no bairro de Neve Yaakov, em Jerusalém Oriental. De acordo com o jornal Times of Israel, o serviço de emergência foi chamado para atender ao menos dez vítimas no local. O atirador, segundo a polícia, foi morto.

Policiais isolam área após ataque a tiros em Jerusalém
Policiais isolam área após ataque a tiros em Jerusalém - Ahmad Gharabli/AFP

Testemunhas relataram que um homem chegou à sinagoga de carro e atirou de forma aparentemente indiscriminada às 20h15 no horário local (15h15 em Brasília). O ataque ocorreu logo após os fiéis assistirem a um serviço religioso pelo Dia Internacional de Lembrança do Holocausto —o encerramento da cerimônia coincidiu com o início do shabbat, dia de descanso semanal dos judeus. A polícia trata o caso como terrorismo.

O atirador foi identificado como Alkam Khairi, 21. Ele seria morador de Jerusalém Oriental e não há relatos de conexões prévias dele com movimentos extremistas. Investigações preliminares apontam que ele teria esperado do lado de fora da sinagoga até que as pessoas saíssem da celebração —há relatos contraditórios se ele teria entrado ou não no local.

Em dado momento, a arma travou ou ficou sem munição, e o homem, então, teria tentado fugir, mas foi capturado próximo ao bairro palestino de Beit Hanina. Segundo a polícia, houve troca de tiros. Uma pistola foi apreendida, e forças de segurança ainda realizam buscas por suspeitos que possam ter ajudado o atirador.

Imagens de redes de TV locais mostram vítimas caídas em frente à sinagoga e sendo atendidas por equipes de emergência. A polícia informou que entre os feridos estão uma mulher de 70 anos e dois jovens, de 20 anos e 14 anos —os três foram levados ao hospital em estado grave. Eles não tiveram a identidade revelada.

"Esse é um ataque sério e complexo", disse o chefe da polícia de Israel, Kobi Shabtai, citado pelo site Haaretz. Trata-se do ataque mais letal do tipo desde 2008, quando oito pessoas foram mortas em um atentado contra um seminário judeu, segundo a chancelaria de Israel.

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, e o ministro de Segurança Nacional, o extremista Itamar Ben-Gvir, visitaram o local do ataque. Eles afirmaram que uma reunião de segurança deverá ser convocada em breve. "O governo tem de responder [ao ataque]. Se Deus quiser, é isso que vai acontecer", disse Ben-Gvir.

O ataque se dá em um momento de crescente tensão em Israel. A morte de ao menos dez palestinos nesta quinta (26) em ações do Exército de Israel, liderado pela coalizão política mais à direita que o país já viu, exacerbou a crise com a Palestina. Nove pessoas foram mortas em uma operação militar no campo de refugiados de Jenin, no norte da Cisjordânia, e um décimo palestino foi morto em confronto registrado durante uma das manifestações devido às mortes.

A Autoridade Palestina —concebida como um governo de transição até o estabelecimento de um Estado— classificou a incursão de massacre e anunciou que não vai mais cooperar com Israel em questões de segurança. A cooperação, que já foi interrompida em outros momentos de crise, é considerada por muitos como responsável por manter certa estabilidade na Cisjordânia.

Já um porta-voz israelense disse que o Exército realizou "uma operação antiterrorista" contra o grupo Jihad Islâmica, envolvido em vários ataques contra o país. Jihad Islâmica e Hamas são considerados grupos terroristas por parte do Ocidente.

Em comunicado, o cônsul-geral de Israel em São Paulo, Rafael Erdreich, disse que, "dada a incapacidade da Autoridade Palestina de exercer ordem no campo de refugiados de Jenin, o local é, há muito tempo, uma 'terra de ninguém' controlada pelas organizações terroristas islâmicas mais extremistas". Segundo o diplomata, membros do Jihad Islâmica organizavam um ataque terrorista contra civis —ele admitiu que, na reação israelense, "infelizmente uma mulher palestina foi morta acidentalmente".

O governo brasileiro, em nota, expressou condolências aos parentes das vítimas, solidariedade ao povo e ao governo da Palestina e disse que acompanha os últimos acontecimentos com preocupação, reiterando "o compromisso com a solução de dois Estados".

Na madrugada desta sexta, Israel reportou o lançamento de foguetes da Faixa de Gaza e respondeu com uma série de ataques aéreos. O grupo Jihad Islâmica disse que a ofensiva leva a mensagem de que "o inimigo deve permanecer alerta, porque sangue palestino derramado custa caro".

Em Gaza, houve tiros para o alto em comemoração ao ataque desta sexta na sinagoga. "Essa operação é uma resposta ao crime conduzido pela ocupação em Jenin e uma resposta natural às ações criminosas da ocupação", disse Hazem Qassem, porta-voz do Hamas, sem reivindicar autoria pelo ataque.

Mohammed Hamada, também porta-voz do Hamas, disse que o grupo saúda o ataque, que representaria uma resposta natural aos "ataques contra a mesquita Al-Aqsa". No começo do mês, o ministro extremista Ben-Gvir causou uma crise diplomática ao insistir em uma visita ao complexo religioso em Jerusalém —a área é considerada sagrada para os dois povos e tradicionalmente sensível para as relações Israel-Palestina.

Nos EUA, O Departamento de Estado americano condenou o que chamou de "aparente ato terrorista" em Jerusalém. "[O ataque] é absolutamente horrendo", disse o porta-voz Vedan Batel. "Estamos em contato direto com nossos parceiros israelenses e nos solidarizamos com o povo israelense".

Sem entrar em detalhes, Batel informou que o cronograma da visita a Israel e à Cisjordânia do chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, deverá ser alterado devido ao episódio na sinagoga. A viagem, prevista para os próximos dias, tem o objetivo de "reduzir as tensões" na região.

A ONU, por meio de um porta-voz do secretário-geral, António Guterres, se disse preocupada com a escalada de tensões na região e pediu moderação aos dois lados. Os Emirados Árabes, que passam por um processo de normalização das relações diplomáticas com Israel, também condenaram a ação.

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