Israel mata 10 palestinos na Cisjordânia e ameaça trégua com Jihad Islâmica

Ministério da Saúde da Palestina afirma que ações elevam número de mortos por Tel Aviv na região a 30 em 2023

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jenin (cisjordânia) | Reuters e AFP

A morte de ao menos dez palestinos em ações do Exército israelense nesta quinta-feira (26) exacerbou a crise entre Israel e Palestina e fez crescer o temor de um conflito mais amplo por parte da comunidade internacional.

Nove pessoas, incluindo dois civis, foram mortas em uma operação militar no campo de refugiados de Jenin, no norte da Cisjordânia. Tel Aviv, que vem fazendo incursões cada vez mais frequentes à área desde o ano passado, afirma ter enviado suas forças especiais para deter membros do grupo Jihad Islâmica suspeitos de envolvimento em uma série de ataques terroristas.

Palestinos carregam corpo de pessoa morta durante incursão do Exército de Israel a campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia - Jaafar Ashtiyeh/AFP

As tropas teriam adentrado fundo no campo, algo incomum em operações do tipo, e trocado tiros com militantes do Jihad Islâmica, do Hamas e do braço armado do Fatah, facção do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. Jihad Islâmica e Hamas são considerados grupos terroristas por diversos países ocidentais. Segundo a ONU, nunca houve um número tão alto de mortes em uma única operação na Cisjordânia desde o início da série histórica, em 2005.

Os enfrentamentos levaram a um cenário de destruição, com carros capotados e um prédio de dois andares reduzido a destroços. Motivaram ainda protestos por parte dos moradores de Jenin, que lançaram bombas improvisadas e pedras contra as tropas israelenses —imagens mostram uma multidão acompanhando os corpos das vítimas sendo levados para o local do enterro.

Segundo a agência de notícias Wafa, um décimo palestino foi morto a tiros por forças israelenses em confronto registrado durante uma das manifestações que eclodiram em Al-Ram, no centro da Cisjordânia, devido às mortes em Jenin.

As ações elevam a 30 o número de vítimas na região pelas forças de Tel Aviv desde o início do ano, segundo o Ministério da Saúde palestino. A pasta ainda acusou as tropas israelenses de terem lançado deliberadamente granadas de gás lacrimogêneo na ala pediátrica de um hospital, o que teria causado asfixia em algumas crianças. "A operação ocorreu relativamente perto de um hospital, e é possível que o gás tenha entrado por uma janela aberta", declarou um porta-voz do Exército de Israel à agência AFP.

Depois do incidente, a Autoridade Palestina —concebida como um governo de transição até o estabelecimento de um Estado— afirmou que encerraria sua parceria com Israel na área da segurança. A cooperação, que já foi interrompida em outros momentos de crise, é vista por muitos como responsável por impedir ataques contra Tel Aviv e manter certa estabilidade na Cisjordânia

Já o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, afirmou publicamente que Israel não deseja uma escalada da situação. Ao mesmo tempo, ordenou que os vários setores das forças de segurança se preparem para todos os cenários possíveis. Não houve registros de baixas israelenses, mas na madrugada de sexta (27), ainda noite de quinta no Brasil, as defesas antiaéreas do país abateram ao menos dois foguetes lançados da Faixa de Gaza —sirenes de alerta chegaram a soar no sul do país.

Na sequência, o Exército informou que revidou, lançando ao menos 15 mísseis em Gaza, com campos de treinamento do Hamas como alvos. Ninguém ficou ferido, segundo relato de moradores à agência AFP.

A ONU e mediadores de países árabes dizem estar em diálogo com ambos os lados para tentar acalmar os ânimos. Os EUA, que patrocinam uma negociação há muito aguardada para a criação de um Estado palestino autônomo, anunciaram que o responsável pela política externa, Antony Blinken, estará na região entre domingo e terça para discutir o tema com líderes dos dois territórios —a visita, que inclui uma passagem pelo Egito, também visa a conversar sobre a Guerra da Ucrânia com dirigentes regionais.

O episódio ainda levou o Jihad Islâmica a ameaçar o fim da trégua negociada com Tel Aviv em 2022. "O que está acontecendo em Jenin é uma guerra de Israel contra o povo palestino", afirmou um porta-voz do grupo. "Se continuar, pode não se limitar só a Jenin."

Uma autoridade do Hamas, Saleh Al-Arouri, engrossou o coro, dizendo, em nota, que uma resposta armada não tardaria. Enquanto isso, o governo palestino descreveu a ação israelense como "massacre conduzido em meio a um inquietante silêncio internacional".

Um consenso parece, porém, cada vez mais longínquo. Em meio ao aumento das tensões na Cisjordânia e a um impasse de quase uma década nas negociações para a criação de um Estado palestino, o Hamas e o Jihad Islâmica, que se negam a reconhecer a existência de Israel, vêm ganhando apoio. Do outro lado, o novo governo israelense, de ultradireita, tem muitos membros que se opõem à autonomia da Palestina.

Afora Netanyahu, aliás, autoridades de Tel Aviv não deram indicações de que estão em busca de trégua. O extremista Itamar Ben-Gvir, ministro de Segurança Nacional, aplaudiu a atuação do Exército do país e disse que "qualquer terrorista que tente nos prejudicar deve entender que está fadado a perder sangue".

Desde que assumiu, o mesmo Ben-Gvir já causou uma crise diplomática ao insistir em uma visita ao complexo da mesquita Al-Aqsa, em Jerusalém, área sagrada para os dois povos e tradicionalmente sensível para as relações entre Israel e Palestina, e proibiu o hasteamento de bandeiras palestinas em público.

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