Câmara dos EUA aprova investigação sobre suposto aparelhamento no governo Biden

Com maioria republicana na Casa, parlamentares decidem apurar acusação de interferências em agências de segurança

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São Paulo

Com maioria republicana desde a posse do novo Legislativo, na semana passada, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou o início de investigações sobre supostos aparelhamento em agências federais no governo Joe Biden e irregularidades em transações financeiras envolvendo a família do presidente.

A chamada Subcomissão Selecionada para Instrumentalização do Governo Federal foi aprovada nesta terça (10) por 221 votos a 211 —todos os democratas presentes votaram contra o projeto. O grupo será presidido pelo deputado republicano Jim Jordan, aliado do ex-presidente Donald Trump.

O deputado republicano Jim Jordan durante sessão de comitê da Câmara que apura o 6 de Janeiro
O deputado republicano Jim Jordan durante sessão de comitê da Câmara que apura o 6 de Janeiro - Tasos Katopodis/Getty Images/AFP

O comitê terá a função de investigar supostas interferências do governo Biden em agências federais de segurança, além do uso político do Departamento de Justiça. Republicanos alegam que a equipe do atual presidente tem agido em todas "as esferas do poder" para punir e silenciar agentes conservadores.

O grupo terá atuação semelhante à comissão que apurou a invasão do Capitólio no 6 de Janeiro. No mês passado, o comitê formado por nove deputados, incluindo dois republicanos, pediu o indiciamento de Trump em ação quase simbólica —o grupo em si não tem poder de conduzir um processo na Justiça.

Segundo o jornal americano The New York Times, o comitê criado nesta terça terá autoridade para obter alguns dos segredos mais sensíveis do governo, incluindo informações sobre ações que geralmente são temas exclusivos das comissões de inteligência do Congresso.

Ainda não se sabe quantos ou quais parlamentares formarão o órgão. Em discurso no plenário, Jordan disse que o objetivo do grupo não é atingir democratas ou policiais que investigam Trump, mas defender a Constituição num momento em que, segundo ele, o direito dos americanos tem sido violado com "decisões injustas". "Não queremos ir atrás de ninguém", disse.

Em agosto, agentes do FBI, a polícia federal americana, fizeram uma operação para recuperar documentos confidenciais retirados da Casa Branca em uma casa de Trump no resort de Mar-a-Lago, na Flórida. O republicano reagiu dizendo que a ação, sem precedentes na história recente dos EUA contra um ex-presidente do país, teve motivação política. Em outra frente, Trump é investigado criminalmente por envolvimento nos eventos que levaram ao ataque de 6 de Janeiro. Como parte da apuração, o Departamento de Justiça passou a ouvir pessoas próximas ao republicano como testemunhas.

Nos últimos dias, aliados de Trump passaram a cobrar investigações também contra Biden. Na segunda (9), advogados do democrata anunciaram a descoberta, em um escritório particular, em Washington, de documentos confidenciais do período em que o atual presidente foi vice de Barack Obama (2009-2017).

O anúncio sobre os arquivos de Biden possibilitou comparações com o caso Trump, e a Casa Branca passou a defender que os contextos são diferentes —a descoberta dos documentos relacionados ao democrata não se deveu a nenhuma solicitação anterior e não houve qualquer resistência para recuperar os documentos confidenciais, diferentemente do que ocorreu com o ex-presidente.

Antes da votação, a Casa Branca se manifestou repudiando o texto.

"Os republicanos da Câmara continuam a se concentrar em lançar golpes políticos partidários conduzidos pelos membros mais extremistas do MAGA [sigla para 'faça a América grande de novo', slogan usado por Trump], em vez de se juntar ao presidente para enfrentar as questões que mais preocupam o povo americano, como a inflação", disse o porta-voz da Casa Branca, Ian Sams.

Em outra frente contra Biden, os republicanos da Câmara anunciaram a abertura de outra investigação para apurar transações financeiras feitas por membros da família do presidente. Segundo os parlamentares, serão analisadas operações suspeitas.

"Agora que os democratas não têm mais um governo de partido único em Washington, a supervisão e a responsabilidade estão chegando", disse em comunicado o deputado republicano James Comer, presidente do Comitê de Supervisão da Câmara.

Ele disse que comitê do qual preside enviou uma série de cartas ao Departamento do Tesouro americano solicitando detalhes sobre as transações. O deputado, porém, não disse quais operações são suspeitas e, ao menos por ora, não há qualquer evidência de má conduta.

As investigações contra Biden foram as primeiras aprovados sob a liderança na Câmara do deputado republicano da Califórnia Kevin McCarthy, 57. Ele foi eleito presidente da Casa na madrugada de sábado (7), após um impasse que não era visto havia 164 anos.

Os republicanos conquistaram a maioria na Câmara nas eleições de novembro. Com a nova configuração, Biden terá mais dificuldade para aprovar projetos caros à sua agenda, como pacotes de combate à crise do clima e controle do acesso a armas. Especula-se que outras comissões de investigação contra o governo federal sejam abertas. Podem ser apurados, ainda, o processo caótico de retirada das tropas americanas do Afeganistão e negócios suspeitos de Hunter Biden, filho do presidente.

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