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A China protestou contra as nações que decidiram impor regras para restringir o acesso de cidadãos chineses devido ao momento da pandemia no país.
Até o momento, EUA, Austrália, Reino Unido, França, Itália, Alemanha, Índia, Espanha, Japão, Coreia do Sul, Qatar e Canadá já anunciaram que vão exigir um teste negativo de Covid, e outros locais, como Taiwan e Marrocos, tomar outras medidas que afetarão todos os passageiros vindos da China continental.
Esses países alegam que a China não tem realizado adequadamente o monitoramento das variantes do coronavírus que circulam no surto da Covid em curso lá. O Ministério das Relações Exteriores chinês discorda das limitações.
"Não acreditamos que as medidas de restrição de entrada que alguns países adotaram contra a China sejam baseadas na ciência. Algumas dessas medidas são desproporcionais e simplesmente inaceitáveis. Rejeitamos firmemente o uso de medidas para fins políticos e tomaremos medidas correspondentes em resposta a situações variadas com base no princípio da reciprocidade", disse a porta-voz da pasta, Mao Ning, durante entrevista coletiva em Pequim.
Enquanto isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) cobrou mais transparência da China em relação aos números do surto de Covid. O órgão afirma que acessou os dados chineses e disse acreditar que Pequim não está apresentando o quadro real da doença.
O diretor de emergências da entidade, o médico irlandês Mike Ryan, afirmou à imprensa que os números disponibilizados até agora "sub-representam o impacto real da doença em termos de internações hospitalares, em UTIs e, particularmente, em termos de mortes".
Por que importa: Com base nas projeções de infecções diárias e análises de especialistas, é possível dizer que a China não está reportando em sua totalidade o cenário provocado pelo vírus no país neste momento. Como a capacidade de testes também foi muito reduzida, o monitoramento de possíveis novas variantes foi comprometido.
Contudo, é difícil entender como a exigência de testes de Covid de viajantes vindos da China pode frear o avanço de uma potencial variante chinesa no resto do mundo, visto que a maioria dos países abandonou medidas efetivas de controle da doença. Considerando o tempo de incubação do vírus, também é possível que alguém com teste negativo no momento do embarque só detecte a Covid quando já estiver em outro território.
Não por acaso, várias entidades americanas têm rechaçado a medida, afirmando que ela pode servir de combustível para grupos de ódio contra asiáticos. Mas até o momento não há sinais de que esses países tenham a intenção de recuar de suas decisões.
o que também importa
A Sinovac, farmacêutica que desenvolveu a vacina Coronavac, anunciou o desenvolvimento de um spray nasal com 80% de eficácia contra a Covid.
Segundo a empresa chinesa, milhares de profissionais de saúde foram recrutados para o estudo em Hohhot, na província da Mongólia Interior. Eles foram divididos em dois grupos: um com o imunizante e o outro só de controle, sem utilizar nenhum produto. Resultados preliminares apontaram que o uso do spray duas vezes por dia fez com que a chance de desenvolver a doença fosse cinco vezes menor do que entre membros do segundo grupo.
O produto contém um anticorpo conhecido como SA58, que seria eficaz até contra todas as subvariantes da ômicron conhecidas. Entre os efeitos adversos reportados estão coriza, ressecamento da mucosa e espirros, todos leves e de curta duração.
Diversas empresas vêm desenvolvendo vacinas nasais, que, caso passem por todas as etapas de validação, podem estimular a produção de anticorpos na mucosa das vias aéreas superiores e impedir que a doença se desenvolva no pulmão. A China é o único país a usar esse tipo de imunizante em larga escala até o momento —no caso, o fabricado pela Cansino, que recebeu a liberação para ser aplicado.
Depois de quase três anos, a China continental vai reabrir a fronteira com Hong Kong. O trânsito entre as duas regiões foi interrompido logo no início da crise sanitária, e agora o plano é autorizar que até 60 mil residentes do território (50 mil por postos de checagem terrestre e 10 mil por via aérea ou pela ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai) cruzem a fronteira a partir de 8 de janeiro.
Não será mais necessário fazer quarentena, mas os visitantes ainda precisarão ter um resultado negativo de um teste PCR dentro de 48 horas após chegar à China continental. Também será preciso apresentar reservas antecipadas para algumas viagens.
fique de olho
Anders Fogh Rasmussen, ex-secretário-geral da Otan, disse nesta semana que a aliança militar do Ocidente, liderada pelos EUA, precisa impedir que a China ataque Taiwan.
- O dinamarquês, que liderou a organização entre 2009 e 2014, está visitando por alguns dias a ilha considerada por Pequim uma província rebelde. Em seu discurso, Rasmussen defendeu que a Europa e os EUA não podem cometer com o líder chinês, Xi Jinping, os mesmos erros que tiveram na relação a Putin.
- "O mundo livre mostrou uma união impressionante em resposta à Guerra da Ucrânia. Temos certeza de que Xi Jinping está observando de perto. Qualquer tentativa da China de mudar o status quo em Taiwan pela força deve desencadear uma resposta igualmente unificada, e devemos deixar isso claro para a China."
Ele também pediu que "líderes europeus se comprometam publicamente a cortar o acesso da China à economia global se houver um movimento [hostil] contra Taiwan".
Por que importa: A Otan foi concebida após a Segunda Guerra Mundial para fazer frente à Rússia e tem como pedra basilar o Artigo 5, um acordo de defesa mútua. A regra estabelece que um ataque contra um membro da aliança é um ataque contra todos, demandando envolvimento militar de todos os aliados.
A mudança gradual de foco da Rússia para a China representa uma má notícia para Pequim e pressiona o país asiático. A medida, contudo, pode fazer com que os chineses se aproximem ainda mais dos russos, com consequências militares imprevisíveis.
para ir a fundo
- A embaixada da China no Brasil começou a publicar uma série de vídeos no Instagram desmistificando como é estudar no país e explicando os processos de bolsa disponíveis. Em parceria com a consultoria educacional Xianzai, os vídeos podem ser acessados aqui. (gratuito, em português)
- Planeja viajar para a China em 2023? O governo do gigante asiático anunciou as novas regras de entrada no país, que deve reabrir as fronteiras na semana que vem. A atualização pode ser lida aqui. (gratuito, em português)
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