Polícia do Haiti se junta a manifestantes, e ato invade aeroporto e ataca casa do premiê

Protesto se deu em represália a série de assassinatos de agentes por membros de gangues, que dominam boa parte do território

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Porto Príncipe | Reuters e AFP

Em meio ao agravamento da violência causada por gangues no Haiti, policiais se uniram a manifestantes em grandes atos nesta quinta-feira (26). Em protesto contra o assassinato de ao menos seis agentes numa delegacia de Liancourt atacada por criminosos, os grupos levaram a capital do país a um dia de caos.

Vias importantes de Porto Príncipe foram bloqueadas com barricadas, e o aeroporto Toussaint Louverture, o principal do país, teve a pista invadida, interrompendo pousos e decolagens por algum tempo. Manifestantes à paisana, que se identificaram como policiais, chegaram ao terminal depois de terem atacado a residência oficial do primeiro-ministro, segundo uma testemunha relatou à agência de notícias Reuters.

Motociclistas próximos de pneus incendiados durante protesto em Porto Príncipe, no Haiti
Motociclistas próximos de pneus incendiados durante protesto em Porto Príncipe, no Haiti - Richard Pierrin/AFP

Ariel Henry não estava no local, mas voltou nesta quinta ao Haiti, após uma viagem à Argentina, na qual participou da cúpula da Celac. O político ficou temporariamente sem conseguir sair do aeroporto, mas ao fim pôde retornar para casa —não sem ser seguido por manifestantes. Uma pessoa presente no momento disse à Reuters ter ouvido uma série de disparos perto da residência oficial.

A Polícia Nacional do Haiti e o gabinete do primeiro-ministro não responderam a pedidos de comentários.

Um vídeo da imprensa local mostrou um grupo de homens, alguns com camisas com a inscrição "polícia", discutindo com agentes uniformizados no aeroporto. Depois, eles prosseguem sem qualquer resistência para entrar na pista.

O governo das Bahamas relatou que seu encarregado de negócios no país foi parado por manifestantes e teve roubados o carro e armas de seus seguranças. A chancelaria afirmou que todos os diplomatas estão em segurança, mas orientou cidadãos a deixarem o Haiti assim que houver condições de segurança.

Estradas ao redor de Porto Príncipe e em várias cidades do país, especialmente na região norte, também sofreram bloqueios.

O grupo haitiano de direitos humanos RNDDH disse em comunicado que 78 policiais foram mortos desde que Henry chegou ao poder, em julho de 2021 —o premiê assumiu após o assassinato do então presidente, Jovenel Moïse. Para a ONG, o político e o chefe da Polícia Nacional, Frantz Elbe, são "responsáveis por cada uma das vidas perdidas", na média de cinco por mês.

"A história vai lembrar que eles não fizeram nada para preservar a vida desses agentes que serviam ao país", diz o texto, que pede à polícia que se lembre do dever de proteger o povo, "apesar de suas frustrações".

Desde o começo do ano, 14 agentes foram mortos por membros de gangues, segundo o sindicato das forças de segurança. Só na semana passada houve dois casos de grande repercussão. Em um, o grupo Vitelhomme assassinou quatro policiais. Outro foi o da delegacia de Liancourt, onde criminosos do grupo Savien mataram dois agentes e renderam outros quatro, depois levados para um campo e executados.

O Haiti, país mais pobre das Américas, vive uma espiral de crises ininterruptas, que se acumulam em camadas sociais, políticas, econômicas e humanitárias. A ação de gangues, que na prática detêm o controle de boa parte do território, está ligada a boa parte dessas questões.

Em 2022, a ONU registrou 1.359 sequestros no país —ações usadas para financiamento— e mais de 2.000 assassinatos. A entidade avalia o envio de uma força colegiada estrangeira para enfrentar as gangues, mas até aqui nenhum país se ofereceu para liderar a missão, e mesmo no Haiti houve manifestações de oposição à ideia —em parte devido à experiência, mal sucedida em muitos pontos, da Minustah, cuja tropa era comandada por militares brasileiros.

O governo da vizinha República Dominicana manifestou nesta sexta (27) "profunda preocupação" com a violência registrada e disse que estuda medidas para "manter a segurança e a paz" na fronteira.

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